Sinpro-Rio: Rússia x Ucrânia – Assista a live com embaixador Celso Amorim
Em evento online, promovido em conjunto pelo Sinpro-Rio e pelo Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro em 24 de março, o diplomata brasileiro, ex-ministro da defesa e das Relações Exteriores, Celso Amorim, foi convidado para uma exposição, seguida de respostas às perguntas formuladas pelos participantes, sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia. Contando com a presença dos presidentes dessas instituições – Elson Paiva e José Ferreira – o embaixador fez, de forma objetiva, equilibrada e sensata uma abordagem preciosa sobre o tema. A seguir, destacamos, em tópicos, algumas das principais considerações e abordagens expressas pelo convidado.
CONFLITO MAIS GRAVE CONFLITO DESDE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – Talvez nenhum outro conflito tenha colocado o mundo tão próximo de uma guerra praticamente total. No campo econômico, já pode ser considerada uma guerra total, diante de sanções aplicadas de maneira muito ampla contra a Rússia.
DECLARAÇÃO CONJUNTA DE CHINA E RÚSSIA – Poucas semanas antes da guerra, a declaração conjunta de Xi Jinping e Putin foi o evento singular mais significativo desde a dissolução da União Soviética. É uma parceria entre o país que será, em poucos anos, a maior economia do mundo e o país que tem o maior território do planeta e, ao lado dos EUA, o maior arsenal nuclear estratégico. A aliança impõe respeito, indica uma mudança muito grande no poder mundial.
NOVA GUERRA FRIA? – Curioso é que analista de várias tendências, inclusive dos EUA, chamavam de nova guerra fria a relação entre Estados Unidos e China, mas o conflito que irrompe é entre Rússia e Ucrânia. Isto se dá porque, na verdade, estamos tratando de uma situação “Ocidente versus Rússia”.
AÇÃO DE PUTIN PODE SER EXPLICADA, MAS NÃO JUSTIFICADA – A preocupação com a expansão da OTAN rumo ao Leste Europeu, jogo do pós guerra-fria, explica o que está acontecendo hoje, mas não justifica. Segundo Celso Amorim: “Eu, como ex-embaixador na ONU, ex-ministro durante quase 13 anos, com praticamente 60 anos de diplomacia, não só defendo a paz, mas defendo de uma maneira muito vigorosa o Direito Internacional e a Carta das Nações Unidas, elaborada logo no final da Segunda Guerra Mundial”. O ponto basilar da Carta é a renúncia do uso da força, é acabar com as guerras. Ela só admite duas hipóteses: autorização pela ONU ou quando é de legítima defesa. E a legítima defesa tem que ser conceito restrito. Na Carta da ONU, não existe espaço para a hipótese “Imaginei que o país tal iria nos atacar, então ataquei”.
RÚSSIA – PREOCUPAÇÃO LEGÍTIMA COM A SEGURANÇA E ERRO POLÍTICO DE PUTIN – Embora a Rússia tenha boas razões para se preocupar com a sua segurança, em função da expansão da OTAN, na opinião do ex-embaixador Celso Amorim, o Putin cruzou uma linha que o deixou numa posição muito difícil, que o torna passível de uma condenação nas Nações Unidas. Muitos argumentam que os EUA e outros países ocidentais fizeram isso muitas vezes. Verdade, mas é condenável. O fato de países do Ocidente terem o violado o “não uso da força”, não justifica que a Rússia tenha cruzado esta linha.
CRISE NUCLEAR? – Desde a crise dos mísseis, em 1962, nunca se ficou tão preocupado com uma crise nuclear como agora. Há um risco maior hoje com armas atômicas táticas. Mas fazer Putin “sangrar”, como alguns defendem, é fazer com que as populações da Rússia e da Ucrânia sangrem de verdade, literalmente.
MUNDO DEPOIS DA GUERRA – O mundo não será o mesmo depois da pandemia e, também, será diferente depois deste conflito. Um conflito que na aparência é entre Rússia e Ucrânia, mas que é muito mais amplo no contexto geopolítico. Há uma necessidade de se construir um acordo, a partir de uma negociação, não somente entre Zelensky e Putin, mas algo mais forte.
NECESSIDADE DE MOVIMENTO DE PAZ – O único país que tem mais poder de persuasão é a China, pois é quem mais se beneficia com a paz neste momento. A pressão americana é muito forte, mas é preciso que haja frieza. Uma coalização da China, com França, Alemanha e um país africano é uma sugestão. O Brasil, por exemplo, poderia fazer parte, mas se tivesse um outro governo. Temos que nos concentrar na busca da paz. É preciso que os países ocidentais percebam e aceitem que a China pode ser fundamental na busca de um acordo.