Segundo dia de debates do Seminário de Etnia, Educação e Formação
O segundo e último dia de programação do Seminário de Etnia, Educação e Formação da CONTEE, que aconteceu no Rio de Janeiro/RJ, nos dias 8 e 9 de novembro, teve início com um painel de apresentação da campanha “Mulher Negra mostra a sua Cara!”, que faz parte do Projeto Literário Mulheres Bantas, capitaneado pela escritora Ana Cruz com apoio do Grupo Ágape na pessoa de sua representante, Dayse Marcello.
As parceiras dividiram a apresentação traçando linhas gerais do que é a campanha e como esta se estrutura, valorizando especialmente sua contribuição para o resgate das raízes da mulher negra, com o objetivo de gerar uma mudança de comportamento e um maior acesso das mulheres negras aos espaços de empoderamento. Empregando um exercício simples, testaram a percepção dos presentes de que ambientes considerados refinados são frequentados por uma elite branca e, assim, justificaram os objetivos traçados de “resignificar e lançar um novo olhar sobre o papel da mulher negra e desconstruir o imaginário dominante na sociedade e construir um novo, com uma identidade étnica cada vez mais positiva”, concluíram.
Vale ressaltar também que um dos pontos debatidos foi a necessidade de se criar politicas que assegurem de fato políticas públicas de inclusão, bem como a efetiva participação nos agentes que definem o projeto pedagógico da escola, reforçando nossa defesa da gestão democrática e da participação efetiva dos trabalhadores em educação de todo processo educacional.
A última mesa da programação foi, provavelmente, um dos momentos mais aguardados do Seminário, por debater a obra de Monteiro Lobato, no momento em que o sistema educacional brasileiro tem opiniões divididas sobre a existência, ou não, de “elementos racistas” nas obras do autor mais influente da literatura infantil no Brasil. Reunindo estudiosas do tema, essa mesa forneceu elementos suficientes para que os educadores possam iniciar debates bem fundamentados e que diferenciem crítica de apologia.
A professora Laura Sandroni, escritora e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fez uma retrospectiva da literatura infantil no Brasil, demonstrando o avanço que foi ter obras genuinamente brasileiras, fazendo com que o folclore fosse nosso e não o que líamos em contos importados da Europa. “Em Lobato a fantasia é sempre uma forma de iluminar a realidade e nunca é alienante”, pontuou. Na sequência, falou a professora Luciana Sandroni, que é autora premiada de livros infantis, mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-São Paulo e integrou a equipe de roteiristas da nova versão do Sítio do Picapau Amarelo para a Rede Globo. Ela expôs um raio-x dos personagens do sítio, utilizando os perfis identificados nas próprias obras de Lobato. Emília, Pedrinho, Visconde, Tia Anastácia e os demais personagens voltaram ao imaginário particular de cada um dos presentes na plenária.
Finalizando as contribuições, a professora Cilza Carla Bignotto, que leciona Teoria Literária e Literatura Brasileira na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), abordou mais diretamente a questão da polêmica instalada em torno do tema. Ela estudou a obra e a vida de Monteiro Lobato em sua tese de doutorado, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) – UNICAMP, e criticou o julgamento de uma obra inteira por meio de frases extraídas aleatoriamente, lembrando que o texto literário é caracterizado pela ambivalência, em que o livro permanece enquanto a sociedade que faz a leitura vai se transformando ao longo do tempo. “Monteiro Lobato não suaviza a tensão racial que existe no nosso país”, afirmou.
O seminário foi encerrado com as palavras finais do professor Wanderlei J. Quêdo, Coordenador da Secretaria de Formação, e da professora Rita Fraga, coordenadora da Secretaria de Gênero e Etnia da CONTEE, lembrando que os trabalhadores em educação ainda não foram inseridos nos debates sobre a obra de Lobato e que a Confederação visa que os participantes do seminário iniciem esse debate nas suas bases para assim contribuir efetivamente para a transformação da nossa sociedade em um ambiente de justiça e igualdade.
Todas as palestras do Seminário foram gravadas e serão repassadas para as entidades filiadas à Confederação, proporcionando e ampliando tão importantes debates.
Jordana Mercado, do Rio de Janeiro/RJ, com informações da redação.