Sinpro ABC: Educação Metodista
por Beatriz Vincentini*
Há cerca de um ano e meio, professores, funcionários, alunos, assim como aqueles que fizeram parte e foram dispensados das escolas metodistas, trabalharam no sentido de sensibilizar as autoridades da Igreja da necessidade de se alterar as propostas colocadas no plano de recuperação judicial destas instituições, dado o total desrespeito ali demonstrado no pagamento dos credores, que passariam a enfrentar deságios absurdos e nenhuma correção monetária em seus valores ao longo do tempo. Esperava-se que as insistentes cobranças quanto à adoção dos valores metodistas, válidos ao longo de décadas na administração das escolas, pudessem ser adotadas também neste momento de crise.
Não aconteceu. Os executivos que administram o processo de recuperação judicial agem como empresários comuns, onde o que se busca são as brechas legais para preservação do patrimônio, colocando credores trabalhistas em segundo plano e simplesmente ignorando que foram tais professores e funcionários que construíram esse próprio patrimônio das escolas, desde alguns anos transferido para a Associação da Igreja Metodista, como que preparando esse processo de desmonte da educação metodista, muito antes que ela viesse a ser reconhecida.
Na próxima semana, deverá se realizar a assembleia de credores para aprovação ou rejeição do plano que tramita na justiça. Acredito que muitos ainda pensam nas escolas metodistas pelo que foram, respeitam-nas pelas lideranças sólidas e ética que tiveram. E, por isso, equivocadamente, ainda creiam que a proposta não é lesiva – não poderia ser! – a ex-professores, ex-funcionários, assim como aos que ainda atuam nestas instituições, com salários atrasados e seguidos acordos não cumpridos.
Para mim, essa postura envolve um tanto de ingenuidade e outro tanto de ignorância. Realmente não é simples entender os números dos relatórios apresentados ao longo dos meses sobre o desempenho das escolas. Realmente não é para qualquer um compreender as alternativas entre receber pouco e continuar lutando para receber o que é devido. Realmente não é para quem enfrenta o desespero de contas a pagar a consciência de que rejeitar o plano é o mínimo de coerência para quem durante tantos anos lutou por um projeto de educação democrática, mais igualitária, mais justa. O que efetivamente não é mais prioridade nas escolas metodistas e menos ainda na direção da Igreja Metodista, que inclusive se alinha hoje, através de alguns bispos, com a direita mais reacionária do país, de forma pública.
Várias tentativas dos sindicatos têm tentado esclarecer os números mais recentes do desempenho das instituições de educação metodista. Poucos talvez tenham atentado para seu significado. Repito análises apresentadas ontem, numa live de professores, para talvez sinteticamente mostrar o quanto podem ser lesados os credores trabalhistas caso o plano seja aprovado. Somente os débitos trabalhistas somam cerca de 373 milhões. Os imóveis apresentados como disponíveis para venda para saldar estes débitos estão avaliados em apenas 160 milhões. O dinheiro poderia vir do desempenho das escolas? Não. Os relatórios apontam que, somente em 2022, as escolas acumularam cerca de 12 milhões de prejuízo por mês, chegando a abril com um total de 48.9 milhões de prejuízo. O passivo total apresentado pelo plano indica cerca de 577 milhões, distribuídos entre 10.851 credores. Que se destaque que deste valor 64% correspondem a débitos trabalhistas, que seriam pagos com altíssimos índices de deságio. Mas há mais: os relatórios admitem a existência de endividamento extra concursal, ou seja, débitos acumulados no período posterior à entrada do processo de recuperação judicial, que chegam a 288 milhões, onde se incluem as rescisões trabalhistas não pagas desde então. Alinhados desta forma, os números não são tão difíceis de serem compreendidos.
Recuperações judiciais, há muito, têm sido ponto de polêmica jurídica – e mais ainda entre os envolvidos – neste país. Tais processos já geraram escândalos, denúncias, fartamente noticiadas. Estudos analisam o quanto podem se transformar em fraudes legalizadas para beneficiar as empresas e lesar os credores. Talvez essa seja a melhor forma de encarar o voto a ser dado por muitos na assembleia de credores na próxima semana. Minimamente com desconfiança, mesmo que envolvam escolas ditas metodistas.