Sinpro/RS: Em dia de fúria, protesto contra assassinato de homem negro termina de forma violenta 

João Alberto Silveira Freitas foi espancado até a morte por dois seguranças do Carrefour no bairro Passo D´Areia, em Porto Alegre, na véspera do Dia da Consciência Negra

Por Flávio Ilha 

Uma multidão indignada se reuniu no final da tarde de sexta-feira, 20, em frente à loja do Carrefour, na zona norte de Porto Alegre, para protestar contra a morte de João Alberto Silveira Freitas, assassinado na noite de quinta-feira, 19, por seguranças do supermercado. Um grupo chegou a invadir a loja no final da manifestação, forçando os portões de ferro, mas a reação a Brigada Militar foi violenta: bombas e gás de efeito moral e balas de borracha tentaram conter a revolta, que durou mais de duas horas.

Um grupo estimado em 3,5 mil pessoas iniciou o protesto por volta das 17h. Com faixas em alusão às vidas negras e mensagens de protesto contra a multinacional, os manifestantes lembraram que a morte de Beto, como João Alberto era conhecido na comunidade do IAPI, onde morava, não foi um acidente. Um dos integrantes do Movimento Negro Unificado, Gleidson Renato Dias, cobrou agilidade do Ministério Público para enquadrar o crime como racismo.

“É preciso uma análise minuciosa das circunstâncias do assassinato para comprovar a motivação racista. Já sabemos que a polícia está descartando a possibilidade, mas vamos cobrar que o inquérito seja devolvido se apresentar falhas gritantes como essa”, disse.

Freitas foi morto pelos seguranças no estacionamento do Carrefour depois de ser espancado pelos dois homens. Giovane Gaspar da Silva, PM temporário da Brigada Militar, e Magno Braz Borges, vigilante da empresa de segurança Vector, tiveram a prisão preventiva decretada nesta sexta-feira pela Justiça. Os dois foram detidos em flagrante logo após o crime.

Os manifestantes se concentraram em frente ao principal acesso ao Carrefour, na avenida Plínio Brasil Milano. O estabelecimento não abriu as portas hoje. O presidente da CUT estadual e diretor do Sinpro/RS, Amarildo Pedro Cenci, afirmou que o combate ao racismo é tarefa de toda a classe trabalhadora. “Esse tema tem que fazer parte da nossa pauta permanente de reivindicações”, disse durante o ato.

O protesto foi acompanhado de longe pela Brigada Militar. Agentes das EPTC fecharam o trânsito a partir de 17h30min devido à multidão que se aglomerava em frente ao supermercado. Às 19h, quando o ato saiu em caminhada que pretendia avançar até o estádio do Esporte Clube São José, do qual Freitas era torcedor, um grupo de manifestantes forçou as grades do estabelecimento e conseguiu entrar. Uma porta de vidro foi quebrada.

Soldados da BM que estavam aquartelados no estacionamento do Carrefour avançaram sobre a multidão, que reagiu arremessando pedras e foguetes na tropa. Os PMs ficaram acuados no estacionamento até que começaram a lançar bombas de gás e a disparar tiros de balas de borracha contra os manifestantes.

A reação violenta provocou ainda mais revolta, com grades sendo arrancadas e barricadas de fogo espalhadas pela avenida. Houve registro de vários focos de incêndio nas dependências externas do supermercado. Três pessoas ficaram feridas e foram atendidas no Hospital de Pronto Socorro.

Mesmo com a reação violenta da BM, os manifestantes seguiram na rua. O ato só foi dispersado por volta de 21h30min, depois que a Brigada empurrou os manifestantes em direção ao bairro Higienópolis. No caminho, grupos de jovens quebraram vidraças de lojas e atacaram a pedradas dois carros da polícia que passavam pelo local. Os carros tiveram os vidros quebrados.

Em nota, a rede Carrefour comunicou o rompimento de contrato com a empresa que responde pelos seguranças envolvidos no caso e de desligamento do funcionário que estava no comando da loja no momento do crime. A empresa é reincidente em crimes de racismo. Em 2009, seguranças da rede de hipermercados francesa agrediram o vigia e técnico em eletrônica Januário Alves de Santana, de 39 anos, no estacionamento da filial de Osasco, na Grande São Paulo. Ele foi “confundido” com um ladrão e foi acusado de roubar o próprio carro, um EcoSport.

O assassinato de João Alberto provocou reações de entidades e protestos em diversas partes do país, com manifestações e invasões de lojas da multinacional em outras capitais como São PauloRio de Janeiro e Distrito Federal.

Do jornal Extra Classe, do Sinpro/RS

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