Tributo ao Doutor Ulysses Guimarães, o timoneiro das eleições diretas para presidente da República e da Assembleia Nacional Constituinte
Por José Geraldo de Santana Oliveira*
O primeiro-ministro inglês durante a segunda guerra mundial, Winston Churchill, ao discursar sobre um grande feito da Força Aérea Inglesa (RAF) na heroica luta contra o nazismo, disse: “Nunca tantos deveram tanto a tão poucos”.
Bem que essas palavras poderiam ser ditas sobre o Doutor Ulysses Guimarães, deputado federal por mais de 40 anos, sempre honrando, com altivez, galhardia, idoneidade e firmeza de conduta; baluarte da histórica mobilização nacional pelas eleições diretas para presidente da República, o que lhe rendeu o título de “Senhor Diretas”, movimento cívico que marcou o Brasil pelos séculos afora; destemido e inesquecível presidente da Assembleia Nacional Constituinte, de 1987 e 1988, responsável maior pela aprovação da Constituição da República Federativa do Brasil (CR), por ele chamada, com justiça, de a Constituição cidadã, pois que erigiu os alicerces para a implantação duradoura do Estado democrático de direito, ferramenta primeira da cidadania plena.
Certa vez, um general francês perguntou a um cacique canadense se ele era pai, obtendo a seguinte resposta: sim, de uma nação. Sabe-se que o Doutor Ulysses não teve filhos biológicos. Todavia, simbolicamente, pode-se dizer que ele é pai de uma nação: o Brasil.
Em discurso pronunciado na Câmara dos Deputados, em sessão da Assembleia Nacional Constituinte, aos 27 de julho de 1988, em resposta às críticas feitas pelo então presidente José Sarney, em cadeia de rádio de televisão, à nova Constituição que se anunciava, para logo depois, taxando-a de ser responsável pela ingovernabilidade, o Doutor Ulysses afirmou, em voz vibrante, como lhe era peculiar:
“(…) Esta Constituição, o povo brasileiro me autoriza a proclamá-la, não ficará como bela estátua inacabada, mutilada ou profanada. O povo nos mandou aqui para fazê-la, não para ter medo. Viva a Constituição de 1988! Viva a vida que ela vai defender e semear!”
Ah! Como o Brasil deve ao Doutor Ulysses.
O poeta sergipano Tobias Barreto, em seu poema Pressentimento, diz:
“(…) Não posso caminhar sozinho/Por entre as sombras que esta vida encerra,/ Minha alma ansiosa quer voar da Terra,/Deixai esta ave procurar o seu ninho./ No pó que habito não terei as rosas/ As doces preces que os felizes têm;/ Pobres ervinhas brotarão viçosas,/ E o esquecimento brotará também”.
É fato que a alma do Doutor Ulysses, há muito, voou da terra. Porém, ao contrário do que pressentia o citado poeta, o Doutor Ulysses tem as rosas de todos quantos amam o Brasil e a democracia. E, por todo o sempre, jamais será esquecido. Isto não é possível, hoje, e nunca.
O Poeta Horácio, há mais de 2 mil anos, lançou o seu brado: “Eu não morrerei de todo (Non omnis moriar)”.
Ao que parece, esse poeta já prenunciava o Doutor Ulysses e o seu incomparável papel na construção do Brasil, fundamentado no Estado democrático de direito.
Vivas ao Doutor Ulysses: por assim dizer, o pai do Brasil.
*José Geraldo de Santana Oliveira
Consultor jurídico da Contee