Sinpro Campinas e Região: Esperança e Liberdade – O legado deixado pela Revolução dos Cravos
Há 49 anos o mundo presenciava uma das revoluções mais importantes e originais do século XX. Seu estopim se deu na madrugada do dia 25 de abril de 1974, quando a música “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso, começou a tocar na Rádio Renascença, em Lisboa. Era a senha que os soldados insurgentes esperavam para sair às ruas e derrubar a ditadura salazarista, que há quase meio século impunha a Portugal um regime de terror.
A Revolução dos Cravos, como ficou conhecida, teve duas particularidades: a primeira é que, apesar de nascida de um golpe militar, tinha viés democrático e apontava para a construção de um estado socialista. A segunda é que os insurgentes conseguiram tomar o poder praticamente sem violência: em vez de tiros, o que pendia das armas dos soldados eram cravos vermelhos – uma cena que se tornou icônica e ajudou a reforçar a aura poética dos revolucionários.
Pelo bem dos fatos é preciso dizer que o romantismo que ainda hoje permeia a Revolução dos Cravos não se deu por obra do “espírito cordial” do povo lusitano, mas porque o governo fascista de Marcelo Caetano apodrecia a céu aberto e não havia quem estivesse disposto a defendê-lo com a própria vida. Assim, os militares rebeldes encontraram pouquíssima resistência até chegar ao Palácio Presidencial.
Infelizmente, a experiência revolucionária em Portugal durou apenas um ano e sete meses. Vítimas das contradições internas do movimento, os militares de esquerda foram alvos de uma contrarrevolução em 25 de novembro de 1975 – e a construção de um regime socialista na Europa foi interrompida bruscamente. Mesmo assim, aquele 25 de abril é lembrado como um marco de emancipação social, cujo legado pode ser percebido tanto na memória coletiva dos povos oprimidos do mundo quanto na agenda política do século XXI.
Os próprios traidores da revolução não tiveram forças suficientes para barrar alguns avanços iniciados pelos socialistas – e uma nova Constituição da República Portuguesa, marcada por seu caráter progressista, foi aprovada em 1976, estabelecendo, entre outras coisas, que a “organização econômico-social do país assenta no desenvolvimento das relações de produção socialistas”. Educação e saúde públicas, por exemplo, abarcam a maioria da população.
Apesar das reiteradas tentativas da elite portuguesa de transformar Portugal em um protetorado dos Estados Unidos, a democracia está consolidada e o espírito rebelde arraigado na sociedade. Diante do avanço da extrema direita em toda a Europa, Portugal se mantém como um dos poucos territórios onde grupos fascistas não têm ganhado força. Pelo contrário: são repelidos.
É preciso aprender com o exemplo deixado pela experiência da Revolução dos Cravos e manter sempre acesa a chama da esperança e da liberdade. Nas horas duras do desânimo, em que a democracia é ameaçada e o desalento se instala, a ordem é resistir como os portugueses, sem perder a ternura, e tendo a clareza de que o povo é o verdadeiro dono de seu destino, como na letra da canção de José Afonso: “Grândola, Vila Morena/ Terra da fraternidade/ O povo é quem mais ordena/ Dentro de ti, ó cidade”.
Bruno Ribeiro é jornalista e assessor de imprensa do Sinpro Campinas e Região