Resolução 14ª reunião da Direção Executiva Nacional da CUT

Retomar o protagonismo sindical da CUT, fortalecer a unidade entre os movimentos sindical e popular para derrotar Bolsonaro e sua política são as principais decisões da direção da Central

Reunida no dia 2 de dezembro de 2020, três dias após o 2º turno das eleições municipais, a Executiva Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT) debateu a conjuntura e adotou a seguinte resolução política.

As eleições municipais de 2020 foram palco de uma batalha entre defensores dos interesses do capital e do conservadorismo contra os setores progressistas e de esquerda que buscam representar os interesses da classe trabalhadora e da maioria oprimida de nosso povo. Uma batalha desigual, ainda mais nas condições da pandemia, em que grandes empresários financiaram campanhas dos partidos de centro, centro-direita, direita e extrema-direita, sempre com apoio e cumplicidade da mídia empresarial e golpista, que continua fazendo uma campanha permanente de desqualificação, calúnias e difamação contra os partidos e forças de esquerda.

Ainda assim, os partidos e forças de esquerda, conseguiram recuperar, manter ou ampliar sua base político-eleitoral, conquistando prefeituras e cadeiras nas Câmaras Municipais, aumentando o número de vereadores/as negros e negras, mulheres, jovens, sindicalistas e lgbtqi+ ligados a esse campo. Diferente do anunciado pela mídia, essas forças não acabaram nem foram destruídas e ainda são pontos de apoio importante para a mobilização e organização da classe trabalhadora. O PT e as forças de esquerda precisam, no entanto, enfrentar suas fragilidades e seguir adiante, com mais trabalho de base, mais atenção à periferia e com um programa nítido para superar a crise nacional e alicerçar a unidade do campo de esquerda.

Os adversários da classe trabalhadora e do povo, ainda que fragmentados em vários partidos, se saíram melhor que as candidaturas ligadas ao movimento popular e à luta dos trabalhadores. A direita tradicional neoliberal (PSDB/DEM e o chamado “Centrão” (PP, PSD, PSC, PL, Republicanos, entre outros) mantiveram o controle político em cidades importantes e aumentaram o número de prefeituras que comandam.

Os candidatos que buscaram representar o Bolsonarismo com nitidez ou apoiados pelo presidente nas eleições foram, via de regra, derrotados. Bolsonaro, que assumiu afirmando que ia destruir as forças de esquerda, não atingiu seu objetivo e sai desgastado da disputa. Há que se registrar também o recorde de abstenção, nulos e brancos (38% no geral, mais de 50% no Rio), que não se deve apenas à pandemia, pois ele vem crescendo desde pelo menos 2010, o que coloca em questão o sistema político vigente e seus vícios.

Mesmo considerando a importância e os impactos do resultado das eleições para a classe trabalhadora ela não altera isoladamente ou de imediato o cenário que a classe trabalhadora vem enfrentando no Brasil e no mundo.

A situação que vivemos é a expressão de que o sistema capitalista vive hoje sua maior crise estrutural de alcance mundial, que foi acelerada e demonstrada pela pandemia da COVID 19. Muitas mortes poderiam ter sido evitadas se os governos do mundo investissem mais em pesquisa e na saúde pública para atender com rapidez, eficiência e dignidade todas as pessoas contaminadas, especialmente a população mais pobre de cada nação.

No Brasil, a irresponsabilidade criminosa (e genocida) do governo Bolsonaro e seus aliados estaduais e municipais resultou em 173.817 mortes e 6.386.787 casos confirmados (segundo dados oficiais). São mortes que poderiam ter sido evitadas, se houvesse maior coordenação dos esforços sanitários de contenção do vírus através do isolamento social com a colaboração do governo federal e também com um maior investimento no Sistema Único de Saúde – SUS, base essencial para saúde e bem-estar da população.

Agora, vários estados e cidades se deparam com um aumento significativo no número de casos da doença, na ocupação dos leitos hospitalares e no número de mortes que tem, entre suas causas, processos inadequados de retomada das atividades.

O SUS e o poder público precisam de recursos humanos, materiais e financeiros para conter a circulação do novo coronavírus e para conduzir uma campanha eficaz de imunização com a iminente chegada de vacinas ao país. Precisa de coordenação uniforme, nacional, articulada. Tudo isso exige orçamento adequado. Os valores previstos para 2021 são menores do que os de 2020 – menos 40 bilhões de reais!

Além disso, vivemos o crescimento acelerado do desemprego, da precarização do trabalho, da retirada de direitos trabalhistas, das privatizações, apagão de energia no Amapá e riscos de novos apagões nos estados, desmonte dos serviços públicos, destruição do Pantanal e da Amazônia, do crescimento da exploração ilegal de madeira, de liberação de mais agrotóxicos, do crescimento do racismo, do machismo, do feminicídio, da lgbtfobia e a submissão completa do país aos interesses do imperialismo dos EUA.

A CUT seguirá cumprindo o seu papel como organização sindical, buscando mobilizar, com os cuidados que a pandemia impõe, a sua base em lutas e mobilizações e buscando a unidade entre as forças populares, progressistas e de esquerda para as próximas batalhas. Nesse sentido, a CUT considera fundamental fortalecer a unidade entre os movimentos sindical e popular, bem como buscar a unificação das iniciativas das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo.

As eleições são parte da conjuntura política nacional, mas o elemento decisivo para que a CUT possa ajudar na alteração da correlação de forças em favor dos trabalhadores é a mobilização. É preciso preparar as categorias e o conjunto da classe trabalhadora para enfrentar os desafios do próximo período, como o crescimento do desemprego, a alta do preço dos alimentos e do custo de vida, a nova onda de demissões e de precarização, combater para barrar a destruição dos serviços públicos e da soberania nacional com a “reforma administrativa” e as privatizações.

A luta é agora e exige o contínuo combate contra o desemprego e o trabalho precário que vem substituindo as ocupações perdidas. Exige a defesa da vida, como prioridade acima do lucro do capital, adotando todas as medidas necessárias à contenção do covid-19, incluindo a manutenção do auxílio emergencial de R$ 600 em 2021. Os trabalhadores não podem esperar pelas eleições 2022 para derrotar Bolsonaro e seu governo.

A CUT mantém sua posição de luta pelo fim do governo Bolsonaro, o quanto antes melhor, e é consciente que só o povo e classe trabalhadora, através de suas mobilizações, é que poderão abreviar esse governo desastroso. Vimos essa disposição de luta da juventude, na luta contra o racismo estrutural diante do assassinato do trabalhador negro João Alberto, num Carrefour de Porto Alegre.

A morte de João Alberto é o resultado de um crime bárbaro e de uma sociedade que esconde seu racismo histórico, cotidiano e violento contra a população negra. O racismo se expressa na vida, no trabalho e em todos os espaços do convívio social. É praticado por indivíduos, mas está enraizado na prática de empresas como o Carrefour, que já reincidiu em inúmeros episódios de racismo em suas lojas. A CUT se solidariza, mais uma vez, com a família de Beto e se coloca lado a lado com o movimento negro na luta contra o racismo estrutural. Estão em curso, por parte da central, inciativas no campo da denúncia internacional, das relações de trabalho e da negociação coletiva, da pressão para que o parlamento aprove legislações que coíbam esses crimes e para que o judiciário investigue e puna os culpados, principalmente, o grupo Carrefour.

Continuamos nas lutas, com esperança, ousadia e coragem para transformar o Brasil num país justo e democrático para a classe trabalhadora.

De imediato, a CUT convoca todas as entidades filiadas e ramos a somarem forças na agenda de luta em defesa dos Serviços Públicos, que prevê mobilização nacional em 10 de dezembro, e na luta contra a privatizações. Ambas as questões dizem respeito ao conjunto da classe trabalhadora, e não só aos servidores públicos dos três níveis e aos trabalhadores nas estatais, pois trata-se do direito do povo a mais e melhores serviços públicos e da defesa do patrimônio público contra a sua entrega a empresas privadas e multinacionais, sendo componentes, portanto, da luta por um Brasil livre e soberano.

Somos fortes, somos CUT!

Direção Executiva Nacional da CUT

CUT

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