“Quem manda é quem paga”: alunos bolsistas denunciam discriminação sofrida por colegas da PUC-SP
Ofensas foram feitas pelas redes sociais em discussão sobre instalação de catracas na universidade
“Quem manda é quem paga, agradece a oportunidade aí e fica suave”, escreveu um estudante da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) a um colega bolsista da universidade.
A frase foi publicada como resposta a um comentário em uma página nas redes sociais em meio à discussão sobre a instalação de catracas nos portões do campus, situado em Perdizes, bairro da zona oeste de São Paulo.
Outras frases de cunho discriminatório foram endereçadas a estudantes bolsistas no mesmo post. “Não esqueça que alguém paga para você estudar na PUC”, disparou outro estudante.
“Você tem raiva porque você é dura, eu não tenho culpa nenhuma”, diz mais um comentário.
As ofensas continuaram sendo publicadas por outros colegas. “Eu não estou pagando 4.500 reais pra ter aulas com morador de rua”, chegou a dizer um aluno pagante.
Os comentários mencionados anteriormente são alguns exemplos das frases deixadas em um post da página “Spotted PUC SP”. O perfil existe há mais de dez anos com o intuito de promover encontros entre alunos da universidade, que manifestam interesse em seus colegas de forma anônima.
A publicação que gerou ataque aos estudantes bolsistas continha um agradecimento dos administrados da página à Fundação São Paulo, entidade mantenedora da PUC-SP.
Após a “Spotted PUC SP” denunciar alguns casos de furtos no campus, a instituição anunciou, no mês passado, que estuda instalar catracas nas entradas da unidade. Apesar de ser uma universidade privada, a PUC-SP mantém, até então, os portões abertos à comunidade.
A medida dividiu opiniões de alunos, professores e funcionários, gerou debates no campus, em grupos privados e nas redes sociais.
Debates sobre a instalação de catracas
A pauta das catracas, ainda em andamento, gerou desconforto em parte dos estudantes bolsistas, que argumentam que poderão ser, eventualmente, barrados na entrada da universidade caso não consigam se identificar como alunos, por exemplo.
De acordo com estes estudantes, o receio parte do contexto de discriminação e racismo presentes na sociedade, que muitas vezes reforçam estereótipos que associam a criminalidade e violência a uma raça/cor e até mesmo a uma determinada classe social.
Em contrapartida, há quem concorde com a instalação dos equipamentos. É o caso dos administradores da página “Spotted PUC SP”, que comemoram a novidade nas redes sociais.
“@fundacaosaopaulo Somos bons em cobrar, mas temos que agradecer pelas ações tomadas. Obrigado Fundasp”, disse a página em post do dia 27 de março.
Comportamento discriminatório foi denunciado
O “Coletivo Da Ponte Pra Cá”, grupo composto por alunos bolsistas da PUC-SP denunciou a página “Spotted PUC SP”, utilizada para veicular mensagens anônimas de alunos da faculdade, por causa dos comentários discriminatórios realizados por estudantes pagantes contra os alunos bolsistas.
O grupo organizou um relatório no qual reúne os comentários preconceituoso printados do Instagram.
Os comentários foram removidos pelos administradores da página, que não permitem mais interação na publicação referente às catracas.
A denúncia contra a página realizada pelo “Coletivo Da Ponte Pra Cá”, conta atualmente com a assinatura de 24 Centros Acadêmicos da universidade. Os estudantes enviaram o documento à Fundação São Paulo.
O que dizem os citados
Procurada pela CNN, a página “Spotted PUC SP” afirmou que não compactua com qualquer posicionamento de teor discriminatório ou ofensivo. Veja o posicionamento na íntegra:
“O Spotted PUC-SP não compactua com qualquer posicionamento de teor discriminatório ou ofensivo. Todos os comentários com esse teor são devidamente moderados. O Spotted sempre estimulou o diálogo e discussão dentro do campo democrático, onde todos têm voz com todos os temas que compõem o dia a dia do estudante, inclusive com o tema de catracas.
A proposta da catraca foi pautada na página por meio de enquete e a maioria se posicionou a favor com o objetivo de ser catraca inclusiva, que não barrasse pessoas e somente exigisse algum documento para entrada, dado os relatos que recebemos em relação à segurança nos arredores e dentro do campus, que vêm preocupando alunos e professores”.
Em nota, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo também se manifestou sobre o caso:
“A PUC-SP, na sua prática cotidiana, não compactua com discriminação de qualquer tipo. Essa questão figura no Estatuto e no Código de Ética da Universidade, que toda comunidade deve seguir.
A Instituição entende que qualquer pessoa que for testemunha ou alvo de um ato de discriminação deve procurar as autoridades competentes.
Afirmamos que a PUC-SP não tem nenhuma responsabilidade sobre o perfil privado e anônimo do Instagram @spottedpucsp”.
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