Revolta nas redes: Estudantes criticam notícias sobre o adiamento do Enem

Professores e estudantes também criticaram cortes nas universidades federais, afirmando que o objetivo do governo Bolsonaro é prejudicar o Enem e o acesso à universidade

O governo Jair Bolsonaro (ex-PSL), que promove um dos piores retrocessos à educação pública brasileira com o corte e bloqueio de verbas às universidades federais, também faz todo ano uma confusão com a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O exame de 2021 para 2022, que pode ou não ser adiado,  é a nova lambança do governo, que tem tirado o sossego de milhares de estudantes e jovens que planejam ingressar no ensino superior.

O ápice da crise ocorreu nesta quinta-feira (13), quando o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Danilo Dupas, admitiu o adiamento do Enem de 2021 para janeiro de 2022, em uma entrevista.

Procurado pela imprensa, Dupas negou a informação. No Entanto, nesta sexta-feira (14), o Ministério da Educação (MEC) admitiu em documento ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que a verba destinada o Enem de 2021 é insuficiente para aplicar a prova a todos os participantes.

O Enem, que é a principal porta de entrada para o ensino superior, atrai milhares de estudantes, principalmente de baixa renda que não tem dinheiro para pagar uma universidade, e claro, a notícia, revoltou milhares de brasileiros.

Os estudantes, indignados, protestaram no Twitter usando a hashtag #FicaENEM2021. Iago Montalvão, presidente da União nacional dos Estudantes (UNE), usou seu perfil na rede para criticar  a grande confusão provocada pelo governo Bolsonaro. Segundo o presidente da UNE, o objetivo do governo é prejudicar o Enem e o acesso à universidade federal.

“Quando o Enem precisava ser adiado em decorrência da pandemia, o MEC fez pouco caso, só adiou depois de muita pressão. Agora que já existe vacina, que precisamos acelerar a vacinação e garantir segurança para a prova em 2021 eles dizem não ter tempo e dinheiro. Absurdo!”, postou.

Para Iago, Bolsonaro tenta fazer com o MEC o que fez com o Censo do IBGE, cortando verbas para pesquisa. “Isso tem forte relação com a crise orçamentária na educação, a falta de prioridade de investimentos nessa área. Se não tem dinheiro para a educação vai ter para quê?”, questionou.

O professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Cara, também falou da medida que estaria sendo cogitada pelo governo Bolsonaro de adiar o Enem.

“A gestão bolsonarista do Enem comprova: o governo Bolsonaro sente ódio dos estudantes”, postou em seu perfil.

Já a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) relacionou o escândalo da compra de parlamentares com a alegada falta de verbas para fazer o Enem.

“Tem 3 bilhões para o #Bolsolão, mas não tem pra fazer o Enem em 2021 e nem pra vacina contra a Covid-19”.

Leia mais: Bolsolão: Bolsonaro criou esquema para comprar parlamentares, denuncia jornal

“O estudante brasileiro não tem um dia de paz. É quase 1 bilhão de cortes na rede federal, o anúncio de que não vai ter Enem em 2021”, postou a UBES.

Para a União da Juventude Socialista (UJS), “a não aplicação do Enem não é por falta de verbas ou tempo. É um projeto de desmonte do ensino público”.

Corte nas universidades federais

Os cortes de R$ 1 bilhão nos orçamentos das universidades federais podem atrasar o retorno das aulas presenciais, e  ameaçam até as pesquisas cientificas pelo país, como também bolsas de auxílio a estudantes de baixa renda que já estão sendo prejudicados com suas vagas cortadas.

Estima-se que a falta de verbas pode atingir cerca de 92 mil cientistas bolsistas, incluindo pesquisadores da Covid-19, médicos residentes e para livros didáticos. O orçamento do MEC para as universidades federais em 2021 teve redução de 37%, se comparadas às de 2010 corrigidas pela inflação.

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é uma das que já anunciaram que pode fechar as portas até o meio do ano por falta de verbas até para pagar as contas básicas.

Ao G1, o vice-reitor da UFRJ, Carlos Rocha, afirmou que “não dá para manter” o funcionamento com o orçamento destinado à instituição. Ele alerta para o risco de a instituição “fechar as portas” a partir de julho.

O reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Marcus David, também afirmou em entrevista em abril que “a ciência e a tecnologia acabaram”.

Universidade de Brasília (UnB) informou que o caixa de recursos para investimentos em 2021 está zerado e que só há recursos de custeio, que são as despesas obrigatórias.

Já em Mato Grosso do Sul, serão R$ 140,8 milhões a menos do que o previsto no orçamento aprovado para o Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

Na Universidade Federal de Goiás (UFG), o valor das bolsas foi reduzido para evitar deixar estudantes sem auxílio – o mesmo ocorreu na Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Universidade Federal de Juiz de Fora (FJF) reduziu o valor de bolsas de monitoria e extinguiu 869 auxílios.

Em Alagoas, UFAL também suspendeu bolsas de extensão.

Veja a repercussão:

CUT

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