Promoção: campo de petróleo de R$ 33 bi sai por R$ 8,5 bi
Negociação comandada por Pedro Parente, homem de Temer na presidência da Petrobrás, entrega o primeiro campo de pré-sal ao capital estrangeiros
Escrito por: Luiz Carvalho
Sem números convincentes para comprovar a mágica que iriam promover para tirar o país da crise, o golpista Michel Temer (PMDB) busca cumprir a receita de vender patrimônio para fazer caixa. O problema é que a fórmula, fracassada nos anos 1990, tende a comprometer ainda mais o futuro do país.
No último dia 28, o Conselho de Administração da Petrobras aprovou a venda da participação no bloco exploratório BM-S-8 para a sueca Statoil Brasil Óleo e Gás por US$ 2,5 bilhões (R$ 8,5 bi) em mais um passo do plano de desinvestimento e sucateamento da companhia.
A área de Carcará, na Bacia de Santos, comprovadamente de alta produtividade, foi o primeiro campo de pré-sal negociado e tinha como operadores do consórcio Petrobras (66%), Petrogal Brasil (14%), Barra Energia do Brasil Petróleo e Gás (10%) e Queiroz Galvão Exploração e Produção S.A. (10%).
A justificativa para a negociação, segundo o atual diretor financeiro da empresa brasileira, Ivan Monteiro, foram os “elevados investimentos que o bloco demandaria até 2020”, quando começaria a funcionar.
A FUP (Federação Única dos Petroleiros) avalia a negociação como um desastre. Para a organização, ainda que o campo vendesse o barril a US$ 50 dólares, preço do mercado atual em baixa, a expectativa de lucro seria de US$ 5 dólares, já que a Petrobras conseguiu atingir o patamar de custo de US$ 8, muito abaixo da média mundial (US$ 15).
Estima-se que a reserva tivesse em torno de dois bilhões de barris de óleo recuperável, portanto, um lucro de US$ 10 bilhões (R$ 33 bilhões). Para a Petrobras, parte principal no consórcio, caberiam US$ 6,7 bi (R$ 22 bi).
Segundo o coordenador-geral da FUP, José Maria Rangel, o verbo ‘vender’ deve ser substituído por outro mais adequado nessa negociação.
“O verbo que deve ser usado é doar. Com o desaquecimento da atividade de óleo e gás do mundo, todas as operadoras tiveram de refazer seu plano de investimento, porque o petróleo caiu de US$ 140 para US$ 50 e chegou a bater US$ 20 o barril. Muitas estão colocando ativos à venda e, quando você tem oferta muito grande, o preço cai e você tem hoje US$ 1 trilhão em ativos das operadoras, o que derruba o preço. O momento não é de vender, porque você corre o risco de entregar na bacia das almas, como comprova a negociação do campo de Carcará”, explica.
Preparar o terreno
Apesar de o campo de Carcará ser parte do pré-sal, foi leiloado em 1999 e estaria fora da lei de partilha (leia mais abaixo). Porém, a medida visaria preparar também o clima para a votação do projeto de retirada da Petrobras como operadora principal da riqueza.
O PL 4567/2016 (antigo PLS 131/2015, de autoria do senador José Serra (PSDB-SP), e que está prestes a ser votado na Casa), tira a obrigatoriedade da Petrobrás de ser a operadora única do pré-sal e a participação mínimo de 30% os campos licitados.
A alteração rasga o regime de partilha (lei 12.351/2010) aprovado durante o governo do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. O objetivo da medida era garantir que 50% do lucro com os royalties fossem destinados para um fundo social, de onde o governo tiraria recursos para aplicar em educação (75%) e saúde (25%).
“Em plena baixa do petróleo, o governo está fatiando a participação em petroquímicas e da BR Distribuidora. Isso é um erro básico de gestão”, disse.
Rangel refere-se à venda na participação da Companhia Petroquímica de Pernambuco (PetroquímicaSuape), na Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe), em nove campos de produção de petróleo e gás no Nordeste e o fatiamento de 2,5 mil km de gasodutos do Sudeste da BR Distribuidora.
“Os petroleiros já têm mobilizados as bases para impedir retrocessos, freamos a primeira tentativa de entrega do pré-sal e continuaremos em luta contra aqueles que um dia quiseram transformar a Petrobras em Petrobrax e estão de volta ao Planalto”, falou Rangel.