Série Na Ponta do Lápis: custos com educação chegam a R$ 30 bi por ano
Formar um aluno no ensino superior pode custar até R$ 500 mil. Procura por qualidade faz o ensino particular custar cada vez mais.
É dever do Estado oferecer educação de graça e, para isso, todos pagam impostos. Mas não há vagas para todos os estudantes e a procura por qualidade faz o ensino particular custar cada vez mais. O gasto dos brasileiros com educação passa dos R$ 30 bilhões por ano e formar um aluno no ensino superior pode custar até R$ 500 mil. Isso sem contar a educação infantil, fundamental, as atividades extras, o ensino médio. Este é o tema da segunda reportagem da série “Na Ponta do Lápis”, exibida pela TV TEM.
Nas escolas infantis, há tudo o que os bebês precisam e, mesmo sendo tão pequenos, eles têm uma agenda já lotada. “Nós temos horário de banho, refeição, inalação, soninho, tem que trocar, banho, o horário é da criança”, afirma a berçarista Creuza Souza Oliveira.
As mamães que trabalham fora têm que deixar os pequenos aos cuidados de profissionais especializados e a atenção nesta fase da vida pode custar bem caro. Em São José do Rio Preto (SP) e Bauru (SP), por exemplo, os valores das mensalidades no período integral têm preços a partir de R$ 350. Já em cidades como Itapetininga (SP), onde a concorrência é menor, não dá para encontrar escolinha por menos de R$ 550 por mês. Em Sorocaba (SP), onde o custo de vida é mais alto, há pais que pagam até R$ 2 mil para deixar o bebê na escola o dia todo. E isso é apenas o começo da vida escolar. “Hoje é uma necessidade, não existe mais a mãe que fica em casa cuidando do filho, elas precisam trabalhar também”, comenta o engenheiro civil Fabrício Manoel Resende.
Mensalidades no período integral têm preços a partir de R$ 350 (Foto: Arte / TV Tem)
Para a personal trainer Ana Hernanes da Silveira, mãe de gêmeas, o investimento dobrado. “É tudo dobrado, não tem jeito, a mensalidade é em dobro, mas é gratificante porque o amor é dobrado também”, afirma Ana.
Família do Japão e não entende porque educação
no Brasil é tão cara (Foto: Reprodução / TV Tem)
Educação especial
Os bebês logo cresceme as despesas também. Eles se transformam em crianças bem espertas. Em escolas do primário, onde as crianças têm entre 6 a 8 anos, é possível também ter até aulas de inglês. Em algumas escolas, elas são alfabetizadas em inglês e português. “Eles aprendem todas as disciplinas em duas línguas, então eles vão falar de matemática em inglês e português, vão falar de ciências, história, geografia, do conhecimento da sociedade e do mundo nas duas línguas”, afirma a coordenadora do ensino fundamental Juliana Albuquerque Stoniolo.
Para educar uma criança em escolas bilíngues, os pais gastam em média de R$ 600 a R$ 2 mil por mês no período integral. Dinheiro que a professora Vânia Valente não se importa em pagar. “Quando você tem uma forma de comunicação a mais, uma língua nova, além de abrir a cabeça, abre muitos caminhos”, acredita Vânia.
Há dois anos, a família de Yuca, Yuski e Alyssa veio do Japão para o Brasil e sentiu muita diferença. Os três irmãos estudavam em escola pública e de qualidade. Já em Sorocaba, a opção foi matricular as crianças em uma escola particular e o custo saltou de zero para R$ 3 mil por mês. “Economicamente é bem diferente. Quando eu falo para o pessoal do Japão o quanto eu gasto, ninguém acredita. Eles falam que o Brasil é tão barato, comida é barata, custo de vida, como escola pode ser tão cara?”, afirma a mãe Thatiama Miki.
Você já parou para pensar quando custa educar o filho no Brasil? “Em média, as mensalidades variam. A formação básica, do infantil até o fim do ensino médio custa cerca de R$ 200 mil, então a classe média tem que estar preparada”, diz o coordenador pedagógico Benedito Donizete Ramos.
Desde que Gabriel era bem pequeno, os pais já estavam pensando na faculdade. O casal Elisangela e Klaus Hermann Prall resolveu reservar parte da renda familiar para garantir os estudos de Gabriel, quando ele tinha apenas um ano de vida. Desde então, todos os meses, eles separam pelo menos R$ 100 que vão direto para um plano de previdência. O cálculo já foi feito por eles e quando Gabriel completar 18 anos vai ter pelo menos R$ 30 mil para pagar a faculdade. “Quando nós fizemos faculdade tivemos dificuldade para pagar, por ter custo altíssimo. Então resolvemos economizar para fazer este plano e garantir um futuro melhor para ele”, conta o pai.
Ana Lia e Eduardo Sant’anna não pagam previdência para os filhos e por isso economizam nas contas do dia-a-dia, tudo para poder bancar atividades que vão além da sala de aula, como aulas de violão, futebol e academia. Para garantir o futuro dos filhos, os pais precisam fazer bem a tarefa de matemática. O total do gasto dos filhos com educação e atividades extras fica em R$ 3 mil mensais. “A educação por ser fixa é um valor que a gente não abre a mão, não reduzimos nada, porque isso que será importante para o futuro deles”, diz a empresária Ana Lia Sant’anna.
Tem gente que encontra um jeito criativo para conseguir oferecer algo além da escola para os filhos sem gastar muito. É o caso da família de Leonardo, Lorenzo, Nicolas e Bernardo. Todos fazem atividades em um clube particular da cidade e pagam R$ 135 por mês. Eles fazem aula de judô, tênis, natação, além de academia e tênis, tudo incluso na mensalidade. Enquanto a mãe faz aulas de dança, os filhos estão na aula de judô. Com todos juntos em um único clube, os pais fizeram caber no bolso o preço da qualidade de vida dos filhos. “Sai bem mais barato. Eu não teria como pagar individualmente em academias ou escolas, então foi uma alternativa”, afirma o pai, Roney Sanfelice.
Estudos supervalorizados
Os estudantes Victória Rocha, 17 anos, e Rodrigo Azevedo, também de 17, cursam o ensino médio na escola mais cara de Rio Preto. Cada um custa quase R$ 2 mil por mês aos pais. São poucos alunos por classe, professores disponíveis o dia todo, provas toda semana e quem sabe aproveitar a oportunidade tem portas abertas para as universidades e nos cursos mais concorridos. “Tem que reconhecer o esforço dos pais e honrar o que eles se sacrificam para estarmos aqui, porque a gente sabe que não é fácil”, diz o estudante Rodrigo Azevedo.
O estudante João Capobianco concorda com o colega de sala. “Quando os pais nos colocam aqui é acreditando que vamos passar no vestibular público, porque o investimento é alto, estão pagando caro agora para poder “folgar” depois”, acredita o estudante.
Leandro Pedro Bertolho, de 17 anos, prestou seis vestibulares para medicina no fim do segundo colegial e passou em todos. “Sempre soube o que eu queria, portanto peguei firme nos estudos e o resultado veio”, comenta Leandro.
Mas esta não é a realidade da maioria dos alunos do Estado de São Paulo: 76% dos estudantes estudam em escolas públicas, ao todo, 9,3 milhões de alunos, segundo o IBGE. Para isso, todos nós pagamos indiretamente, com o dinheiro dos impostos arrecadados pelo Governo.
A Escola Estadual Dinorah do Valle em São José do Rio Preto tem cara de particular. No local, estudam 800 alunos e graças ao bom desempenho deles, a instituição é uma das mais bem colocadas do Estado na avaliação do IDESP, o Índice de Desenvolvimento da Educação. Com um desempenho tão bom, os alunos sonham com a universidade pública. O estudante Cleber Roberto Estamboni estudou no local e conseguiu passar em três universidades públicas. Hoje faz o curso de ciências da computação na USP.
Faculdade pode custar até R$ 500 mil
A Famerp, Faculdade Estadual de Medicina de Rio Preto, é uma das mais bem conceituadas do país. Entrar nela era a meta de Bruno Maritan, que sempre estudou em escolas públicas. Hoje, ele não gasta nada para estudar, mas ele é uma exceção no Estado.
Entre 1.540 milhão de estudantes que fazem cursos de graduação em São Paulo, apenas 354 mil estudam em universidades públicas. Mais de um milhão de alunos têm que pagar para se formar. Com isso, o ensino superior representa um gasto e tanto.
Se a mensalidade ficar em torno de R$ 600, por exemplo, em um curso de quatro anos, será preciso desembolsar quase R$ 30 mil. Dependendo do curso, pode custar bem mais que isso. O mais caro é o de medicina, com preços de mensalidade que variam de R$ 2,5 mil a R$ 6 mil. Neste caso, até o final do curso de seis anos, somados os custos com moradia e alimentação e livros, são R$ 500 mil para sair com o diploma na mão.
Com este dinheiro, dá para comprar até dois apartamentos ou 19 carros populares. É por isso que a estudante Ana Cláudia Santos, que está no segundo ano de medicina da PUC em Sorocaba tenta economizar o que pode para que o gasto R$ 4,5 mil por mês não sobrecarregue o bolso dos pais. “Eu moro com amigas para dividir os gastos, eu não tenho todos os livros, uso de veteranas e aproveito a biblioteca para economizar”, comenta Ana Cláudia.
Ao contrário das aplicações financeiras, o investimento em educação não rende juros e garantia de retorno não existe. O que há é a certeza de que os pais estão oferecendo aos filhos as ferramentas para construir um caminho, rumo ao mercado de trabalho.
Do G1