Sinpro Pernambuco: Aula presencial, só depois da pandemia
Deprimente e assustador o que o estado de Pernambuco assistiu no último dia 3 de setembro de 2020. Num verdadeiro festival de contrassenso no que diz respeito às políticas e protocolos de enfrentamento ao Covid-19, os donos de estabelecimentos privados de educação foram para a frente do Palácio do Campo das Princesas protestar contra a manutenção da política de suspensão das aulas presenciais. Entre suas afirmações pela volta às aulas presenciais apontavam os prejuízos financeiros, psicológicos, cognitivos e sociais.
Sobre as alegações destiladas pelo patronato (porque foi uma manifestação de patrões, mas também de alguns poucos que tem a embriagante ilusão de que os patrões são seus amigos), nós do Sinpro, Sindicato dos Professores no Estado de Pernambuco, não precisamos de mais de um segundo para desqualificar tudo o que ocorreu, a começar pela estratégia empregada como forma de protestar, levando várias pessoas a se aglomerar e criando um possível foco de disseminação da Covid-19, numa clara rejeição a todo o conhecimento científico produzido e disseminado para impedir a ampliação da catástrofe pandêmica que tem ceifado milhares de pessoas.
Por outro lado, no que diz respeito aos prejuízos gerados pelo fechamento das escolas privadas alardeado em tons abissais, convidamos todos a um pequeno exercício de reflexão: com as escolas fechadas, é fato que a arrecadação das mensalidades caiu em virtude dos descontos dado aos clientes (isso mesmo, clientes) e alguns abandonos (principalmente para as séries iniciais). Contudo, também é fato que os gastos com o fazer educacional empregado pelas escolas particulares foi drasticamente reduzido. Com as escolas fechadas, há uma redução substancial dos gastos com energia, água, material de consumo, material de papelaria e até recursos humanos. Isto mesmo, recursos humanos, posto que várias foram as escolas que suspenderam desde o mês de abril o contrato de trabalho de grande parte dos seus trabalhadores (secretários, trabalhadores de serviços gerais, auxiliares de pátio, auxiliares de disciplina, etc.) e professores da Educação Infantil e do Fundamental I (em virtude do fechamento de turmas).
Neste ponto, é necessário que a sociedade pernambucana saiba de um fato não divulgado pelos patrões. Muitas escolas suspenderam o contrato de trabalho dos seus professores, o que os transformou em dependentes de remuneração proveniente de recursos estatais. Porém, quando as aulas home-office foram oficializadas convocaram os mesmos professores para retornarem aos seus postos. Tudo dentro da normalidade jurídica? Não! Posto que estes sem conhecimento da lei, continuaram a receber através do Estado, pois as escolas não fizeram a revogação da suspensão dos seus contratos de trabalho.
Outro fato que mostra a incoerência do discurso do alegado prejuízo é o de que grande parte dos custos foi transferida de forma direta e inquestionável para os professores, pois, trabalhando em suas casas, com a energia e os instrumentos utilizados no processo de ensino aprendizagem, a conta cai em seu colo e não das escolas, pois 99% destas não fornecem nenhuma ajuda de custo para este adicional dos gastos dos mestres e, nas pouquíssimas que fornecem, os valores são tão insignificantes, não passando de R$ 120,00 no final do mês.
Quanto aos prejuízos psicológicos, afetivos e cognitivos, gostaríamos de afirmar que não entendemos que donos de escolas particulares, portanto, pessoas comprometidas, com a educação, com a construção do conhecimento e o saber significativo, tenham deixado o interesse pela maximização dos seus lucros turvar o raciocínio lógico e não perceber que o maior prejuízo neste momento é justamente o contrário do que querem, pois voltar às aulas com medo não contribui em nada para o processo de ensino aprendizagem. Talvez tenham esquecido as palavras e os escritos do grande pedagogo pernambucano Paulo Freire: “Educação se faz com Amor”, e não existe amor maior do que a preservação da vida.
Ao final, queremos deixar bem claro para a sociedade pernambucana e brasileira que compreendemos que nada supera a relação direta entre estudantes e professores na sala de aula, mas este ainda não é o momento seguro para voltarmos, que só deve ocorrer quando houver total segurança através da vacinação ou tratamento eficiente.