Sinpro/RS: História, jornalismo e negritude
Durante três décadas, de 1980 a 2010, existiu em Porto Alegre uma Imprensa Negra Carnavalesca – não confundir com imprensa negra ou imprensa carnavalesca –, representada por três veículos alternativos, os jornais impressos Folhetim do Zaire, O Jurado e Ensaio Geral.
Eram veículos alternativos, voltados para as comunidades negra e carnavalesca. “Tinham como editor-chefe e articulista principal uma pessoa ligada ao movimento das escolas de samba ou carnavalesco, membro de alguma comunidade, auxiliado por colunistas voluntários. O tema central eram o carnaval e as escolas de samba, porém sempre surgiam discussões sobre saberes construtores de identidades negras ou posicionamentos políticos contra discriminação racial, principalmente relacionadas às culturas negras”, descreve Roberto Santos, professor de História da Ulbra por 25 anos, doutorando em Educação com ênfase em Estudos Culturais.
Essa é a segunda vez que Santos investiga a existência e o significado de uma imprensa negra – que o estágio atual da pesquisa indica ser um fenômeno restrito à capital gaúcha. Em 2007, essa discussão norteou sua dissertação de mestrado Pedagogia da Negritude e identidades negras: jeitos de ser negro em Porto Alegre. Atualmente, sob orientação da professora doutora Maria Angélica Zubaran, ele analisa o jornal Ensaio Geral, inscrito como Imprensa Negra Carnavalesca, “enquanto uma categoria diferenciada, vinculada especificamente em como as escolas de samba e os carnavalescos conseguem nomear a si mesmos”.
Ao analisar os periódicos, ele constata que há nesses informativos uma proposta explícita de aprendizado voltado às comunidades negra e carnavalesca, “no sentido de posicionamentos, das identidades negras e de saberes ligados à existência das escolas de samba como territórios negros, assim como de uma memória carnavalesca que articula sobre lugares, sujeitos e protagonismos” – discussões que sempre orientaram sua vida pessoal e acadêmica. “O fato destes jornais não existirem em arquivos oficiais, mas estarem como documentos em mãos de particulares ligados ao carnaval já induz pensarmos a quem eram endereçados”, aponta.
A pesquisa, segundo ele, também busca desvendar formas alternativas de ensino e aprendizagem nas comunidades. “Um desses caminhos é a mídia, de onde tiramos diversas oportunidades e instrumentos, que chamamos de artefatos culturais, que nos permitem aprendizado, troca e o entendimento sobre a produção de sujeitos”, ressalta Santos. “O entendimento de uma Imprensa Negra Carnavalesca como algo diferencial e formador de um tipo específico de sujeito é um caminho norteador da pesquisa”, antecipa.