Unidade popular é fundamental para derrotar o golpe
Uma ampla unidade popular contra as “reformas” do governo ilegítimo de Michel Temer é fundamental não apenas para derrotar os ataques aos direitos trabalhistas e previdenciários, mas também para desmantelar toda a estrutura do golpe em curso desde o ano passado. Esse foi um consenso da mesa de abertura da reunião da Diretoria Plena da Contee, sobretudo tendo em vista a histórica participação dos trabalhadores do setor privado de ensino na paralisação de 15 de março e da grande mobilização da categoria para a Greve Geral do próximo 28 de abril. Greve que, como mostra a pressa para votar a reforma trabalhista, o governo e sua base temem profundamente. No entanto, o debate também observou ser fundamental a organização efetiva do movimento sindical e a ênfase de que o dia 28 não é o fim da luta e que a mobilização precisa ser permanente, ainda que as reformas sejam aprovadas.
O debate de conjuntura — mediado pela coordenadora da Secretaria-Geral, Madalena Guasco Peixoto, e pelo coordenador da Secretaria de Finanças, José Ribamar Virgolino Barroso — contou com a participação do historiador Valter Pomar, professor da Universidade Federal do ABC Paulista (UFABC) e do deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP). Os dois fizeram uma recapitulação dos acontecimentos, no Brasil e no mundo, que levaram ao atual momento político no Brasil e os cenários que se descortinam a partir de agora. Tanto da fala dele quanto dos diretores da Contee que fizeram suas intervenções ao longo da discussão, o que ficou patente é a necessidade de uma reação forte da classe trabalhadora e das forças progressistas.
A crise do capital
“O ponto de partida é a crise internacional de 2008, que alterou as condições de disputa no mundo e na América Latina”, destacou Pomar. Segundo ele, a reação dos governos dos Estados Unidos, da Europa e do Japão foi preservar o capital financeiro — que havia sido a causa da crise de 2008 — às expensas dos trabalhadores. Um dos efeitos disso, acirrado pela insatisfação dos trabalhadores com a esquerda, foi, no mundo inteiro, foi o crescimento do populismo de direita: um discurso nacionalista contra trabalhadores imigrantes e comunidades periféricas.
“Todos os países da região foram impactados pela crise de 2008 e aí começam os problemas dos governos de esquerda na região”, acrescentou o historiador. “O problema é que as medidas que adotamos aqui foram adotadas com a expectativa de que haveria uma mudança internacional, que os acordos do G20 seriam cumpridos. O golpe no Brasil ocorre nesse contexto, se aproveitando das debilidades e das insatisfações econômico-sociais.”
É nesse cenário que está o golpe contra o modelo de partilha do pré-sal, a autorização de venda de terras a empresas e investidores estrangeiros, o teto de investimentos públicos, a terceirização, a reforma trabalhista, a reforma da Previdência. “É um tripé: alinhar o Brasil com os interesses dos EUA, rebaixar o valor do trabalho no Brasil — salário e políticas sociais — e restringir as liberdades democráticas”, afirmou Pomar. “Estamos no momento que vai decidir se o golpe vai ser derrotado no curto prazo ou se vai se vai ter prosseguimento por um período mais longo. E a possibilidade de interromper no curto prazo envolve a luta social e a alternativa institucional, com o Lula. Isso vai se decidir agora: nos próximos dias, semanas e meses.”
O deputado Orlando Silva, por sua vez, também salientou que “vivemos uma das mais graves crises da história do Brasil”, com dois traços que merecem observação: “uma absoluta instabilidade e a maior ofensiva do capital contra o trabalho que já vivemos”.
Com a retomada da agenda neoliberal dos anos 1990 e a total desregulamentação do trabalho, Orlando Silva frisou que a economia não vai apontar nenhuma recuperação do crescimento. “Se fazíamos a crítica de que se trabalhava a inclusão pelo consumo, agora nem pelo consumo se trabalha”, apontou, acrescentando que o ambiente de instabilidade que pode ter desdobramentos inimagináveis, como já acontece com a crise institucional e com o choque de poderes. Uma crise na qual, como ele lembrou, nem as eleições de 2018 são uma garantia.
“Nossa tarefa e articular a luta popular de resistência contra as reformas do Temer. Tenho certeza de que a Contee e os sindicatos têm consciência disso e estão trabalhando nesse sentido”, declarou o parlamentar. “O movimento sindical é chamado a intervir.”
Da redação
Fotos: Alan Francisco de Carvalho, Cristina Castro e Valdir Kinn