Sinprosasco: Queremos voltar ao ensino presencial
Vivemos um dos maiores desafios de nossa geração: lidar com a pandemia de Covid-19 e seus efeitos terríveis, inclusive na Educação. Nós, professoras e professores, trabalhamos exaustivamente noite e dia para nos adaptar a condições dificílimas de trabalho – imprescindíveis no combate à disseminação do vírus. Com a determinação da volta às aulas presenciais, precisamos ser escutados.
O país tem 10 milhões de casos confirmados de Covid-19. Devemos esperar o fim da pandemia para o retorno ao ensino presencial?
Entendemos que a volta só deve ocorrer quando os riscos estiverem minorados ao máximo. O ideal seria que ocorresse quando a população estivesse vacinada. Se os rumos não forem radicalmente alterados, demorará ainda muito para que a população esteja protegida – o que aumenta o risco de novas mutações do vírus. Temos a obrigação de lutar pela vacinação com urgência de toda a população brasileira.
Mesmo que profissionais da Educação venham a ser vacinados logo, escolas continuarão a ser locais de grande contaminação, já que crianças e adolescentes não serão imunizados.
Tornou-se corrente a afirmação de que as escolas no Brasil estão há mais tempo fechadas do que em outros países. Mas a maior parte dos países só voltou às aulas presenciais quando a contaminação tinha baixado significativamente e, desde então, muitos já voltaram a fechar suas escolas.
Somos solidários a quem não tem com quem deixar seus filhos ou suas filhas, a quem não pode trabalhar remotamente e àqueles que não têm trabalho e precisam de um auxílio emergencial que demora a ser renovado.
O sofrimento de crianças e adolescentes com a falta da convivência no espaço escolar nos toca profundamente. Temos dedicado nossas vidas à Educação e sabemos a importância da escola como espaço de desenvolvimento social, intelectual e emocional.
Para retomar as aulas presenciais que tanto almejamos, precisamos encarar a realidade: é necessário haver segurança. Além de colocar em risco toda a comunidade escolar, a reabertura das escolas aumenta a circulação na cidade, agravando a pandemia.
Estão nos obrigando a voltar sem que haja condições para isso. Mesmo escolas com mais recursos não têm as condições básicas para uma volta segura, com salas bem arejadas, testagem massiva e máscaras adequadas, no padrão N95 PFF2 para todos. A realidade da maioria das escolas particulares é ainda mais precária. Alguns professores relatam que as escolas nas quais trabalham escondem casos de contaminação. Isso é assustador.
Na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental não existe possibilidade de distanciamento – dificílimo também nos outros ciclos. Como deixaremos as crianças que se machucarem sem colo? Como trocar fraldas ou mesmo ajudá-las a se trocarem quando o xixi “escapa”? Como ensinar a segurar o lápis sem segurar suas mãozinhas? Como enxugar suas lágrimas quando contarem que perderam uma pessoa querida?
O risco é colossal. A responsabilidade de todos nós também.
Celso Napolitano é professor e presidente da Federação dos Professores do Estado de São Paulo.
Fábio Souza é professor de História na rede particular de São Paulo e do ABC e ator teatral.
Dedé Ribeiro, professora de História do Ensino Médio em uma escola particular em São Paulo e psicanalista.
Jopa Fiuza é professor de Educação Física em três escolas particulares em São Paulo.