SinproSP: A polêmica faculdade privada dentro da USP
Em sua coluna de 17/07, no jornal Folha de S. Paulo, o jornalista Elio Gaspari causou surpresa a provavelmente muitos leitores. Reservou um grande espaço para escrever um elogioso artigo ao banqueiro André Esteves, do BTG-Pactual, por ter “doado” R$ 200 milhões para criação de uma faculdade particular de tecnologia, sem fins lucrativos, mas com mensalidades de R$5.500, equivalente ao que é cobrado no mercado.
Segundo Gaspari, o Instituto de Tecnologia e Liderança (Inteli) começou a funcionar com 180 alunos, metade com bolsas parciais ou integrais, sem dizer quantas de cada tipo. Os outros 90 alunos pagam mensalidade de R$ 5.500. O jornalista ainda informa que a iniciativa recebeu recursos de grupos empresariais e “zero dinheiro da Viúva”.
O que Gaspari deixou de informar é que a faculdade foi criada dentro da cidade universitária da USP, mas precisamente no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), colado na Escola Politécnica, dois dos principais pólos de pesquisa do país. Não foi uma escolha casual e nem é “zero dinheiro da Viúva”, já que o prédio da Inteli foi construído no campus da principal universidade pública do país (segunda melhor da América Latina, 115º do mundo).
No mesmo dia 17, o jornalista Luís Nassif criticou o texto de Gaspari num excelente artigo publicado no site GGN (Para entender o artigo de Gaspari sobre a benemerência do BTG). Ele se perguntou o que teria levado um jornalista de competência reconhecida a escrever e publicar um artigo que ele (Nassif) chamou de “release”.
Indo para os fatos, Nassif lembrou que a Poli e o IPT são verdadeiras usinas de startups porque produzem ciência, pesquisa, conhecimento, e o BTG é um banco de investimentos. Até mesmo o fato de a faculdade estar localizada dentro da USP poderia dar ao BTG a possibilidade de escolher ou direcionar projetos segundo os seus interesses.
Há, ainda, uma questão bizarra: é injustificável a existência de uma faculdade privada numa universidade pública que já oferece graduações na área de engenharia e ciências da computação (na Poli e no IME). Não tem sentido, a não ser abrir novas brechas para a privatização da universidade pública.
A relação incestuosa entre interesses públicos e privados nas universidades públicas não é nova e o exemplo mais conhecido são as chamadas “fundações privadas”. Criadas, em tese, para alavancar mais recursos para as unidades de ensino e pesquisa, muitas acabaram desvirtuadas, transformando-se num mercado milionário de cursos pagos de MBA/lato sensu que usavam a estrutura e o acervo da universidade pública e ainda contavam com a sua chancela, que não deixava de ser uma grife atrativa para atrair alunos.
Ainda sobre privatização, vale lembrar a polêmica proposta de emenda à constituição (PEC 206), incluída na pauta de votação em maio último, que tornava obrigatória a cobrança de mensalidades nas instituições públicas de ensino. Diante do ruído causado, os seus defensores recuaram e a PEC foi retirada de pauta.
O que se depreende disso tudo é que a privatização do ensino superior público pode vir por diversos caminhos e não apenas pela cobrança de mensalidades. Taí o BTG que não deixa mentir.