Sinpro/Caxias: O impacto da volta às aulas presenciais

Fatos e pesquisas demonstram que é necessária muita cautela

O debate sobre o retorno das aulas presenciais está em pauta entre os gaúchos desde que o governador do Estado, Eduardo Leite, apresentou uma proposta de retomada aos prefeitos integrantes da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) no dia 11/08. Diversas entidades representativas vieram a público manifestar contrariedade, conforme divulgado.

Para ajudar nas avaliações, elencamos situações que estão ocorrendo em outros estados e países, conforme a imprensa vem mostrando.

BRASIL

Em Manaus (AM) as aulas foram retomadas no dia 10/08 e dois dias depois (12/08) foram suspensas em duas instituições de ensino por contaminação de professores.

No Estado do Rio de Janeiro, algumas escolas da rede privada já retomaram suas atividades em agosto — mas com relatos de pouca presença de alunos e processos na justiça contra a reabertura. Alguns sindicatos de professores estão em greve contra a reabertura.

Outros Estados – Por prevenção, seis estados alteraram planos de volta às aulas presenciais. SP, GO, PA, RN, AC e TO recuaram de datas antes estabelecidas entre agosto e setembro.

OUTROS PAÍSES

Entre março e maio, Israel conseguiu diminuir de forma significativa o número de casos na pandemia com medidas rígidas. Foi quando as autoridades resolveram reabrir gradualmente as escolas, começando com pré-escolas e os alunos em fase de conclusão de curso. Em apenas uma instituição de ensino, 153 estudantes e 25 trabalhadores de ensino tiveram covid-19, em um universo de 1.190 alunos e 162 profissionais. Contando parentes e amigos dessas pessoas fora da escola, o número de casos chegou a 260. As autoridades de Israel acreditam hoje que a reabertura das escolas foi totalmente equivocada.

Um dos maiores surtos de coronavírus na Nova Zelândia aconteceu em março em uma escola marista de Auckland, com 96 casos relacionados. O caso começou com um professor contaminado, que teria espalhado o vírus para as demais pessoas. Em uma escola primária próxima, não houve casos.

No hemisfério norte as instituições de ensino estão em férias de verão e o início do novo ano escolar ocorre em setembro. Vários países preparam a volta às aulas mas são assombrados por muitos problemas. A Europa está em um estágio da pandemia bem diferentes do Brasil e a infraestrutura da educação é diferente. Ainda assim há exemplos preocupantes.

Segundo a revista Science, nove de 11 crianças em uma sala de aula em Trois-Riviere, no Canadá, foram contaminadas.

No Reino Unido as escolas primárias iniciaram em 1º de junho e demonstraram uma série de problemas na infraestrutura das escolas para manter os cuidados de prevenção. A retomada para os outros níveis está prevista para setembro.

As autoridades da Alemanha, que tinham decidido reabrir as escolas no início de agosto, tiveram que fechar novamente dois estabelecimentos no norte do país. A medida foi tomada após a confirmação de casos de contágio por Covid-19 entre alunos e professores.

Nos Estados Unidos muitas escolas abriram esta semana, mas alguns alunos que acabaram de iniciar o ano letivo devem voltar ao aprendizado virtual por causa de novas infecções entre alunos e professores.

Neste mês, no Estado americano da Geórgia, 260 funcionários da rede de escolas do condado de Gwinnett testaram positivo para covid-19 ou entraram em quarentena por ter contato confirmado com infectados. Apesar disso, eles estão sendo obrigados a organizar a retomada das aulas nas próximas semanas, o que gerou protestos do sindicato de professores.

PESQUISAS

PERIGO PARA 9,3 MILHÕES DE BRASILEIROS – Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgada em 22 de julho aponta os perigos que o retorno à sala de aula representa. “A volta às aulas pode representar um perigo a mais para cerca de 9,3 milhões de brasileiros (4,4% da população total) que são idosos ou adultos (com 18 anos ou mais) com problemas crônicos de saúde e que pertencem a grupos de risco da covid-19. Isso porque eles vivem na mesma casa que crianças e adolescentes em idade escolar (entre 3 e 17 anos)”, destaca Fiocruz.

De acordo com o estudo, o retorno da atividade escolar, que vem sendo anunciado de forma gradativa por vários estados e municípios, coloca os estudantes em potenciais situações de contágio. Mesmo que escolas, colégios e universidades adotem as medidas de segurança (e elas sejam cumpridas à risca), o transporte público e a falta de controle sobre o comportamento de adolescentes e crianças que andam sozinhos fora de casa representam potenciais situações de contaminação pela covid-19 para esses estudantes.

Se forem contaminados, esses jovens poderão levar o vírus para dentro de casa e infectar parentes de todas as idades que tenham doenças crônicas e outras condições de vulnerabilidade à covid-19, representando uma abertura perigosa no isolamento social que essas pessoas mantinham até agora.

SEGUNDA ONDA – Um estudo recente de pesquisadores do Reino Unido afirma que, no pior dos cenários, se as escolas reabrirem em setembro, a segunda onda de coronavírus poderia atingir seu pico em dezembro. A intensidade desse pico seria de até 2,3 vezes maior do que a primeira onda. Mas o estudo também afirma que com um bom sistema de rastreamento de contatos — algo que sequer existe em países como o Brasil atualmente — seria possível impedir uma segunda onda.

PROFESSORES E FUNCIONÁRIOS SÃO MAIS AFETADOS – Uma pesquisa realizada na Austrália e publicada esta semana na revista científica The Lancet Child & Adolescent Health mostra que a situação mais preocupante nas escolas abertas era a de professores e funcionários. Eles correspondem a apenas 10% da população escolar, mas responderam por 56% dos casos de covid-19 registrados em escolas.

Do Sinpro/Caxias

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