Sinpro Rio: Consciência Negra: professoras e professores na Educação de Resistência

Consciência Negra: professoras e professores na Educação de Resistência
Reprodução/Sinpro-Rio

O Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, foi instituído em razão da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, situado na Serra da Barriga, atualmente no Estado de Alagoas. É uma data para reflexão e ações contra o racismo estrutural, que ainda perdura no Brasil. Completam-se 328 anos do dia em que Zumbi teve sua cabeça cortada por lutar contra a escravidão. No entanto, resquícios da perseguição ainda hoje permanecem, com o assassinato de negros e negras.

Ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, em seu livro onde apresenta a ideia de racismo estrutural, afirmou: “Por ser estrutural, o racismo é também processo histórico. Desse modo, não se pode compreender o racismo apenas como derivação automática dos sistemas econômico e político. A especificidade da dinâmica estrutural do racismo está ligada às peculiaridades de cada formação social. De tal sorte, quanto ao processo histórico também podemos dizer que o racismo se manifesta: de forma circunstancial e específica e em conexão com as transformações sociais”.

No entanto, a resistência tem conquistas, como a recente sanção pelo presidente Lula da nova Lei de Cotas que amplia vagas nas universidades públicas, contemplando quilombolas, indígenas, pretos, pardos e pessoas com deficiência. Entre os aprimoramentos da nova Lei de Cotas, consta também a prioridade para os cotistas no recebimento do auxílio estudantil e a extensão das políticas afirmativas para a pós-graduação.

Recentemente, Vitoria Carvalho, estudante de jornalismo e estagiária da Contee – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimento de Ensino, destacou no texto “A importância da educação no Mês da Consciência Negra: Promovendo a igualdade e a diversidade”: “O mês da Consciência Negra no Brasil oferece uma oportunidade valiosa para refletir sobre a importância da educação na promoção da igualdade racial e na construção de uma sociedade mais inclusiva. Neste contexto, a educação desempenha um papel fundamental na desconstrução de estereótipos, no reconhecimento das contribuições dos afrodescendentes e na formação de cidadãos conscientes e comprometidos com a diversidade”. (leia abaixo este e outros textos na íntegra sobre o tema).

O Sinpro-Rio destaca grandes personalidades negras no contexto da educação brasileira, exemplos de luta,  resistência e conquistas.

Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís do Maranhão, no ano de 1825. Filha de pai negro e mãe branca, foi criada pela tia, que lhe deu acesso à educação formal e aos 25 anos se tornou professora primária.

Além de professora, Firmina dos Reis é a primeira romancista brasileira. Ela publicou sua primeira obra, Úrsula, em 1859, aos 34 anos. Concomitante ao trabalho de professora, também lançou uma série de contos e um livro de poemas (texto extraído do Portal Geledés: https://revistaraca.com.br/tres-professores-negros-brasileiros-inspiradores/ )

Hemetério José dos Santos, um intelectual negro que lutou por uma educação universal e uma sociedade antirracista durante o fim do século 19 e primeira metade do século 20.

Hemetério nasceu em Codó (MA), em 1858, trinta anos antes da abolição da escravidão no Brasil. Aos 16, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde terminou os estudos e se tornou professor explicador de francês no Colégio Pedro II. Ali, diz-se, foi visto pelo próprio imperador, que ficou admirado pela sua competência.

Ao longo da vida, publicou livros, escreveu para jornais e se firmou como um respeitado estudioso da língua portuguesa, a ponto de ser um dos patronos da Academia Brasileira de Filologia. Sua atuação, no entanto, esteve sempre ligada às questões raciais e à educação dos mais pobres.

“Não podemos pensar o Hemetério como um revolucionário do ponto de vista socialista, comunista e tudo mais. Mas isso não tira dele o mérito de ser um crítico àquela sociedade na questão racial e também, a coisa mais importante talvez, não só pela questão racial, mas pela educação. Para que a educação fosse pública e popular, para que a educação chegasse aos pobres”, afirma o historiador Aderaldo dos Santos, que escreveu sua tese de doutorado sobre o professor.

(Aqui íntegra de texto sobre Hemetério José dos Santos, no Portal Geledés: https://www.geledes.org.br/a-historia-do-professor-negro-e-antirracista-que-ensinou-durante-a-escravidao/ )

Antonieta de Barros foi excepcional. Está entre as três primeiras mulheres eleitas no Brasil. A única negra. Foi eleita em 1934 deputada estadual por Santa Catarina, mesmo ano que a médica Carlota Pereira de Queirós foi eleita deputada federal por São Paulo. Sete anos antes, Alzira Soriano havia sido eleita prefeita num pequeno município do Rio Grande do Norte, primeiro estado a permitir disputas femininas.

Nasceu em Desterro, como era chamada Florianópolis, no dia 11 de julho de 1901. No registro de batismo, na Cúria Metropolitana, realizado pelo Padre Francisco Topp, não aparece o nome do pai. A mãe era Catarina Waltrich, escrava liberta. No imaginário popular, a verdadeira paternidade estaria ligada à família Ramos, uma das mais tradicionais do Estado.

A bandeira política de Antonieta era o poder revolucionário e libertador da educação para todos. O analfabetismo em Santa Catarina, em 1922, época que começou a lecionar, era de 65%. Isso que o Estado, sobretudo pela presença alemã, aparecia com um dos índices mais altos de escolarização do país, seguidos por São Paulo.

Professora formada, tinha 17 anos quando fundou o curso particular “Antonieta de Barros”, com o objetivo de combater o analfabetismo de adultos carentes. Sua crença era que a educação era a única arma capaz de libertar os desfavorecidos da servidão. Sua fama de excelente profissional, no entanto, fez com que lecionasse também para a elite nos Colégio Coração de Jesus, Dias Velho e Catarinense.

(Leia aqui texto na íntegra sobre a professora Antonieta de Barros, no site do jornal El País: https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-10-15/antonieta-de-barros-a-parlamentar-negra-pioneira-que-criou-o-dia-do-professor.html)

Abdias do Nascimento, artista, professor universitário e político, nasceu em 14 de março de 1914, em Franca, interior de São Paulo. Neto de uma ex-escrava, Abdias começou a trabalhar aos 9 anos entregando leite e carne nas casas de pessoas ricas. Com 15 anos, se formou em contabilidade. É difícil resumir a história de Abdias do Nascimento pelos muitos feitos na luta do movimento negro.

O professor foi um dos fundadores do Teatro Experimental do Negro (TEN), onde começaram muitos artistas de talento como Ruth de Souza e Léa Garcia. Abdias também ajudou a fundar o Museu de Arte Negra (MAN) e o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), ambientados no Rio de Janeiro, onde viveu durante uma parte da vida.

Exilado nos Estados Unidos durante a Ditadura Militar no Brasil, Abdias se aproximou de movimentos como Panteras Negras, deu aula em universidades no país e foi um militante ativo no pan-africanismo.

O acadêmico, artista plástico e economista também entrou na carreira política com duas passagens pelo Senado brasileiro, durante os anos de 1991 e 1996. Abdias recebeu Prêmio Toussaint Louverture pelos Extraordinários Serviços Prestados à Luta contra a Discriminação Racial, na sede da Unesco em Paris, em 2004 (texto extraído do Portal Geledés).

Milton Santos é um dos maiores geógrafos brasileiros. Natural de Brotas de Macaúbas, interior da Bahia, o professor nasceu em 3 de maio de 1926. Seus pais e avós maternos eram professores do primário e ensinaram Santos a ler, escrever, falar francês, além de ensinarem álgebra ao filho.

Aos 10 anos, se mudou para Salvador e passou a estudar no Instituto Baiano de Ensino, um internato localizado na capital da Bahia. No internato, as aulas do professor Oswaldo Imbassahy despertaram seu interesse pela Geografia.

O jovem Milton Santos já lecionava matemática aos 13 anos para os colegas de internato e aos 15 começou a ensinar geografia. Santos estudou na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, mas nunca exerceu a profissão e mudou-se para Ilhéus onde dava aulas de Geografia no ginásio municipal (https://revistaraca.com.br/tres-professores-negros-brasileiros-inspiradores/ )

Milton Santos é um dos grandes responsáveis por estudos que mostram que a geografia engloba campos como sociologia, economia e política. Ele realizou pesquisas sobre urbanização em países pobres e globalização.

Em 1994, recebeu o prêmio Vautrin Lud, considerado o ‘Nobel da Geografia’. Milton é o único brasileiro a receber o prêmio (https://revistaraca.com.br/tres-professores-negros-brasileiros-inspiradores/ )

Sonia Guimarães, a primeira doutora em física no Brasil e primeira mulher negra professora no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) de São José dos Campos.

Referência brasileira na área, Guimarães tem a docência marcada pela alegria em lecionar, as roupas coloridas e a risada alta que contrastam com os corredores silenciosos e opacos dos laboratórios, mas principalmente pelo ativismo em impulsionar o protagonismo feminino na área de exatas.

Sonia Guimarães entrou para a sala de aula do ITA quando as mulheres ainda não eram aceitas no vestibular do ITA.

Professora de física há 30 anos no ITA, ela também é pesquisadora na área – onde a presença feminina é ainda menor.

Sonia decidiu pela Física em 1976, quando saiu da escola pública para a concorrida Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). A sala era composta por 50 alunos, onde apenas cinco eram mulheres. Ela deixou a casa dos pais, tapeceiro e comerciante, para estudar fora aos 19 anos.

Escolheu a carreira acadêmica e partiu da graduação para o mestrado e doutorado – o último feito na Inglaterra. E, como se isso já não fosse grande para a menina que deixou a casa dos pais, entrou para o ITA em 1993 como um marco. (Leia aqui íntegra de texto do G1, o qual reporta homenagem à professora Sonia Guimarães com a Medalha  Santos Dumont, de honra ao mérito: https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2023/05/19/primeira-professora-negra-no-ita-sonia-guimaraes-recebe-medalha-santos-dumont-reconhecimento-fantastico.ghtml )

Revista Ensino Superior: Onde estão os professores negros?

https://revistaensinosuperior.com.br/2022/11/18/onde-estao-os-professores-negros/

Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania – ACESSO À EDUCAÇÃO – Sancionada pelo presidente Lula, nova Lei de Cotas amplia vagas nas universidades públicas

https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2023/novembro/sancionada-pelo-presidente-lula-nova-lei-de-cotas-amplia-vagas-nas-universidades-publicas

A importância da educação no Mês da Consciência Negra: Promovendo a igualdade e a diversidade

Do Sinpro-Rio

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo