Quem foi Carolina de Jesus? Escritora dá nome a escola em nova série da Globo

A autora de grande relevância para a literatura nacional travou uma luta contra adversidades sociais e econômicas para ler e escrever

Estreia nesta terça-feira 8 a nova série da Rede Globo, Segunda Chamada. A obra vai retratar os desafios de quem não conseguiu trilhar uma vida de estudos regular, mas luta para retomá-la na fase adulta, como aluno da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na periferia de São Paulo. A trama vai se passar dentro da escola fictícia “Carolina Maria de Jesus”, em homenagem a uma das primeiras escritoras negras do Brasil. De grande relevância para a literatura nacional e autora do best-seller Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada, publicado em 1960, vendido em 40 países e traduzido para 16 idiomas, Carolina travou uma luta contra adversidades sociais e econômicas para aprender a ler e a escrever.

O percurso da autora foi improvável para uma menina negra, favelada e pobre, nascida de pais negros e analfabetos, em uma comunidade rural da cidade de Sacramento-MG, no dia 14 de março de 1914. Filha ilegítima de um homem casado, Carolina sofreu maus tratos ainda na infância. Teve contato com a escola aos sete anos de idade, porque sua mãe a colocou como criada da esposa de um fazendeiro rico. A vida escolar durou dois anos.

No período, a menina aprendeu o básico da língua, como codificar e decodificar as letras e assim, aos poucos, formando palavras, frases, decifrando parágrafos, aprendeu a ler e escrever.

Ela deixa a cidade natal após a morte de sua mãe, em 1937, e tem como destino São Paulo. Aos 33 anos, se muda para a favela do Caniné, zona norte da cidade, desempregada e grávida. No território, construiu sua própria casa juntando pedaços de pau, papelão, lata e madeira. Do catar papelão fez um ofício, de onde tirou o suado dinheiro para criar seus três filhos, o mais velho João José e outros dois, José Carlos e Vera Eunice.

Foi também nos papeis que recolhia que Carolina começou a registrar capítulos de sua vida na favela. Seus relatos de tristeza, emoções e enfrentamentos é que deram origem ao seu primeiro livro, Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada, graças ao apoio do jornalista Audálio Dantas, que foi ao local para fazer uma reportagem sobre o dia a dia em uma favela. Em sua incursão pelo território, conheceu Carolina e seus cadernos de anotações.

Com uma linguagem simples e contundente, a autora descortina os dias em uma favela de São Paulo, com críticas políticas e sociais. Os relatos tiveram que suportar de tudo um pouco. Enquanto alguns tiravam sarro da menina negra que sabia ler e escrever, outros voltavam sua ira contra a garota, justamente por terem sua vida registrada pela observadora.

Após a publicação e o sucesso do primeiro livro, a autora se muda para o bairro de Santana, bairro de classe média da zona norte da capital. Em 1963, publicou, por conta própria, o romance Pedaços de Fome e o livro Provérbios. Seus livros uniram conceitos até então amplamente antagônicos: favela e literatura. Sua narrativa é contestadora, jornalismo de denúncia de uma triste época de exclusão de minorias, foi e é representativa como escritura de mulheres e feminista. Também, como meio de denúncia da desigualdade social e do preconceito racial.

Em 1969, Carolina se muda para Parelheiros, uma região árida da Zona Sul de São Paulo, no pé de uma colina. O local era o mais próximo que Carolina poderia chegar do interior de sua infância sem deixar São Paulo e suas escolas públicas, para as quais seus filhos iam de ônibus.

A escritora faleceu em fevereiro de 1977, aos 62 anos, de insuficiência respiratória. Outras seis obras póstumas foram publicadas após sua morte, compiladas a partir dos cadernos e materiais deixados pela autora. Em 2017, sua história foi registrada por Tom Farias em Carolina – Uma Biografia, publicada pela editora Malê.

Carta Capital

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia também
Fechar
Botão Voltar ao topo