Sindicalistas reafirmam educação como instrumento para a liberdade e inclusão
“A conjuntura desafiadora que vivemos impõe grandes sacrifícios e a educação é um tema central para o seu enfrentamento. Como escreveu Paulo Freire, é um instrumento para a liberdade e emancipação social”, afirmou Adilson Gonçalves de Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), na abertura do debate “Educação para o desenvolvimento e o ultraneoliberalismo”, promovido pela entidade na manhã desta terça-feira, 30, por teleconferência. Mediado por Marilene Betros, secretária de assuntos educacionais da CTB, o encontro contou com a participação do reitor da Universidade Federal da Bahia, João Carlos Salles, presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes); do coordenador-geral, licenciado, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), Gilson Reis; e da professora da Universidade de Brasília, Olgamir Amância Ferreira.
Marilene iniciou o evento dedicando-o à professora Clarice Pereira dos Santos, sindicalista da Assufba (Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos em Educação das Universidades Públicas Federais no Estado da Bahia) e uma das fundadoras da União de Negros pela Igualdade (UNEGRO), vítima do novo coronavírus. “Ela deixa um legado grandioso de luta dos direitos dos trabalhadores e do ensino público desse país. Sua história servirá de inspiração para aqueles que ficam”, afirmou.
Gilson enfatizou que, no Governo Bolsonaro, “o Ministério da Educação está em disputa, o que representa uma instabilidade. O novo ministro da Educação, um ex-militar, já está desmoralizado como um falseador de diplomas. Temos um ministério sem Educação e um ministério da morte, o da Saúde, também dirigido por um militar. O Brasil registrou quase 60 mil mortes por COVID-19 e 1,37 milhão de infectados”.
O mestre mineiro, que também é vereador em Belo Horizonte (PCdoB-MG), lembrou que “a educação tem enraizamento nos locais de moradia, nos locais de trabalho. Envolve cerca de 55 milhões de pessoas, entre trabalhadores e estudantes. Um setor muito importante, que pode jogar um papel da mesma dimensão que jogaram os metalúrgicos nos anos 80 e 90 do século passado na luta democrática, política e trabalhista brasileira. Teremos papel decisivo na luta contra a destruição do país levada à frente pelo Governo Bolsonaro. A educação faz parte da estrutura de um projeto de nação. Não teremos desenvolvimento econômico, respeito ao trabalho, se não tivermos um intenso investimento na educação nacional. Neste cenário de resistência política precisamos reforçar a educação como um direito elementar da sociedade, garantir acesso e permanência da escola pública; exigir a continuidade do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb); lutar pelo controle pedagógico e financeiro da educação; construir uma plataforma nacional de educação; combater setores neofascistas que não respeitam a vida”.
Sobre a retomada das aulas, ponderou que “o setor de educação não pode servir para contaminar exponencialmente ainda mais a sociedade – não aceitamos retomar as aulas sem levar em conta o protocolo da Organização Mundial da Saúde. Temos o desafio de transformar os sindicatos em centros de solidariedade contra a fome. Não abrimos mão da manutenção do emprego, salário e renda dos profissionais da educação”.
João Carlos considerou “estranho este momento que vivemos, de descaso e agressão com a educação. Parece que a universidade incomoda, porque reflete, porque pesquisa, porque se interessa com o bem-estar de nosso povo. A pandemia do COVID-19 explicitou a grande desigualdade no mundo e o caráter excludente da sociedade brasileira”. Para ele, “defender a vida é defender a democracia, o conhecimento”, condenando os que querem “retomar as atividades escolares desconhecendo o valor da vida. Não estamos de férias, mas numa situação de privação. Está evidenciado o grande deficit de nossos estudantes em relação à tecnologia digital. Não retornaremos às atividades sem levar em conta as orientações sanitárias”.
Olgamir também pontificou que a pandemia explicita a desigualdade que o país vive. “As políticas neoliberais não atendem às necessidades e demandas sociais. Ao contrário do Estado mínimo defendido pelo Governo Bolsonaro, somente os Estados fortes estão conseguindo responder à crise sanitária”. Para ela, o momento demonstra “a importância da ciência, tão relegada pelo atual governo, para o enfrentamento do desafio no campo da saúde e da sociedade”.
Abordando o projeto ultraneoliberal que vem sendo imposto pelo atual presidente, Olgamir denunciou que ele realiza uma “educação para o mercado, que implica apenas na formação da mão de obra, não do cidadão, e isso se reflete no seu conteúdo. Formar é muito mais do que treinar. Vivemos uma tentativa de privatizar a gestão pública. Vivemos um movimento de amordaçamento da educação, como o grupo escola sem partido e a militarização das escolas, que atacam a troca de ideias, a liberdade de cátedra, e investem na contratação de militares e não em recursos para as escolas”.
Após as exposições, houve debate entre os participantes, sindicalistas de todas as regiões do país.
Carlos Pompe