Trabalho discute potencial do Twitter como espaço público

A repercussão mundial conseguida pelos iranianos por meio da internet, principalmente por meio Twitter, com as publicações de relatos sobre os protestos contra a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad em 2009 foi o assunto de trabalho desenvolvido por Juliana Larissa de Laet Gomes, na Unesp de Marília.

Graças a pesquisas empíricas realizadas com brasileiros envolvidos com o tema, Juliana, orientada por Heloisa Pait, docente do curso de Relações Internacionais da Unesp de Marília, analisou o potencial do Twitter de se constituir num espaço público de discussão e interação de pessoas que discutem temas de interesse comum.

As entrevistas por ela realizadas mostram que a internet é uma fonte de informação bastante utilizada pelos brasileiros no acompanhamento dos fatos e que serve também como um instrumento que desperta o interesse deles a respeito dos temas tratados em âmbito global. “No entanto, não podemos ainda afirmar que o Twitter se constitui como espaço de debate global”, afirma.

Juliana partiu da ideia que movimentos sociais ocorridos em várias partes do mundo têm ganhado enorme visibilidade por meio da internet e, com essa visibilidade, surgem debates sobre estes temas na esfera pública global. “Pessoas comuns envolvidas nos conflitos encontraram nesse meio de comunicação uma forma de mostrarem ao mundo as lutas travadas dentro de seus países, suas opiniões e posicionamentos sobre os fatos”, comenta.

Segundo a pesquisadora, que integra grupo coordenado por Heloisa, cada indivíduo carrega consigo certas interpretações da realidade baseadas na sua construção social e pessoal, as chamadas “ideoscapes”. “Para os brasileiros, a luta travada no Irã representa uma luta pela democracia e pela liberdade. Um cidadão brasileiro observa o Irã, e muito do que acontece dentro deste país é inconcebível de acordo com a interpretação que ele tem da realidade”, afirma.

Juliana aponta que a internet é um instrumento muito importante ao permitir que entremos em contato com essas outras realidades e que nos identifiquemos com elas. Não afirma, no entanto, que a esfera virtual pode ser categoricamente classificada como esfera pública.

“Acredito que as discussões na esfera virtual ainda estão muito dispersas. Não há uma discussão direcionada como sendo de interesse geral. As opiniões são expostas constantemente, mas muitas vezes não são lidas. Não se transformam em demandas reais da sociedade por mudanças. São discussões que acabam por não gerar resultados ou um movimento comum dos interessados. Muitas vezes, um mesmo assunto é discutido em diversos pólos diferentes, e os argumentos não se encontram, fazendo com que sejam discussões um pouco pobres do ponto de vista argumentativo”, comenta Juliana.

Ela destaca o potencial da internet como meio de comunicação que pode vir a gerar uma conversação global entre as pessoas. “Ela pode ser considerada um local de discussão de assuntos de interesse comum, mas ainda as discussões aí travadas não caminham no sentido de produzir algum efeito e modificar a ordem vigente. No entanto, é um instrumento que permite a visibilidade internacional de diversos temas discutidos na esfera pública”, acredita.

Aponta ainda que a questão da visibilidade é extremamente importante, pois, para que haja interesse num assunto por parte de alguém, deve, antes, existir a possibilidade de conhecimento sobre o tema. “Ou seja, eu não me interesso por aquilo que não conheço. A internet, ao ser um espaço que coloca em evidência diversos temas, atrai a atenção das pessoas para que elas os discutam na esfera pública”, comenta.

A pesquisa aponta que a Internet hoje tem um papel muito importante como um meio que estimula a exposição de idéias e opiniões, atitude necessária para que haja discussões na esfera pública. Mas ela aponta um paradoxo: a possibilidade do anonimato permitida pelo ambiente virtual ajuda os tímidos a se sentirem encorajados a publicarem suas opiniões, mas contradiz um princípio importante da esfera pública: a glória que é dada aqueles que se expõem, que agem e discursam”, avalia.

O Twitter, por sua vez, segundo Juliana, conta com indivíduos que participam e julgam e que são, muitas vezes, leigos. “No Twitter, todos são publicadores, cada um publica suas idéias e opiniões em sua página pessoal. Mas novamente aqui coloco a mesma questão: quem está lendo?”, indaga.

Outra problematização é sobre o envolvimento real dos brasileiros em assuntos de política internacional. Estes temas tratados na esfera pública ainda parecem contar com pouca participação ativa do Brasil. “A internet, como já dissemos, é uma mídia que, como todas as outras, coloca em destaque diversos eventos que ocorrem ao redor do mundo. Mas ela se diferencia em relação à televisão, por exemplo, pela possibilidade do usuário de dar respostas em rede àquilo que ele lê”, avalia.

“Enxergamos no Twitter e nos serviços de microblogs em geral um modelo que pode vir a servir de ferramenta de divulgação de assuntos a serem discutidos na esfera pública. Ele mesmo pode vir a se tornar um espaço público. Acreditamos que a internet, com sua característica de ser constantemente inovadora, ainda trará muitos desafios aos pesquisadores que se interessam pela área”, conclui Juliana.

Fonte: Boletim Unesp

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