“Relações sexuais sadias são importantes para a vida de todas as pessoas”, diz Celina Arêas
A Agência Patrícia Galvão listou projetos em tramitação no Congresso Nacional que afetam a vida das brasileiras. De acordo com a agência são mais de 1.700 projetos sobre os direitos da mulher. Entre eles, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 181/2011, que pretende proibir o aborto até em casos de estupro.
“Não temos tempo a perder, 2018 será um ano de muitas lutas. Precisamos estar presentes em todas as frentes, levantando a bandeira da igualdade de gênero”, afirma Celina Arêas, secretária da Mulher Trabalhadora da CTB.
Há uma onda conservadora que avança sobre os direitos da mulher e pretende “torná-la um mero apêndice dos homens”, mas, complementa a sindicalista, “as mulheres mostram que não estão para brincadeira e lutam pela equidade nas ruas e nas redes”.
Arêas cita a polêmica que viralizou na internet sobre a questão do assédio sexual, por causa da manifestação das artistas norte-americanas na entrega do Globo de Ouro deste ano, nos Estados Unidos, no domingo (7), quando as hollywoodianas se vestiram de preto contra a prática do assédio sexual no trabalho delas.
Artistas francesas divulgaram um manifesto em repúdio à manifestação das norte-americanas. “Nós acreditamos que a liberdade de dizer não a uma proposta sexual não existe sem a liberdade de importunar. E consideramos que é preciso saber responder a essa liberdade de importunar de outra maneira que não seja se fechar no papel de presa”, dizem as francesas.
“Para mim, o manifesto das artistas francesas foi muito inoportuno porque nós temos que combater a ideologia do patriarcado que nos domina a séculos”, sintetiza Arêas. “Principalmente porque nenhuma mulher gosta de ser importunada e as questões da emancipação feminina vão muito além do assédio”.
Como afirmou Alexandra Kollontai, em seu livro As Relações entre os Sexos e a Luta de Classes (2011), “entre as múltiplas ideias fundamentais que a classe trabalhadora deve levar em conta em sua luta para a conquista da sociedade futura, deve estar, necessariamente, o estabelecimento de relações sexuais mais sadias e que, portanto, tornem a humanidade mais feliz”.
Para a revolucionária russa, é tarefa das mulheres trabalhadoras debater “o vital problema sexual” para combater a ideia burguesa de que essas são “questões puramente privadas”. Já Heloísa Buarque de Hollanda, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, disse ao jornal Folha de S.Paulo que “essas mulheres que dizem que fiu-fiu é legal são pessoas com o ponto de vista do privilégio, que têm carro blindado, guarda-costas, não conhecem a realidade barra pesada da maioria das mulheres”.
Arêas concorda com ela. “O essencial da luta pela emancipação é levarmos a informação para as trabalhadoras em todos os cantos deste país, mostrando que a vida pode e deve ser diferente, mostrando que não somos inferiores e muito menos merecemos apanhar seja por qual motivo for”.
A sindicalista mineira diz que “precisamos de mais mulheres nas instâncias de poder e a eleição de 2018 é essencial para corrigirmos essa lacuna”. Porque a bancada feminina corresponde a cerca de 10% do Congresso Nacional. “É essencial que os partidos tenham candidatas competindo em condições de igualdade com os homens”.
Para ela, “a questão do assédio sexual e moral é muito recorrente na vida das mulheres e só mudaremos essa realidade com muita persistência e coragem, mas também devemos lutar para termos salários iguais, divisão das tarefas domésticas e liberdade de decisão sobre as nossas vidas. Porque relações sexuais sadias são importantes para a vida de todas as pessoas”.