Um general a serviço do capital contra o trabalho
Segundo “O antagonista”, site direitoso comandado pelo jornalista Diogo Mainardi, o general Mourão, vice-presidente da República, foi efusivamente aplaudido em seis ocasiões durante um discurso de 29 minutos que pronunciou na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) para uma plateia de 700 empresários, que a nossa mídia de referência costuma classificar de “pesos pesados do PIB brasileiro”.
A façanha aconteceu terça-feira (26) na sede da federação empresarial, que desempenhou destacado papel no golpe de Estado de 2016, que foi essencialmente um golpe do capital contra o trabalho. Paulo Skaf, presidente da entidade, foi candidato derrotado a governador de São Paulo e, segundo a PF, teria embolsado pelo menos R$ 5,1 milhões ilegalmente através de Caixa 2 de campanha.
Pregação reacionária
Mourão provocou frisson nos ricos capitalistas ao criticar a política de valorização do salário mínimo, enaltecer a reforma trabalhista do golpista Temer, prometer novas rodadas de redução de direitos e defender o neoliberalismo, que em sua tosca concepção “nada mais é do que a defesa intransigente do direito à propriedade privada”.
Durante a campanha eleitoral ele já tinha prometido acabar com o 13º Salário, conquista suada da classe trabalhadora que na opinião de Mourão é mais um ônus para o patronato que deve ser abolido. O ideal nas relações entre capital e trabalho para o vice de Bolsonaro é retroceder às condições existentes no início do século 20, quando inexistia Direito do Trabalho no Brasil, a jornada diária era de 16 horas e trabalhava-se de domingo a domingo sem descanso semanal remunerado.
Isto nada tem a ver com o desenvolvimento nacional, é sob este aspecto um contrassenso. A política de valorização do trabalho, e em especial do salário mínimo, marca do governo Lula, foi por muitos apontada com razão como uma causa do crescimento econômico porque evidentemente fortaleceu o mercado interno ampliando a demanda e o consumo popular. Além disto, é uma modesta retribuição pelo esforço de quem realmente produz a riqueza nacional, assim como a aposentadoria e outros direitos. Em contraposição, o neoliberalismo é apenas fonte de miséria, desemprego e estagnação econômica.
De todo modo, a pregação reacionária soou como música nos ouvidos que compunham a requintada plateia, que voltou a cobrar empenho pela reforma da Previdência. O general anda todo saliente por esses dias nebulosos em que a crise institucional, agravada pela escandalosa incompetência da equipe que tomou conta do Palácio do Planalto, alimenta as apostas no fim prematuro do atual governo. Mourão quer ser a alternativa, não do povo mas das classes dominantes.
Ainda há quem acredite que vão encontrar nos chefes militares um porto seguro, de serenidade, racionalidade e estabilidade ou ordem e progresso, como sugere nossa bandeira. Lembrem-se de 1964, quando se aliaram aos EUA, aos latifundiários e à burguesia no golpe militar que instalou no Brasil um regime de terror, tortura e assassinatos. Escreveram uma página sombria da nossa história, que só foi virada pela vontade e força do povo brasileiro manifesta na memorável campanha das Diretas Já.
Umberto Martins