Sinpro SP: Ambiente escolar saudável requer garantia da saúde mental docente
Autoconhecimento e boas condições de trabalho dos professores e professoras devem andar lado a lado com as estratégias pedagógicas
Por SinproSP: “É uma prioridade que a escola parta da perspectiva de que professores que estão razoavelmente bem de saúde mental são agentes de cenários e de ambientes com um clima mais saudável”, aponta Gustavo Estanislau, médico especialista em psiquiatria da infância e da adolescência pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre e Membro do Instituto Ame sua Mente, ao destacar a importância do Setembro Amarelo como referência de acolhida e conscientização.
Em entrevista ao SinproSP No Ar, podcast do Sindicato dos Professores de São Paulo, ele explica que as estratégias básicas de cuidados são as mais fundamentais, como alimentação saudável, uma boa rotina de sono e o autoconhecimento: “Como é que eu sou? Uma pessoa que tem uma tendência a não ser muito irritável. Se eu começo a perceber que estou diferente disso, algo não está legal e devo buscar uma forma de me ajudar”.
Também autor dos livros Saúde mental na escola: o que os educadores devem saber (ed. Artmet) e Dilemas na educação: novas gerações, novos desafios (ed. Autêntica), o especialista ressalta que é interessante ter um profissional especializado em saúde mental para recorrer, como um psicólogo ou psiquiatra, mas que, na correria do dia a dia, nem sempre é perceptível esse movimento. “E é muito por aí os casos em que os professores começam a adoecer. A coisa vai andando até que o nível de estresse aumenta muito e a pessoa entra já neste processo de sofrimento.”
De acordo com uma pesquisa de 2023 da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com professores do ensino básico do Brasil e de Portugal, a principal causa de adoecimento docente (53,3%) são os transtornos mentais comuns, como ansiedade, depressão e sofrimento emocional.
“Um colega docente sobrecarregado, com sua autonomia de trabalho retirada ou sem o apoio adequado para lidar com questões relacionadas aos alunos, que inclusive podem ser as de inclusão e saúde mental, acaba sofrendo bastante. É muito difícil não ficar doente neste cenário”, aponta Rita Fraga, diretora do SinproSP.
Para ela, todas as pessoas da comunidade escolar precisam saber identificar quando há violações e problemas recorrentes, que afetam a todos, de alunos a professores, de pais a coordenadores. “No sindicato nós criamos também espaços de acolhimento, de troca, de conversa com os professores. Percebemos que há uma falta disso, desses momentos de conhecer e escutar o colega mais a fundo, se ver no outro. É uma forma de prevenir este adoecimento”, completa.
Professores como agentes de cenário
Em contato direto com os estudantes, os docentes são, muitas vezes, os primeiros a perceber que há algum problema ou dificuldade por parte dos estudantes. “É interessante que o professor tenha alguns conhecimentos básicos para poder identificar os tipos de sofrimento que acontecem com as crianças e adolescentes”, conta Gustavo.
O psiquiatra aponta que as crianças e adolescentes têm desenvolvido transtornos mentais cada vez mais cedo, mas que a partir de informação e conscientização, como é a campanha Setembro Amarelo, é possível reduzir esse risco.
Nesse contexto, em janeiro deste ano foi criada a Política Nacional de Atenção Psicossocial nas Comunidades Escolares, em processo de implementação pelo Programa Saúde na Escola, que já opera nas redes de ensino e que apresenta bons resultados na promoção de hábitos saudáveis e no reconhecimento e prevenção de violências sofridas pelos jovens.
“É um começo, mas são iniciativas que acontecem apenas no ensino público, e nem sempre em todas as escolas. Infelizmente, é preciso mais do que isso, e de uma forma que atinja a todos os que estão presentes no dia a dia do ensino”, afirma Rita. Ela lembra que a responsabilidade da saúde mental dos estudantes não pode ser transformada em mais uma carga para os professores, e que as instituições de ensino devem prezar pela contratação de pessoas especializadas neste cuidado.
“É preciso frisar que o conhecimento dos professores não deve ser usado para fazer diagnósticos. É apenas uma ferramenta, um indicativo para identificar se tem algo que não está bem no aluno”, finaliza Gustavo.
Ouça o episódio do SinproSP No Ar que conversa com Gustavo Estanislau sobre o Setembro Amarelo clicando aqui
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