Vannuchi: ‘Um partido que trata professores assim não pode se considerar democrata’
São Paulo – Em sua coluna de hoje (4) na Rádio Brasil Atual, o analista político Paulo Vannuchi falou sobre a mobilização dos professores paranaenses, que na última quarta-feira (29) foram vítimas de uma ação repressiva, violenta e desproporcional por parte da PM daquele estado, governado pelo tucano Beto Richa. O comentarista criticou a forma autoritária com que a polícia reprimiu os manifestantes – com balas de borracha disparadas contra a região da cabeça e em direção ao rosto, spray pimenta e até bombas de gás de efeito moral lançadas de helicóptero. “Um partido que trata assim nossos professores não pode se considerar democrata”, diz Vannuchi.
Para ele, faltou também ética da mídia tradicional para noticiar os fatos. “Se houvesse jornalismo digno desse nome, o que deveria sair nos jornais da televisão e os impressos no dia seguinte? Mas parece que a ordem é: ‘houve violência com os professores no Paraná? Mas o governo é do PSDB? Então, vamos diminuir a notícia, fazendo-a durar poucos dias’. Vannuchi questiona a seletividade da cobertura dos meios de comunicação. “Se fosse um governo estadual comandado pelo PT é evidente que haveria denúncias”, acusou. O analista disse ainda que um pedido de apuração feito pela Anistia Internacional deverá contribuir para a apuração das denúncias.
Segundo Vannuchi, agora que a principal razão para os protestos da semana passada – o projeto de lei que mexe nas regras para a aposentadoria dos servidores estaduais – já passou pela Assembleia Legislativa paranaense, Richa vai usar os fundos da previdência dos trabalhadores. O governador fez sua campanha para a reeleição alardeando a saúde financeira do estado, para admitir uma quase falência semanas depois de ter vencido nas urnas no primeiro turno.
O comentarista também lembrou que o Paraná tem história de repressão violenta contra professores, citando uma greve de 1988, quando coincidentemente em São Paulo (onde os professores estão igualmente em greve) e no Paraná a resposta policial foi com força desproporcional. Na ocasião, sob comando do agora senador Álvaro Dias, também do PSDB, a ação militar deixou dez feridos.
“Lamento que isso esteja acontecendo também com Beto Richa, sendo um triste retrato do que é o PSDB hoje. Lembrando de seu pai, José Richa, governador eleito em 1982. Geração seguinte, vemos seu filho se transformando num líder político assemelhado àqueles antigos parlamentares da extrema direita. Acontece algo parecido com Aécio Neves, líder mais próximo da extrema-direita, e neto de Tancredo Neves, que era intermediador entre os militares e os movimentos sociais”, afirmou.
Vanucchi registrou um fato positivo do episódio da quarta-feira (29), destacando a “estreia” para o grande público do ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro: “A boa intervenção, lúcida, do ministro, que publicou na internet o quanto ficou chocado com o episódio e disse que ‘não se pode bater em quem ensina nossos filhos'”.
O analista aproveitou para avaliar os maiores atos públicos em comemoração ao Dia do Trabalho, ambos realizados em São Paulo, respectivamente pela CUT (e outras centrais e movimentos sociais) e o outro, pela Força Sindical. “O 1º de Maio mostrou uma CUT aguerrida, uma liderança de Lula, que disse que vai para a estrada rearticulando os movimentos sociais em contraposição a essa ofensiva da direita, para que o Brasil não se torne nunca mais um palco de repressão e de sangue derramado por professores que lutam para manter seus direitos.”