Restauração de obras marca ato dos dois anos da tentativa golpista de 8 de Janeiro
Destaque fica para o quadro As Mulatas de Di Cavalcanti e o relógio Balthasar Martinot Boulle, que chegou ao Brasil pelas mãos de dom João VI em 1808
Nesta quarta-feira, 8 de janeiro, o Palácio do Planalto sediará uma solenidade em memória aos dois anos dos atos golpistas que abalaram o Brasil em 2023. O evento será uma celebração da democracia e incluirá a entrega de obras restauradas, simbolizando a recuperação do patrimônio cultural destruído na época. A programação contará com representantes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, além de um simbólico “Abraço da Democracia” na Praça dos Três Poderes.
Entre as obras de arte que integraram o trabalho de restauro estão uma ânfora portuguesa de cerâmica, uma obra em madeira, duas em metal, uma em papel e 15 telas. De acordo com o Executivo, o relógio Balthasar Martinot Boulle, que chegou ao Brasil pelas mãos de dom João VI em 1808, foi consertado na Suíça sem custo para o governo brasileiro.
Um laboratório foi instalado no Palácio da Alvorada para restauração de 20 obras. O restauro, que teve início ainda em janeiro de 2023, dias após os ataques, envolveu 22 profissionais, entre os quais professores do curso de Conservação e Restauração da UFPel, bolsistas de graduação e pós-graduação da universidade.
Ao longo de quase dois anos, o trabalho envolveu documentação científica das peças, limpeza, catalogação dos fragmentos, planejamento de montagem, colagem e reposição de pintura.
Ato dividido em quatro momentos
A cerimônia terá início às 9h30, com um total de quatro etapas:
- Restauração de Obras: Na Sala de Audiências do Palácio, será realizada a reintegração de 21 obras ao acervo da Presidência. Entre os destaques estão o relógio do século XVII e uma ânfora antiga, ambos vandalizados em 2023. O relógio simboliza a capacidade de reconstrução após os danos causados pelos atos golpistas.
- Descerramento de “As Mulatas”: O icônico quadro de Di Cavalcanti, também danificado em 2023, retornará ao terceiro andar do Palácio do Planalto, onde despacha o presidente da República. O descerramento da obra é um marco na recuperação simbólica do espaço público e cultural.
- Cerimônia com Autoridades: Às 11h, o Salão Nobre do Palácio do Planalto receberá representantes dos Três Poderes para uma cerimônia oficial. A presença de todo o ministério foi requisitada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, incluindo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que interromperá suas férias para participar do ato.
- Abraço da Democracia: Na Praça dos Três Poderes, autoridades e cidadãos realizarão um “Abraço da Democracia” em torno da palavra “Democracia”, escrita no chão da praça. Este gesto busca reafirmar o compromisso nacional com os valores democráticos.
De tarde, às 14h, o Supremo Tribunal Federal (STF) promoverá uma roda de conversa em memória ao 8 de janeiro com servidores e colaboradores que atuaram na limpeza e reconstrução das instalações depredadas, além da restauração das obras destruídas durante a invasão.
O vice-presidente do Supremo, no exercício da presidência, ministro Edson Fachin, abrirá o encontro. O magistrado também receberá, às 15h30, obras de arte, produzidas com destroços da invasão, de quatro artistas plásticos de Brasília.
No ano passado, o evento em memória do 8 de janeiro nomeado “Democracia Inabalada” foi realizado no Congresso Nacional e no Supremo Tribunal Federal (STF).
Contexto dos atos golpistas
Os eventos de 8 de janeiro de 2023 ocorreram após semanas de protestos de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Manifestantes invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília, resultando na prisão de 1.430 pessoas e em mais de 300 condenações pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Investigações subsequentes indicaram possíveis envolvimentos de Bolsonaro e de membros de seu governo em uma tentativa de golpe.
Avanço das investigações
A recente conclusão de um inquérito pela Polícia Federal resultou no indiciamento de figuras como o ex-presidente Bolsonaro, o ex-ministro Braga Netto e outros membros do governo anterior. O próximo passo é a avaliação da Procuradoria-Geral da República sobre o oferecimento de denúncia ao STF.
Significado cultural e político
A restauração das obras destruídas e os eventos planejados sublinham a resiliência das instituições democráticas brasileiras. Mais do que uma cerimônia, o ato simboliza a capacidade de reconstruir não apenas patrimônios materiais, mas também a confiança no Estado de Direito e na soberania popular.
Os gestos planejados nesta data têm a intenção de inspirar reflexão sobre os valores democráticos e reafirmar o compromisso coletivo com a preservação desses ideais, essenciais para o futuro do Brasil.