Sintep-AL: Dia da escola – Para pedagoga poucas escolas estão preparadas para a criança
No dia 15 de março, celebra-se o Dia da Escola e para além dessa data, ninguém duvida que a escola é uma importante instituição para formação do indivíduo. A longa jornada escolar preenche grande parte da vida humana e compreende ser um lugar de muita marca até a vida adulta. Com esse entendimento unânime e também que é na primeira infância onde acontece a base do desenvolvimento da criança como ser humano, aproveitamos para perguntar: será que as escolas estão realmente preparadas para lidar com a complexidade do universo infantil? Será que elas estão preocupadas com a constituição subjetiva das crianças?
Para a pedagoga e professora alagoana Accacia Agnes, a resposta é “não”: “infelizmente a maioria das escolas não estão preparadas para trabalhar com o processo de aprendizado emocional inteligente das crianças, uma vez que há uma intensa cobrança para que ela aprenda”.
Ela explica que a escola deve ser um lugar para além do desenvolvimento cognitivo e deve estar preparada para trabalhar o desenvolvimento emocional: “lidar com as emoções é um processo que deve ser estimulado ainda na infância, pois é uma fase de aprendizado constante em que a criança passa pelo processo emocional de forma intensa. Trata-se de como o indivíduo consegue aprender a lidar com suas emoções e também ter empatia pelo processo emocional dos outros”.
A Base Nacional Comum Curricular, BNCC, define os direitos de aprendizagens de alunos do Brasil e trouxe mudanças na elaboração dos currículos locais, formação inicial e continuada dos professores, material didático, avaliação e apoio pedagógico aos alunos e ecoou importância à necessidade de respeitar o mundo infantil com planejamento coerente com a criança, respeitando seus saberes e suas necessidades de aprendizagem.
No entanto, a escritora e psicanalista Mariana Moura, mãe de uma criança na educação infantil, conta que encontra muita dificuldade de conexão com a escola: “sinto que as escolas se fecharam numa caixa e se conservaram num modelo que não corresponde às necessidades das crianças da atualidade e esse é um grande problema nas relações entre escola e família, que parecem viver momentos diferentes de interpretação de mundo”.
O renomado pediatra e professor Daniel Becker aponta, em seus trabalhos e entrevistas, que a escola como instituição não está inteiramente preparada para lidar com muitas das questões emocionais e que deveria ter um corpo de saúde mental.
Nesse sentido, Accácia reafirma que “as escolas precisam incluir em seu planejamento pedagógico atividades e estratégias que trabalhem a inteligência emocional das crianças, pois a capacidade que o indivíduo tem de conhecer suas emoções e lidar de forma saudável com elas faz com que as crianças cresçam e sejam pessoas mais inteligentes e bem sucedidas emocional e socialmente” e que “pouquíssimas escolas estão preparadas para lidar respeitosamente com o universo da criança”.
Entretanto, ela conta que esse déficit das escolas hoje se deve muito ao fato de que “o próprio adulto não teve a oportunidade de poder saber aprender a lidar com suas próprias emoções”, mas que ainda assim, tudo isso pode ser superado através do conhecimento: “buscar conhecimento é a melhor forma de ampliar os horizontes e poder trabalhar com a criança o desenvolvimento emocional de forma inteligente” e esclarece que “não deve haver pressa de aprender e sim a perspectiva de despertar o desejo de saber”.
No dia da escola, fica a reflexão de que talvez esta seja uma ótima oportunidade para reformar o papel da escola no acolhimento das crianças.