SP: Alckmin fecha 2.700 salas de aula
50 alunos ou mais por sala de aula, escolas caindo aos pedaços, baixa remuneração e nenhuma perspectiva de melhoria. O desafio de ser professor no estado de São Paulo é enorme e a gratificação é praticamente nula. As péssimas condições de trabalho implicam em problemas de saúde nos profissionais e, os alunos, engarrafados entre três paredes e um quadro negro, assistem ao desmonte de sua formação.
Definitivamente, o ano letivo não começou bem para a educação. Isso porque, ao voltar das férias, grande parte do corpo docente percebeu que teria que encarar salas com mais de 50 alunos, muitas vezes até mais.
Para o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) o governo do PSDB liderado pelo governador Geraldo Alckmin tem adotado uma prática de desmonte paulatino da educação ao fechar salas das escolas estaduais com a justificativa que antes haviam muitas salas vazias. Em alguns casos, as escolas teriam se recusado, inclusive, a fazer o registro de solicitações de matrícula. Como se não faltassem problemas, a Secretaria da Educação ainda deixou de repassar a verba que deveria ter entregado no fim do ano passado para manutenção e reforma das escolas.
Fechamento e superlotação
“Nós iniciamos o ano letivo assustados”, contou o professor de história, Sílvio de Souza, que leciona na Escola Estadual Salim Farah Maluf, na Zona Leste da capital. “Na escola em que eu trabalho tem turmas do ensino regular, do fundamental 1, 2 e do ensino médio com salas superlotadas. Os primeiros anos do ensino médio da escola onde eu trabalho, à tarde, tem mais de 60 alunos. Tenho lista com 63 alunos, 62, 58… Quer dizer, eles pegam 180 alunos e dividem em 3 turmas.”
A superlotação das salas denunciada pelo professor não é arbitrária e esse ano foi motivada pelo fechamento em massa de salas de aula. A gravidade da situação ficou ainda mais patente quando, após diversas denúncias de professores, um levantamento parcial realizado pelo sindicato revelou que, entre 2014 e 2015, 3.000 salas foram fechadas pela Secretaria da Educação. As regiões mais afetadas são Guarulhos, onde 300 salas foram fechadas, e Santo Amaro, com 250 salas. Com isso, os alunos acabam sendo agrupados nas salas restantes, o que resulta na superlotação.
A prática de fechar turmas e lotar salas já era comum na Educação de Jovens e Adultos (EJA) mas nunca fora aplicada em massa no ensino regular. “Eu já trabalhei com turmas do EJA de anos anteriores que a lista chegava a 90 alunos”, disse o professor. O que ocorria nos anos interiores era o fechamento de 15 a 20 salas em cada 100 escolas. Agora, apenas na Diretoria de Ensino Leste 3, que tem 77 escolas, houve mais de 100 salas fechadas.
A determinação oficial da Secretaria é que no primeiro ciclo do ensino fundamental haja 30 alunos por sala, no segundo ciclo, 35, e no ensino médio, 40. No entanto, imagens das listas de alunos feitas pelos professores tem comprovado que o que há na realidade são salas com 50, 70 e até 80 alunos.
Ensino prejudicado
No fim, a principal vítima da situação é o ensino, dado que, com a quantidade de alunos em sala, é praticamente inviável que a aula ocorra. “Como você consegue dar um atendimento individualizado, tirar uma dúvida, conseguir estar mais presente com o aluno no cotidiano? É impossível. A chamada é quase uma odisseia”, diz Silvio. Em muitos casos os alunos nem conseguem entrar na sala, que com 40 alunos já esgotou sua capacidade física. Por isso, segundo relatos de professores, a primeira semana foi usada quase que exclusivamente para tentar fazer com que todos os alunos coubessem nas salas designadas. Em algumas escolas, os bancos do pátio foram levados para dentro para que os alunos pudessem se sentar.
A consequência para os professores é ainda pior e pode levar a um quadro de afastamento da profissão. Segundo Silvio, “é uma tortura. Isso, inexoravelmente vai levar a um adoecimento maior dos professores. Em um cotidiano de sobrecarga de trabalho você se estressa muito mais, você tem que usar muito mais a voz, você tem uma quantidade de tarefas maior, preparar atividades e corrigir trabalhos.”
Cortes
No fim do ano passado, a Secretaria de Educação enviou um ofício às 5.300 escolas do estado dizendo que, em função da necessidade de fechar as contas, antes do fim do último mandato do governo de Geraldo Alckmin, não seria repassada a verba destinada à compra de materiais de escritório, limpeza e pequenas obras. Geralmente os colégios recebem, anualmente, R$ 7.900,00. Com o corte, as escolas passaram a sofrer da falta de materiais básicos como papel higiênico e sulfite.
O sindicato aponta como principal culpado pela situação precária nas escolas o governo do PSDB no Estado. Para a presidente da Apeoesp, Maria Izabel Noronha, os gastos com a última eleição e a necessidade de fechar as contas do governo estadual fizeram com que o governo enxugasse a máquina. Tanto é que, assim que assumiu o novo mandato, o governador tucano Geraldo Alckmin anunciou o corte de 10 mil vagas no ensino técnico estadual, o que representa 50% de todas as vagas e o contingenciamento de 3% do orçamento da pasta para educação, que corresponde a cerca de R$ 850 milhões.
Mais do que isso, a presidente aponta que a própria ideologia do PSDB faz com que se faça cortes no setor público: “Essa é a tônica do PSDB, a lógica de estado deles é de estado mínimo. Aí qualquer probleminha que aparece, onde eles vão mexer? Onde a população mais precisa, nos serviços públicos, a educação, a saúde, a segurança. Eles não vão mexer nas grandes obras. Isso vem desde 1995 quando pela primeira vez o governador Mário Covas instituiu a reestruturação física das redes, a título de dizer que com isso melhoraria a qualidade de ensino. E a partir daí fomos assistindo esses 30 anos de tucanato no estado de São Paulo com essa visão de gestão pública, fazendo com que amplos setores da população paguem o preço.”