Sinpro Minas: Condições de trabalho na EaD em questão – Observações à luz da obra “A condição humana”, de Hannah Arendt
Para uma análise sobre as condições de trabalho dos educadores que atuam com Educação a Distância (EaD) à luz da obra “A Condição Humana”, de Hannah Arendt, é fundamental o entendimento de alguns dos conceitos centrais da obra de Arendt e como eles podem ser aplicados ao contexto da educação a distância. Entre tais conceitos destacam-se:
a) Vita activa, em que a autora divide a vida ativa em três atividades fundamentais: labor, trabalho e ação. O labor está relacionado às atividades necessárias para a manutenção da vida biológica, atividades que são cíclicas e repetitivas. O trabalho refere-se à produção de objetos duráveis, atividades que têm início e fim e produzem algo tangível. A ação, que envolve a interação humana e o discurso, é a atividade que acontece no espaço público e está ligada à liberdade e à política.
b) Espaço público e espaço privado: Arendt faz uma distinção entre o espaço público, onde ocorre a ação e o discurso, e o espaço privado, associado à intimidade e à necessidade.
c) Pluralidade: a condição de pluralidade é essencial para a ação, já que a ação só faz sentido na presença de outros, na esfera pública.
Na EaD, os educadores muitas vezes enfrentam tarefas repetitivas e cíclicas, como correção de trabalhos e feedback aos alunos, que podem ser vistas como labor. Essas tarefas são essenciais para o funcionamento dos cursos, e na maioria dos casos não são valorizadas como deveriam.
A criação de materiais didáticos, vídeos de aula e conteúdo interativo pode ser vista como trabalho. Esse trabalho cria “objetos duráveis”, no sentido de que os materiais produzidos podem ser reutilizados em várias turmas e ao longo do tempo.
A interação direta entre educadores e alunos, por meio de fóruns de discussão, videoconferências e outras formas de comunicação representa a ação. É nessa interação que ocorre a troca de ideias, o debate e a verdadeira educação.
Quais seriam então os principais desafios das condições de trabalho na EaD?
Educadores que atuam em EaD podem sentir falta do espaço público de interação direta com colegas e alunos, o que leva com frequência a um sentimento de isolamento.
A carga de trabalho dos educadores em EaD em geral é elevada, com exigências de disponibilidade quase constante e a necessidade de adaptar materiais e métodos para diferentes perfis de alunos.
Com frequência, o trabalho dos educadores em EaD não é devidamente reconhecido ou valorizado, tanto em termos de prestígio quanto de remuneração.
A linha entre o espaço privado e o espaço público pode se tornar tênue na EaD, já que os educadores frequentemente trabalham de casa e têm que gerenciar seu tempo de forma a equilibrar as demandas profissionais e pessoais.
À luz da obra de Arendt, as condições de trabalho dos educadores em EaD podem ser vistas como uma mistura de labor, trabalho e ação, com desafios específicos relacionados à falta de um espaço público físico, a necessidade de reconhecimento adequado e o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. A pluralidade, fundamental para a ação, deve ser buscada e promovida na EAD por meio de tecnologias que facilitem a interação e a troca de ideias. É essencial que a sociedade reconheça e valorize o papel dos educadores em EaD, não apenas como meros transmissores de conhecimento, mas como agentes ativos que moldam a educação e a cultura no ambiente digital.
Luiz Antônio Silva – Professor, sociólogo, doutor em Educação e diretor do Sinpro Minas em Coronel Fabriciano