Sinpro/RS: Professores da educação superior trabalham em dobro e ganham menos na pandemia
A pesquisa identificou que o adoecimento da categoria se agravou durante a crise sanitária e os custos do trabalho remoto foram integralmente assumidos pelos profissionais sem apoio de empregadores
A pesquisa Realidade Docente 2021, realizada em abril pela consultoria FlamingoEDU, revelou que os professores da educação superior do ensino privado gaúcho tiveram uma redução da carga horária e acréscimo de trabalho durante a pandemia. A sondagem identificou também que o adoecimento da categoria se agravou durante a crise sanitária, e os custos do trabalho remoto foram integralmente assumidos pelos profissionais, com pouco ou nenhum apoio dos empregadores.
A pesquisa comparou dados do primeiro e segundo semestres letivos de 2020 e do primeiro semestre de 2021 e constatou acúmulo crescente de atividades sem a respectiva remuneração, esforço adicional em relação à carga horária em sala de aula, desembolso dos docentes com adequação do espaço físico e aquisição de equipamentos para a continuidade das aulas na modalidade remota, devido ao isolamento, e uma piora na condição física e mental dos docentes no atual contexto.
O estudo foi encomendado pelos sindicatos de professores (Sinpro/RS, Sinpro/Noroeste e Sinpro/Caxias) e realizado entre os dias 2 e 9 de abril, por meio de 13 questões respondidas por 1.195 professores da educação superior. Os entrevistados são majoritariamente (63%) professores das instituições comunitárias de ensino integrantes do Comung/Sindiman, 23% da base do Sinepe/RS, e 23% não souberam precisar o segmento ao qual a instituição empregadora pertence.
Redução de carga horária
Dos professores que responderam à pesquisa Realidade Docente 2021, 43% têm vínculo como horista com a sua instituição de ensino, 33% com tempo integral e 24% com turno parcial. Houve uma redução da carga horária no primeiro semestre de 2021 na comparação com o mesmo período de 2020, de 30,09 para 27,81 horas-aula, como reflexo da redução de turmas e alocações de alunos em turmas maiores, destaca a pesquisa.
O número de professores com 40 horas semanais também sofreu uma redução significativa, de 464 docentes no primeiro semestre de 2020 para 345 em 2021.
Além disso, o levantamento mostrou que aumentaram de cinco para 13 a quantidade de docentes com carga horária entre zero e 12 horas semanais. De acordo com os pesquisadores, a diminuição da carga horária evidencia uma estratégia das instituições para reduzir os custos dos desligamentos. “Estão se aproveitando da pandemia para demitir, pois a redução de carga horária reflete nos valores rescisórios”, aponta o consultor Gunther Gehlen.
ACÚMULO DE ATIVIDADES – Os professores revelaram que a pandemia também trouxe um acúmulo de atividades, funções e/ou responsabilidades à categoria sem o respectivo acréscimo desse trabalho na sua carga horária semanal. Para 57%, a sala de aula foi o principal fator que gerou essa sobrecarga, e 30% responderam que não perceberam esse aumento. As aulas demandaram até 50% de esforço adicional para 64% dos entrevistados, e 27% responderam que esse esforço foi até o dobro da demanda de tempo.
Professores bancam os custos do trabalho em casa
Os investimentos para adequar o espaço de trabalho em casa para poder continuar lecionando por meio de aulas remotas durante a pandemia foram bancados pelos professores, revela a pesquisa. As instituições de ensino se limitaram a oferecer treinamento, enquanto que os professores investiram em planos de dados, computadores, celulares e mobiliário.
A quase totalidade dos pesquisados (1.024) respondeu que bancou esses gastos, enquanto apenas nove disseram que o investimento veio da instituição de ensino. Predominam a aquisição de softwares e assinaturas de conteúdos web (426), compra de equipamentos (876) e de internet e planos de dados (1.045).
A aquisição de computadores, smartphones e mobiliário teve o maior peso no desembolso dos docentes, em média R$ 3.143,02.
“Em outros setores, o profissional que foi trabalhar em casa recebeu uma estrutura de trabalho e apoio da empresa. No caso dos professores, isso não ocorreu. Uma ou outra instituição fez algum investimento, mas os desembolsos maiores foram feitos pelos professores”, observa Heitor Strogulski, um dos consultores responsáveis pela pesquisa.
MAIS ADOECIMENTO – Na comparação com o período anterior à pandemia, houve um agravamento nas condições de saúde para 77% dos entrevistados, sendo que 55% dos professores disseram que sua condição física e mental “piorou” e 22% acham que “piorou muito”. Para 19%, permaneceu igual e melhorou para apenas 4% dos pesquisados.
AULAS PRESENCIAIS – Insegurança e apreensão foram os sentimentos manifestados por 76% dos entrevistados quando perguntados sobre o que esperam de um possível processo de retomada das aulas presenciais. O retorno gera insegurança em 42%, apreensão em 34% e confiança em 18%.