SinproSP: Sindicato quer priorizar professores para vacinação contra Covid
O SinproSP, sindicato que representa os professores do ensino particular no município de São Paulo, quer que a categoria seja incluída em grupo prioritário para a vacinação contra a Covid-19 ou mantenha o ensino remoto a exemplo do que ocorreu em 2020.
Segundo a Secretaria Estadual da Educação de São Paulo, o retorno às aulas está marcado para 1º de fevereiro. Nas duas primeiras semanas, as escolas receberão até 35% de sua capacidade de alunos por dia.
Depois, se uma área estiver nas fases vermelha ou laranja do Plano São Paulo, as instituições da educação básica, que atendem alunos da educação infantil até o ensino médio, poderão receber diariamente até 35% dos alunos matriculados. Na fase amarela, elas ficam autorizadas a atender até 70% dos estudantes e na verde, 100%.
No ensino superior, as instituições poderão funcionar na fase amarela com até 35% das matrículas, e na verde, com até 70%. Nas etapas vermelha e laranja deverão permanecer fechadas. Cursos superiores específicos da área médica têm o retorno presencial autorizado em todas as fases do Plano.
A carga horária mínima anual obrigatória será de 800 horas para o ensino fundamental e médio, mas no mínimo 1/3 dessas horas deverão ser de forma presencial. As diretrizes valem para o ensino público e privado.
Para Luiz Antônio Barbagli, presidente da entidade, o problema é que o professor estará em contato diariamente com um grupo renovado de alunos.
“Não entendemos o porquê da pressa. O aluno não está só em contato com o professor. Ele usa a van escolar, vai à cantina, quando sai da escola tem alguém vendendo alimento, há o contato familiar”, afirma.
O sindicato também exige que haja normas de funcionamento e fiscalização para as escolas particulares e que estudantes e trabalhadores sejam testados.
O Sinpro representa 60.000 professores no município de São Paulo, do infantil ao ensino universitário.
Destes, cerca de 20% se enquadram em grupo de risco para a Covid-19, seja pela idade, doença crônica ou gravidez. Este público está protegido por uma liminar emitida pelo Tribunal Regional do Trabalho, que proíbe a volta ao trabalho presencial.
O sindicato solicitará uma audiência com o Secretário Municipal da Saúde, Edson Aparecido, para que os professores do município de São Paulo tenham prioridade na vacinação. A segunda opção será buscar judicialmente a anulação da convocação para o retorno presencial.
O Ministério da Saúde, que define os grupos prioritários, afirmou que os trabalhadores da educação estão incluídos nestes grupos e serão contemplados na continuidade das fases, conforme aprovação, disponibilidade e cronograma de entregas das doses a serem adquiridas. Segundo o plano de vacinação do governo federal, antes deles serão imunizados os profissionais da saúde, idosos, população indígena, comunidades ribeirinhas e quilombolas, e pessoas com comorbidades.
Professora de português do sexto ano ao ensino médio para alunos do Colégio Vinícius de Moraes, na Vila Nova Cachoeirinha (zona norte), Sheila Hallai, 47, é obesa e hipertensa.
“Não vou dizer a você que não esteja com medo de voltar para as aulas presenciais, mas temos que voltar e nos cuidar. Penso na responsabilidade que tenho com meus alunos, que já foram prejudicados o ano passado. Nós [professores] pensamos muito mais nos alunos do que em nós. Não adianta estar professor, tem que ser professor para dar certo.”
A professora Gisele Nogueira, 44, é asmática e, portanto, do grupo de risco para Covid-19. Ela leciona história para o ensino fundamental e médio do Colégio Rio Branco, da Granja Viana, em Cotia (Grande SP).
Desde meados de outubro de 2020, o município liberou a volta presencial das aulas. “O colégio fez uma consultoria com o Hospital Sírio Libanês para estabelecer os protocolos de biossegurança. No ambiente regulado, onde os protocolos são seguidos, a probabilidade de contaminação é pequena. Se alguém contraiu Covid não foi dentro da escola”, afirma.
Para Nogueira, é difícil falar pelo todo. Nem toda escola tem condição de adotar uma postura zelosa e seguir as recomendações. “O grande problema são as desigualdades. É uma responsabilidade grande porque lidamos com vidas de crianças e jovens. O medo existe, mas é necessário enfrentar.”
Marcio Scarpellini Vieira, 41, mantenedor do Colégio Ouro Preto, na Mooca (zona leste), defende o retorno presencial das aulas. A escola está adaptada e pronta para receber alunos e funcionários.
“As aulas remotas foram prejudiciais aos alunos no sentido da sociabilização. Essa é uma parte muito importante da vivência da criança e do adolescente na escola. O prejuízo social foi indiscutível e é dele que temos mais receio”, diz Vieira.
A instituição tem 520 alunos, da educação infantil ao ensino médio. Vieira diz que há famílias desesperadas pelo retorno e outras que possuem situações de saúde e ficam receosas, mas há uma tendência predominante favorável à volta presencial. As salas de aula comportam 40 estudantes, mas antes da pandemia já eram limitadas a 28. Mesmo com o retorno presencial, o colégio ofertará algumas disciplinas online.
Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo) garante que a maioria das escolas particulares está preparada para a volta presencial.
“O professor que não quiser voltar tem que parar de dar aula e procurar outra profissão, até porque quem é professor deve ter compromisso com o aluno. A retirada do convívio social foi extremamente prejudicial às crianças”, diz Silva.
Médico sanitarista e professor de saúde pública da USP, Gonzalo Vecina Neto ressalta que a volta não pode ocorrer como se nada estivesse acontecendo e deve-se observar que as escolas têm condições diferentes.
Neto defende escolas com no máximo 30% do efetivo e um conjunto de trabalhadores da educação que não faça e nem more com gente do grupo de risco. O mesmo para os alunos.
“Temos que reativar a importância da associação de pais e mestres. Seria importante que eles decidissem se há condições de voltar e como voltar. Discutir planos específicos para cada escola. Se aparecerem casos, fechamos a escola novamente. Não dá para ter um ano como foi o passado. Devemos tentar encontrar alternativas ao nada. Continuar com o nada é muito criminoso com as crianças”.