Reunião na Assembleia do RS discutirá nova roupagem do Escola sem Partido

Encontro será na próxima sexta-feira, 16, e avaliará denuncias de professores, estudantes, mães e pais sobre ações de movimento ideológico extremista que diz ser contra ideologia na escola

Representantes de entidades e movimentos vinculados à educação no Rio Grande do Sul se reúnem na próxima sexta-feira, 16, às 14h, na Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa (ALRS), para discutir o que acreditam ser uma nova roupagem do movimento Escola sem Partido e o Projeto de Lei que autoriza a instituição de escolas cívico-militares pelo governo do estado (PL 344/2023).

“Temos sido constantemente acionados para enfrentar ações de patrulhamento, censura e incitação ao ódio contra profissionais da educação no estado”, conta a deputada Sofia Cavedon (PT), presidente da Comissão de Educação.

Sofia se refere a ações da Frente Parlamentar contra a Doutrinação Ideológica no Ensino (FPDIE) que, no Rio Grande do Sul, é liderada pelo deputado estadual Capitão Martim (Republicanos).

Já presente em várias regiões do Brasil, a FPDIP foi criada pelo deputado federal goiano Gustavo Gayer (PL), que instalou o Instituto Nossos Filhos. Em cruzada contra o que chama de “doutrinação esquerdista” no ambiente escolar, o Instituto mantêm um site aberto para denúncias.

Propaganda da extrema-direita e escola sem partido

“Dizem que são contra doutrinação ideológica nas salas de aulas e defendem a escola cívico-militar, como se isto não fosse algo extremamente ideológico”, declara a deputada Sofia.

Ela acentua o que, na análise de professores, mães e pais comprometidos com um ensino de qualidade, trata-se na realidade de mais uma forma da extrema-direita brasileira de manter suas investidas contra a educação no Brasil e estar em evidência.

“A gente tem áudio de uma servidora aqui da Assembleia, assessora do capitão (Martim), orientando, dizendo nas rádios, como é que as pessoas obteriam provas para fazer denúncias”, critica Sofia.

A deputada se refere à Cláudia Frutuoso, coordenadora da FPDIE no RS. Atualmente trabalhando como assessora parlamentar, Cláudia já tentou, sem sucesso, ser eleita para mandatos de vereadora em Cachoeirinha e deputada federal pelo PPS, hoje Cidadania.

Cláudia é corretora de imóveis e marca presença ao lado de lideranças da extrema-direita gaúcha.

Um exemplo é o deputado federal Sanderson (PL). Em 2020, conforme registra o próprio deputado em suas redes sociais, ela o visitou com integrantes do Movimento Conservador Brasileiro, “apoiadores do presidente Jair Bolsonaro”.

Palanque de frustrados e a escola sem partido

Total alinhamento com as pautas da extrema-direita, apoio irrestrito à Bolsonaro, tentativas frustradas de eleição, cargos de assessoramento político e pouca ou nenhuma ligação com a educação são características cada vez mais identificadas nos núcleos da FPDIE até agora criados no RS.

Recém empossada como coordenadora em Lagoa Vermelha, Charise Bresolin não foge à regra.

Identificada como agricultora, Charise nas últimas eleições municipais tentou sem sucesso a vereança no legislativo de Lagoa Vermelha pelo então Democratas.

Em 2022, ela coordenou na cidade as campanhas Onyx e Bolsonaro e hoje ocupa o cargo de supervisora na Câmara de Vereadores do município.

Sua descrição nem sua página no Facebook, que é repleto de vídeos do ex-presidente, é explícita: “Cidadã lagoense, Conservadora, defendo Deus, Pátria, Família e Liberdade”.

Ministério Público

A deputada Sofia Cavedon revela que uma das questões que estará na pauta da reunião do dia 16 é uma possível representação no Ministério Público Federal (MPF).

“Creio que é do interesse do MPF identificar quem são essas pessoas, se eles têm relação com a educação ou não e tudo mais. Qual é a legitimidade que eles tem para fazer, instituir formas de controle sobre a escola”, conclui a presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa.

Quem é Gustavo Gayer

O deputado federal Gustavo Gayer, ideólogo da FPDIE e do Instituto Nossos Filhos, coleciona polêmicas e denúncias na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados.

Condenado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) por assediar trabalhadores nas eleições de 2022, Gayer é considerado um dos principais propagadores de fake news e discursos de ódio no parlamento.

Proprietário de um curso de inglês em Goiânia, ele recentemente encaminhou à Embaixada de Israel no Brasil uma listagem de professores e estudantes que, no seu entendimento, por serem contra a ação desproporcional do país contra a população palestina em Gaza, seriam apoiadores de terroristas do Hamas.

Em junho de 2023, Gayer, em uma entrevista, associou africanos a um baixo quociente de inteligência (QI) e afirmou que eles não têm “capacidade cognitiva” para viver em um regime democrático.

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