Sinpro Campinas e Região entrevista o prof. Vitor Medina: “Os trabalhadores nunca conseguiram nada sem se organizar”

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Há menos de um mês, o professor Vitor Medina, 32, foi eleito como delegado do Sindicato dos Professores de Campinas e Região (Sinpro Campinas) e agora será o representante da nossa entidade dentro da instituição de ensino onde leciona Filosofia e Sociologia: o Colégio Pilares, em Santa Bárbara D’Oeste. O Departamento de Comunicação do Sindicato entrevistou o professor para repercutir suas opiniões sobre o movimento sindical e os principais desafios a serem enfrentados pela categoria neste ano.

Sinpro Campinas – Quando e por que você tomou a decisão de se sindicalizar?

Vitor Medina – Me sindicalizei há seis anos no Sinpro Campinas, mas não foi a primeira vez: um pouco antes, quando dava aulas no setor público, mantinha atuação junto à Apeoesp. Sou professor desde 2009 e nunca me passou pela cabeça não ser sindicalizado. Venho de uma família politizada: meu pai sempre foi ligado ao sindicato, minha mãe é professora também, então sempre recebi em casa a mensagem de que o trabalhador precisa se organizar se quiser proteger os seus direitos.

Sinpro Campinas – Você teve a sorte de nascer em uma família com consciência de classe, mas a maioria das pessoas cresce com uma imagem negativa dos sindicatos, inclusive pessoas que depois se formam professoras e continuam com esta visão distorcida da entidade que as representa. Como você vê esta contradição?

Vitor Medina – Todo sindicato pode e deve receber críticas. Para evoluir, qualquer organização precisa ser questionada e cobrada. Agora, o que não faz sentido, é trabalhador querer acabar com o sindicato. Eu costumo dizer que, historicamente, não se pode discutir com os fatos. Você pode ter críticas ao sindicato, mas não pode negar que foi graças ao movimento sindical que você conseguiu seu direito às férias, ao décimo terceiro salário, à licença maternidade e a outros direitos hoje consagrados. Os trabalhadores, ao longo da história, nunca conseguiram nada sem se organizar em torno de uma associação – e com os professores não é diferente.

Sinpro Campinas – Na sua opinião, a quem interessa o enfraquecimento dos sindicatos?

Vitor Medina – O estado brasileiro está sob ataque desde que Bolsonaro chegou à Presidência da República. No entanto, o processo de desmonte do estado de bem-estar social, a destruição dos direitos trabalhistas, a entrega do patrimônio público, tudo isso já vinha sendo feito por Michel Temer. Lembremos que foi o governo Temer que desobrigou a contribuição sindical, com o objetivo claro de minar a força dos sindicatos. Eles têm que fazer isso porque o sindicato é a última barreira contra o desmonte da CLT, contra a desvalorização do salário, contra o fim dos direitos, enfim, contra o estado mínimo que eles sonham em implantar no Brasil.

Sinpro Campinas – e o que os sindicatos devem fazer para não desaparecerem neste contexto desfavorável da conjuntura nacional?

Vitor Medina – Acho que os sindicatos precisam olhar com atenção e seriedade para as críticas que são feitas contra eles. Só dessa forma será possível traçar uma estratégia de enfrentamento à desinformação e reestruturar a base. O sindicalismo precisa chegar novamente à população como um instrumento de luta. A sindicalização em massa dos trabalhadores não vai acontecer se a gente não fizer um movimento nessa direção.

Sinpro Campinas – E como tem sido sua experiência como delegado no colégio em que trabalha? Como é a recepção do sindicato neste ambiente?

Vitor Medina – Mesmo no meio do caos, em um contexto de retirada de direitos e enfraquecimento dos sindicatos, o Sinpro Campinas conseguiu ampliar a sua representatividade em algumas instituições de ensino, como é o caso do Colégio Pilares. Saímos de apenas 3 professores sindicalizados para 15 na escola. Esse avanço possibilitou uma melhor organização interna da categoria e chegamos à conclusão de que precisávamos de um delegado. Fui escolhido pela maioria para ser o representante do sindicato, o que me deixou muito honrado. Por sorte a direção do colégio é aberta ao diálogo com os professores sindicalizados, mas agora a conversa não é mais individualizada, pois temos uma representação sindical formal lá dentro.

Sinpro Campinas – Na sua opinião, que explica o aumento significativo de sindicalizados no colégio em que você leciona?

Vitor Medina – Não digo que é apenas por isso, mas muitos professores, que antes viam com bons olhos o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical e a perda do protagonismo do sindicato nas negociações com os patrões, passaram a sentir na pele os efeitos negativos dessas medidas. Tem professor que só foi sentir falta do sindicato quando o sindicato perdeu forças. Aí ele se viu sozinho para defender os seus direitos e sentiu no bolso. Muita gente se sindicaliza em momentos de crise. Mas o trabalho de conscientização do Sinpro Campinas também fez e faz a diferença, sempre.

Sinpro Campinas e Região

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