Recuo da produção industrial em junho é expressão da tragédia econômica neoliberal
Sob a hegemonia do neoliberalismo, restaurada pelo golpe de 2016 e fortalecido no desgoverno Bolsonaro, o Brasil oficial renunciou ao desenvolvimento e opta por charfurdar no pântano da estagnação, onde prospera a fome, a destruição de direitos, o subemprego e a barbárie política. As estatísticas sobre a evolução da produção industrial divulgadas nesta terça-feira (2) pelo IBGE retratam esta realidade deplorável. A indústria de transformação, que ainda é o setor mais dinâmico e produtivo das economias em todo o mundo, recuou 0,4% em junho e acumula queda de 2,2% no ano e 2,8% em 12 meses.
Em junho, de acordo com o Instituto, três das quatro grandes categorias econômicas e quinze dos 26 ramos pesquisados mostraram redução na produção. Com isso, o setor industrial ainda se encontra 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020) e 18,0% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011. Ou seja, o país caminhou como carangueijo e perdeu posições no ranking mundial das economias.
Um levantamento da agência de classificação de risco Austin Rating aponta que, entre as 15 maiores economias do mundo, o Brasil tem perdido posições desde o ano de 2017, quando estava em 8º lugar. De 2019 para 2021, foram quatro posições perdidas, passando da 9ª para a 13ª maior economia, sendo necessário lembrar que isto ocorre num quadro de estagnação geral das economias, em que o desempenho dos outros países em geral foi sofrível.
Em 2014 nosso país era dono da 10ª maior indústria do mundo. Recuamos para a 16ª posição. Apesar de representar 21% do PIB nacional, o setor é responsável pelo recolhimento de 33% dos impostos federais e por 31% da arrecadação previdenciária patronal. A qualidade do emprego no setor é, em geral, também maior do que na agropecuária, comércio e serviços.
A queda da produção industrial em junho interrompeu quatro meses seguidos de expansão, quando foi acumulada alta de 1,8%, ficando evidente que a frágil recuperação não passou de maais um breve voo de galinha. É relevante notar que entre as atividades que recuaram destaca-se a de produção de máquinas e equipamentos (-2%), que está diretamente associada ao comportamento dos investimentos produtivos, que por sua vez são o motor do crescimento.
O processo de desindustrialização vem de longe. Acompanha e de certo modo descreve a trajetória de degradação da economia nacional, traduzida entre outros indicadores pelo declínio da renda per capita (a década compreendida entre 2010 e 2020 registrou queda anual média de 0,6% na evolução do PIB per capita, conformando a nossa segunda década perdida), a estaganação da produção, o arrocho dos salários, a precarização do mercado de trabalho e desemprego e subemprego em massa.
A radicalização do processo de restauração neoliberal sob Bolsonaro – apimentada pela inflação, juros altos e instabilidade política e institucional -, aprofunda o abismo em que o país foi precipitado, aumenta a concentração da renda e favorece os interesses de rentistas e grandes investidores e empresas.
Leia abaixo a nota divulgada pelo IBGE sobre a produção industrial:
Em junho de 2022, a produção industrial nacional variou – 0,4% frente a maio, na série com ajuste sazonal. Em relação a junho de 2021, na série sem ajuste, a indústria recuou 0,5%. No primeiro semestre do ano, a indústria acumula queda de 2,2% e em 12 meses, o acumulado foi -2,8%.
Junho 2022/ Maio 2022 | -0,4% |
Junho 2022/Junho 2021 | -0,5% |
Acumulado no ano | -2,2% |
Acumulado em 12 meses | -2,8% |
Média móvel trimestral | 0,0% |
A produção industrial teve variação negativa de -0,4% em junho de 2022, interrompendo quatro meses seguidos de expansão, que acumularam alta de 1,8%. Em junho, três das quatro grandes categorias econômicas e quinze dos 26 ramos pesquisados mostraram redução na produção. Com isso, o setor industrial ainda se encontra 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020) e 18,0% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011.
Entre as atividades, as influências negativas mais importantes foram assinaladas por produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-14,1%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,3%), com ambas interrompendo os avanços registrados nos meses de abril e maio de 2022 e que acumularam crescimento de 5,3% e 5,0%, respectivamente. Outras contribuições negativas relevantes sobre o total da indústria vieram de máquinas e equipamentos (-2,0%), de metalurgia (-1,8%), de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-2,8%) e de outros equipamentos de transporte (-5,5%).
Por outro lado, entre as nove atividades em alta, veículos automotores, reboques e carrocerias (6,1%) e indústrias extrativas (1,9%) exerceram os principais impactos em junho de 2022, com a primeira intensificando o crescimento verificado no mês anterior (3,8%); e a segunda eliminando parte da queda de 5,7% observada em maio último.
Produção Industrial por Grandes Categorias Econômicas – Brasil – Junho de 2022 | ||||
Grandes Categorias Econômicas | Variação (%) | |||
Junho 2022/ Maio 2022* | Junho 2022/ Junho 2021 | Acumulado Janeiro-Junho | Acumulado nos Últimos 12 Meses | |
Bens de Capital | -1,5 | 0,2 | -0,9 | 7,0 |
Bens Intermediários | -0,8 | -1,8 | -2,1 | -2,6 |
Bens de Consumo | 0,4 | 1,5 | -3,3 | -6,0 |
Duráveis | 6,4 | 2,3 | -11,7 | -16,0 |
Semiduráveis e não Duráveis | -0,7 | 1,3 | -1,0 | -3,4 |
Indústria Geral | -0,4 | -0,5 | -2,2 | -2,8 |
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Estatísticas Conjunturais em Empresas *Série com ajuste sazonal |
Entre as grandes categorias econômicas, ainda em relação a maio de 2022, os bens de capital (-1,5%) tiveram a taxa negativa mais acentuada em junho de 2022, após subirem 7,5% em maio e caírem 8,0% em abril. Os setores produtores de bens intermediários (-0,8%) e de bens de consumo semi e não duráveis (-0,7%) também recuaram nesse mês.
Por outro lado, o segmento de bens de consumo duráveis (6,4%) apontou a única taxa positiva em junho de 2022 e intensificou o crescimento verificado no mês anterior (4,1%).
Média móvel trimestral teve variação nula no trimestre encerrado em junho
Ainda na série com ajuste sazonal, a média móvel trimestral da indústria mostrou variação nula (0,0%) no trimestre encerrado em junho de 2022 frente ao nível do mês anterior, após registrar taxas positivas em maio (0,4%) e abril (0,5%) últimos.
Entre as grandes categorias econômicas, ainda na série com ajuste sazonal, os bens de consumo duráveis (2,8%) assinalaram a taxa positiva mais elevada em junho de 2022 e intensificaram o ritmo de crescimento frente aos resultados de maio (1,9%) e abril (0,9%). O setor produtor de bens de consumo semi e não duráveis (0,7%) também mostrou avanço nesse mês, após assinalar variação negativa de 0,2% no mês anterior.
Por outro lado, os segmentos de bens de capital (-0,9%) e de bens intermediários (-0,5%) apontaram os resultados negativos em junho de 2022, com o primeiro eliminando parte do ganho de 3,4% registrado no período março-maio de 2022; e o segundo interrompendo a trajetória predominantemente ascendente iniciada em janeiro desse ano.
Frente a junho de 2021, a indústria recua 0,5%
Na comparação com junho de 2021, o setor industrial assinalou queda de 0,5% em junho de 2022, com resultados negativos em uma das quatro grandes categorias econômicas, 14 dos 26 ramos, 49 dos 79 grupos e 54,2% dos 805 produtos pesquisados. Vale citar que junho de 2022 (21 dias) teve o mesmo número de dias úteis do que igual mês do ano anterior (21).
Entre as atividades, as principais influências negativas no total da indústria foram registradas por indústrias extrativas (-5,4%), metalurgia (-8,3%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-19,6%), pressionadas, em grande medida, pela menor fabricação dos itens óleos brutos de petróleo e minérios de ferro, na primeira; ferronióbio, bobinas a frio e a quente de aços ao carbono, fio-máquina de aços ao carbono, vergalhões de aços ao carbono, arames e fios de aços ao carbono, tubos flexíveis e trefilados de ferro e aço e barras, perfis e vergalhões de cobre e de ligas de cobre, na segunda; e medicamentos, na terceira.
Vale destacar também as contribuições negativas assinaladas pelos ramos de produtos de minerais não metálicos (-6,9%), de produtos de metal (-6,0%), de outros produtos químicos (-2,6%), de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-6,3%), de produtos de borracha e de material plástico (-3,4%), de produtos têxteis (-8,3%), de produtos de madeira (-8,4%), de móveis (-9,3%) e de produtos diversos (-8,3%).
Por outro lado, ainda na comparação com junho de 2021, entre as 12 atividades em alta, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (8,6%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (5,9%) exerceram as maiores influências na formação da média da indústria, impulsionadas, em grande medida, pela maior produção dos itens óleo diesel, óleos combustíveis, naftas para petroquímica, querosenes de aviação e gasolina automotiva, na primeira; e automóveis e caminhão-trator para reboques e semirreboques, na segunda.
Outros impactos positivos importantes foram registrados por celulose, papel e produtos de papel (7,5%), couro, artigos para viagem e calçados (15,9%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (18,5%) e produtos alimentícios (1,0%).
Entre as grandes categorias econômicas, ainda no confronto com igual mês do ano anterior, os bens intermediários (-1,8%) assinalaram a única taxa negativa. Por outro lado, os setores produtores de bens de consumo duráveis (2,3%), de bens de consumo semi e não duráveis (1,3%) e de bens de capital (0,2%) apontaram os avanços nesse mês.
O setor produtor de bens intermediários caiu 1,8% em junho de 2022 frente a igual período de 2021, segunda taxa negativa consecutiva nessa comparação. O resultado desse mês foi explicado, principalmente, pelos recuos em indústrias extrativas (-5,4%), metalurgia (-8,3%), produtos de minerais não metálicos (-6,9%), produtos de metal (-6,6%), produtos de borracha e material plástico (-5,1%), outros produtos químicos (-2,5%), produtos têxteis (-8,1%) e produtos alimentícios (-0,7%), enquanto as pressões positivas vieram de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (11,9%), celulose, papel e produtos de papel (7,5%), veículos automotores, reboques e carrocerias (2,9%) e máquinas e equipamentos (0,2%).
Ainda nessa categoria econômica, vale citar as quedas em insumos típicos para construção civil (-7,3%), que marcaram o décimo recuo seguido nesse tipo de comparação; e de embalagens (-0,6%), que voltaram a mostrar perda após interromper em maio último (0,2%) onze meses consecutivos de queda na produção.
A produção de bens de capital teve variação positiva de 0,2% no índice mensal de junho de 2022, segundo resultado positivo consecutivo nesse tipo de comparação. O índice desse mês foi influenciado pela expansão observada na maior parte dos grupamentos, com destaque para bens de capital para equipamentos de transporte (4,1%), impulsionado, em grande parte, pela maior fabricação de caminhão-trator para reboques e semirreboques.
As demais taxas positivas foram em bens de capital para energia elétrica (22,0%), agrícolas (14,0%) e para construção (17,6%). Por outro lado, o principal impacto negativo foi assinalado pelo subsetor de bens de capital para fins industriais (-7,0%), pressionado pela menor produção de bens de capital seriados (-7,2%) e de não seriados (-6,3%). Vale destacar também o recuo de 9,0% verificado no grupamento de bens de capital de uso misto.
Ainda no confronto com igual mês do ano anterior, o segmento de bens de consumo semi e não duráveis cresceu 1,3% em junho de 2022, terceira taxa positiva consecutiva nesse tipo de comparação, mas a menos intensa dessa sequência. O desempenho positivo nesse mês foi explicado, principalmente, pela expansão observada nos grupamentos de semiduráveis (7,9%) e de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (2,0%).
Vale destacar também o resultado positivo assinalado pelo grupamento de carburantes (1,3%), influenciado pela maior fabricação de gasolina automotiva. Por outro lado, o grupamento de não duráveis (-4,3%) apontou a única taxa negativa nesse mês, pressionado, em grande parte, pelo recuo na produção de medicamentos.
O setor de bens de consumo duráveis avançou 2,3% em junho de 2022 frente a igual período de 2021, interrompendo, dessa forma, 11 meses consecutivos de taxas negativas nesse tipo de comparação. Nesse mês, o setor foi impulsionado, em grande medida, pela maior fabricação de automóveis (21,4%). Por outro lado, os principais impactos negativos vieram da menor produção de eletrodomésticos da “linha branca” (-11,8%) e da “linha marrom” (-9,2%). Vale citar também os recuos em motocicletas (-3,8%), outros eletrodomésticos (-36,7%) e móveis (-10,4%).
Todas as grandes categorias econômicas acumulam quedas no ano
O índice acumulado no primeiro semestre do ano, frente a igual período do ano anterior, caiu 2,2%, com resultados negativos em todas as quatro grandes categorias econômicas, 18 dos 26 ramos, 55 dos 79 grupos e 62,6% dos 805 produtos pesquisados.
Entre as atividades, as principais influências negativas no total da indústria vieram de veículos automotores, reboques e carrocerias (-5,4%), produtos de metal (-12,1%), produtos de borracha e de material plástico (-10,0%), indústrias extrativas (-3,3%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-14,6%).
Vale destacar também as contribuições negativas dos ramos de metalurgia (-5,4%), produtos têxteis (-15,3%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-9,1%), móveis (-19,8%), produtos de minerais não metálicos (-5,2%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-9,3%), produtos diversos (-7,0%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-5,0%) e de máquinas e equipamentos (-1,3%).
Ainda no acumulado do ano, entre as oito atividades em alta, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (10,3%) exerceu a maior influência, impulsionada pela maior produção dos itens óleos combustíveis, óleo diesel, gasolina automotiva, querosenes de aviação e naftas para petroquímica. Outros impactos positivos importantes vieram de bebidas (2,9%) e manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (5,9%).
Entre as grandes categorias econômicas, o perfil dos resultados para o primeiro semestre de 2022 mostrou menor dinamismo para bens de consumo duráveis (-11,7%), pressionada, em grande parte, pelas reduções verificadas na fabricação de eletrodomésticos da “linha branca” (-21,7%) e da “linha marrom” (-12,6%) e de automóveis (-7,0%). Os segmentos de bens intermediários (-2,1%), de bens de consumo semi e não duráveis (-1,0%) e de bens de capital (-0,9%) também assinalaram resultados negativos nos seis primeiros meses do ano, mas todos com recuos menos intensos do que o observado na média da indústria (-2,2%).