Sinpro/RS: Cresce o número de demissões por iniciativa própria

Aumentou em 45% o número de pedidos de demissão dos professores (por vontade própria) no ensino privado no primeiro semestre de 2022. Um número considerado atípico, se comparado com anos e até décadas anteriores. Esta realidade surgiu na esteira da pandemia de covid-19, fenômeno que tem ocorrido também em outras profissões.

De um total de 2.388 demissões homologadas entre 1º de janeiro e 28 de junho, praticamente metade – 1.073 – foi a pedido. Os maiores índices estão na educação básica (61%) e na educação infantil exclusiva (22%). “Em um período marcado pelo desemprego e em que há empenho na manutenção da empregabilidade, estes números causam surpresa e preocupação”, avalia o diretor do Sindicato dos Professores do Ensino Privado(Sinpro/RS), Marcos Fuhr.

Assim que surge outra oportunidade profissional, os professores tendem a desistir do magistério. Entre os motivos, estão estresse, adoecimento e baixos salários. Depois de 18 anos atuando na educação infantil, a professora Maria do Carmo (nome fictício) desistiu. Com um salário de R$ 1.700,00 para 30 horas semanais, vivendo só, já não conseguia arcar com todas as contas do mês. Há dois meses, sobrevive vendendo bolos, sanduíches e pães caseiros pela internet. Também tem feito faxinas.

“Estava esgotada com a sobrecarga de trabalho para um salário tão baixo. Vários diplomas na área e sem motivação.” Ela conta que chegava em casa cansada a ponto de não comer e ir dormir com a roupa do corpo. Na demissão, ainda descobriu que, embora descontada em folha, a escola em que trabalhava não depositou o FGTS e nem o INSS.

A diretora do Sinpro/RS Margot Andras, que acompanha a educação infantil, informa que boa parte dos educadores da área precisa trabalhar em mais de uma instituição para sobreviver. Um profissional que trabalhe 40 horas semanais não chegará a R$ 3 mil mensais. “Para muitos, está valendo mais a pena buscar outras áreas, o que é triste, pois este professor levou tempo fazendo um curso superior para ganhar tão pouco.”

Também surpresa e preocupada, a diretora do Sinpro/RS Cecília Farias detectou que há um grande descontentamento nos profissionais da educação básica. Alguns, conforme ela, estão desistindo da carreira docente em razão do estresse, pois “existe uma sobrecarga de trabalho impressionante”.

Ela acrescenta que, atualmente, além de todas as exigências das escolas em cima dos professores, há um olhar muito apurado sobre a diversidade dos alunos. “Muitas vezes, é necessário mais planejamento e materiais pedagógicos para atender a essas diferenças. Avaliações diferentes, inclusive. Alguns professores relatam fazer diversos instrumentos de avaliação diferenciados sobre o mesmo conteúdo para atender a essas especificidades.”

Responsável há 12 anos pelas homologações rescisórias no Departamento Jurídico do Sindicato, Tamires Ladvig se surpreendeu com a situação. “Nunca tinha visto um número tão alto de pedidos de demissão.” Para comparar, no primeiro semestre de 2021, houve 2.071 rescisões, sendo 812 a pedido. Chamaram sua atenção casos de professores que foram admitidos em fevereiro e pediram para sair em abril.

Ela ouviu vários motivos para os pedidos de demissão. Uma professora desistiu de lecionar porque tinha de acordar às 5h diariamente para ir de Porto Alegre a Gravataí, onde começava a dar aulas às 7h. Ao meio-dia, entre uma escola e outra, comia no caminho e passou a se queixar também dos gastos de deslocamento. A correria entre duas escolas não compensava.

Tamires identificou, ainda, questões de adoecimentos e de baixa autoestima nesses pedidos de demissão. Observou que há casos de busca por mais qualidade de vida. Mas, também, existem muitos outros ocasionados por pressão e estresse.

Do jornal Extra Classe, do Sinpro/RS

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