Sintrae-MS: Após 23 anos, trabalhadores das escolas e universidades privadas do MS sinalizam greve
Professores e auxiliares administrativos das escolas e universidades privadas de Mato Grosso do Sul sinalizam greve da categoria, no mês de junho. A última paralisação, ocorreu há mais de duas décadas e durou 13 dias, diante de um mesmo cenário: reivindicação por reajuste salarial.
O presidente do Sintrae-MS (Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino do Estado de Mato Grosso do Sul), professor Eduardo Botelho, explica que a categoria tentou a negociação, mas enfrentou a resistência patronal que ofereceu apenas 2,5% de reajuste aos pisos salariais e horas-aulas da educação básica, nível fundamental (I e II), ensino médio e 2% para o ensino superior. Será ajuizado Dissídio Coletivo na justiça do trabalho, além disso, os trabalhadores articulam assembleia para definir sobre o Estado de Greve.
“Ocorreram cinco rodadas de reuniões, no entanto os índices apresentados pelas entidades patronais foram ínfimos. Embora a sociedade não imaginasse possibilidade de paralisação da nossa categoria, ela pode de fato ocorrer, isso porque os trabalhadores estão indignados com o descaso. Apesar dos altos valores das mensalidades, as instituições de ensino insistem em lucrar mais, mesmo que para isso desvalorizem os salários daqueles que contribuem pela qualidade do ensino, isso é inaceitável”, destaca.
Atualmente, os pisos, níveis de salários normativos são os seguintes:
A- Educação Infantil – R$ 10,72
B- Ensino Fundamental I – R$ 10,72
C- Ensino Fundamental II – R$ 12,33
D- Ensino Médio – R$ 20,26
E- Cursos Livres e Idiomas – R$ 20,26
F- Educação Superior – R$ 36,37
G- Auxiliar Administrativo – R$ 1012,26
H- Auxiliar Docente – R$ 1012,26
I- Auxiliar de Serviços Gerais – R$ 976,34
Segundo o presidente, 90% da categoria recebe conforme o piso salarial acima. “A categoria reivindica um reajuste que valorize cada profissional, que seja coerente com a realidade vivenciada no dia a dia, que vá de acordo com o aumento das contas básicas como água, luz, gasolina, produtos alimentícios, saúde, educação, entre outros. É evidente que os índices inflacionários recentemente apresentados pelo governo federal são maquiados, basta ir ao supermercado para se deparar com os altos aumentos dos produtos. O Sinepe (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Mato Grosso do Sul) e principalmente a Kroton – o maior grupo educacional do Brasil – foram intransigentes, travando as negociações com propostas tão distantes da expectativa dos trabalhadores”, critica Eduardo Botelho.
Lucro x educação
Grandes grupos privados de ensino, inclusive conglomerados internacionais, se instalaram em Mato Grosso do Sul. Entre o grupos está a Kroton Educacional, responsável pelas maiores universidades privadas do Estado.
De acordo com matéria veiculada — no mês de março de 2018 — pelo Jornal Valor Econômico, no acumulado do ano de 2017 a Kroton registrou lucro líquido ajustado de R$ 2,1 bilhões, 6,4% superior ao estimado pelo grupo e a receita foi de R$ 5,5 bilhões, com avanço de 6%.
Em 2018, a Kroton comprou a Somos Educação (antiga “Abril Educação” – dona do Anglo, Editora Àtica, Editora Saraiva e Scipione), maior grupo de educação básica do país, no valor de R$ 4,6 bilhões.
“Pela dificuldade das negociações salariais da educação do setor privado, não apenas no Mato Grosso do Sul, mas em todo o país, torna-se evidente de que estão transformando a educação em mercadoria, conglomerados internacionais já dominam a educação superior e hoje buscam dominar também a educação básica, neste cenário o educador e alunos parecem ser vistos apenas como fontes de lucro”, aponta o presidente da Fitrae MTMS (Federação Interestadual dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino nos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), professor Ricardo Fróes.
Entraves
Nas quatro rodadas de negociação, representante da Kroton foi inflexível, induzindo as demais instituições a apresentar baixo índice de reajuste salarial. A categoria questiona o motivo de um grupo educacional com lucros nas alturas, tentar colocar tão para baixo um reajuste que refletirá na qualidade de vida dos seus colaboradores professores, auxiliares administrativos e auxiliares de serviços gerais. Para nós, a palavra que expressa esta situação é: Descaso », critica o presidente do SINTRAE-MS, Eduardo Botelho.
Greve
Em junho, após ajuizar o Dissídio Coletivo, a categoria participará de Assembleia Geral Extraordinária, na qual votará a aprovação de Estado de Greve, ou seja, a partir dessa deliberação, a qualquer momento os trabalhadores poderão cruzar os braços.
Por Adriana Miceli, da assessoria de Imprensa Sintrae-MS