Vários sotaques, mesmo idioma: a luta por direitos e democracia

Desde domingo (6), é grande a movimentação no Ginásio Falcão, na Praia Grande, onde está sendo realizado o 13º Congresso Nacional da CUT “Lula Livre” – Sindicatos Fortes, Direitos, Soberania e Democracia. Os mais de dois mil sindicalistas de diversas regiões trouxeram em suas bagagens os desafios e as perspectivas de luta por direitos de trabalhadores e trabalhadoras de todos os cantos deste país.

Como na época de sua fundação, a classe trabalhadora, a CUT e o movimento sindical vivem uma série de ataques, tanto institucionais e trabalhistas quanto sociais e econômicos. E se não bastassem, precisam pensar a organização dos trabalhadores na diversidade regional, nas demandas de cada categoria, nas transformações do mundo do trabalho, nas mudanças na legislação que precarizaram as condições de trabalho, além da realidade política de cada local.

O Portal CUT entrevistou diversos dirigentes das mais variadas categorias das cinco Regiões do país para ouvir  quais são os desafios que têm de enfrentar para defender a classe trabalhadora.

Movimento sindical

O Secretário de Organização da CUT Brasília, Douglas de Almeida Cunha, disse que o principal debate da Região Centro-Oeste e de todo o movimento sindical brasileiro são os ataques que contra os direitos da classe trabalhadora e contra as entidades sindicais.

“São ataques que visam destruir o meio sindical que é o legítimo representante e escudo de proteção do trabalhador para conseguirem destruir direitos conquistados com muita luta”, afirmou.

Segundo ele, é muito importante se apropriar das discussões deste encontro para sair daqui mais forte e preparado para o que vem por aí com o governo de Jair Bolsonaro (PSL) e os governos ultraliberais que estão espalhados pelo país.

“Aqui no Congresso iremos fazer debates sobre o financiamento sindical, a reestruturação e a solidariedade entre os sindicatos e a expectativa é que possamos construir um novo cenário nesta conjuntura”, afirma Douglas.

O dirigente disse que espera levar daqui propostas de ações para avançar nas negociações coletivas, nas representações nos locais de trabalho, nas questões de mulheres, racial, LGBT e juventude “para que possamos trabalhar de acordo com a realidade da sociedade e aplicar estas propostas diversas nos acordos coletivos de trabalho”.

Pauta das mulheres e educação

A professora e militante da Marcha Mundial das Mulheres da capital federal, Thaisa Magalhaes, contou que o coletivo de mulheres da CUT de Brasília se organizou para trazer o debate nacional no 13º CONCUT a questão das trabalhadoras, como a criação de mecanismos de acolhimento para mulheres que possam ter sofrido algum tipo de violência, moral, sexual ou física no trabalho, inclusive dentro dos sindicatos.

Ela destaca que quando se fala em perda de direitos e a luta por uma sociedade que seja democrática e libertadora necessariamente deve-se passar não só por criar empregos, mas pela luta por igualdade, combate às opressões e defesa de uma educação libertadora e crítica.

“A direita entendeu a estratégia da educação e isso a gente vê com avanço da militarização das escolas e da escola sem partido, que internaliza a censura e a proibição da gente poder construir uma sociedade que pensa e que lute contra opressão de gênero e por uma sociedade igualitária. Estou na torcida de que este Congresso se concentre no debate de políticas e a gente saia daqui mais fortes para lidar com os desafios do próximo período”, concluiu a brasiliense.

Exclusão social, comunicação, cultura e diversidade

Ainda em relação ao Centro-Oeste, o presidente da CUT Goiás, Mauro Rubem, cita a questão do endividamento público do país, “que massacra e acaba com a vida do povo brasileiro e exclui a população de forma cruel” de serviços em áreas fundamentais como saúde e educação, programas de habitação popular e até combate à fome.

Para ele é fundamental que a CUT assuma uma campanha sobre o tema para que esta realidade seja alterada.

Sobre a questão sindical, ele aponta três aspectos importantes que, no seu estado, os trabalhadores e as trabalhadoras da CUT têm tratado.

“Diante do esfacelamento e da pulverização nós temos que construir politicamente nossa ação sindical unitária, temos que ter uma política de comunicação para nos comunicar com 200 milhões de pessoas e nacionalizar a TVT e precisamos tratar da questão cultural, para inclusive mostrar que esse país não é como a direita está mostrando, fascista, homofóbico, que chega ao ponto de excluir o trabalhador”, afirmou Mauro.

“Nós esperamos que as experiências boas que aqui aparecerem nós possamos levar para Goiás, mas a unidade política é a expectativa maior, sem esta unidade entre nós nada funciona”, concluiu o dirigente.

Políticas locais, unidade da esquerda e financiamento sindical

A secretária de Comunicação da CUT Santa Catarina, Adriana Maria Antunes de Souza, afirma que os catarinenses vivem as mesmas políticas de Jair Bolsonaro (PSL), porque o governador Carlos Moisés, do mesmo partido, tem a mesma linha política neoliberal do governo federal.

“A gente fez muita discussão de como a CUT em Santa Catarina vai se posicionar e fazer o enfrentamento para essa política neoliberal que ataca os direitos dos trabalhadores e isso com certeza está acontecendo também em outros estados”, destaca.

Santa Catarina, segundo ela, também é o estado/berço do dono da Havan e empresário Bolsonarista, Luciano Hang, que ela chamou de “velho da Havan” e apontou como saída à unidade da esquerda no estado no sentido de resistir e enfrentar os desafios.

Segundo a dirigente, a CUT tem a obrigação de fazer o enfrentamento e com, a unidade da esquerda no estado, ela considera que será menos difícil.

E olhando para dentro da CUT, Adriana disse que “as expectativas que a gente tem, enquanto Central Única dos Trabalhadores são os direcionamentos e uma clareza de estratégia de como a gente avança para essa questão além das nossas bases”, se referindo ao eleitorado desta política neoliberal, mas que nem sempre são defensores desta política.

Adriana também destaca a preocupação sobre a questão financeira dos sindicatos, mas afirma que o financeiro não pode ser maior que a política da entidade.

“Nós temos que apontar para os dirigentes sindicais CUTistas que a questão financeira é importante, e é um problema que teremos que enfrentar, mas que a principal questão está naquilo que temos que construir politicamente com a sociedade, com os trabalhadores, com os desempregados e assim por diante”, conclui Adriana.

Legados do golpe, resistência, luta e futuro

Com o golpe de 2016, quando a presidenta Dilma Rousseff (PT) foi destituída, o Nordeste foi uma das Regiões que mais sofreu os impactos, afirmou o presidente da CUT Pernambuco, Paulo Rocha. Segundo ele, Recife antes do golpe, por exemplo, vivia em pleno emprego e agora a fome volta a assombrar os pernambucanos.

Além disso, ressalta Paulo, “a nossa expectativa é o que vamos construir de projeto de desenvolvimento para todas as regiões para eliminar a pobreza não só no Nordeste, mas de todo país. E também como vamos organizar este novo mundo do trabalho, porque se não tivermos devidamente preparados vamos sofrer muito”.

“A gente tem que aprender a conviver com tudo isso pra, mas precisamos ter políticas e é por isso que a gente está aqui, para construir essas políticas”, destacou Paulo Rocha.

Falando em futuro, a presidenta da CUT Rio Grande do Norte, Eliane Bandeira, disse que, com os ataques aos direitos trabalhistas e mudanças do mundo do trabalho, é preciso uma nova estratégia, é preciso se reorganizar e fortalecer o movimento sindical.

“A nossa principal bandeira é se reinventar para enfrentar esta conjuntura e pensar estratégias de organização para este novo modelo de trabalho, que está à nossa frente. Esse é o grande desafio”, afirma Eliane.

A presidenta da CUT Rio Grande do Norte disse que esta realidade do novo modelo de trabalho e as novas tecnologias não são desafios apenas dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras, “isso é no mundo”.

“Isso já acontece em vários lugares do mundo e a gente precisa saber como os representantes dos trabalhadores e das trabalhadoras destes países enfrentam estes desafios e a gente pensar junto com eles. E eu fiquei muito feliz de ver isso aqui, no primeiro dia de Congresso”, contou.

“E para meu estado eu pretendo levar as perspectivas de construção do futuro do mundo sindical e de enfrentamento às políticas neoliberais deste governo. E a gente estava precisando se energizar com sindicalistas de todo país e do mundo para levar na bagagem disposição de luta e neste momento é muito importante”.

Desindustrialização

Em São Paulo, a CUT foi ouvir o interior do estado para conhecer as demandas dos trabalhadores e das trabalhadoras e um dos desafios da Região. Uma das principais demandas, segundo a secretária de Comunicação da Central do Estado, Adriana Magalhães, é a desindustrialização.

Símbolo da industrialização do país, o ABC Paulista, tem tido, nos últimos períodos, a queda do Produto Interno Bruto (PIB), o aumento do desemprego e fechamento de montadoras. Além disso, pontua Adriana, o setor de serviços de plataformas tem aumentado e “temos a necessidade de termos uma mudança estatutária para que possamos olhar as cooperativas e associações de trabalhadores que surgem a partir dessas novas demandas para fortalecer a CUT e o movimento sindical”.

Juventudes: negra e do campo, meio ambiente e soberania

A Região do Norte, mas especificamente no estado do Pará, aponta o secretário de Formação da CUT no estado, Moisés Souza Santos, tem uma pauta fundamental que é a defesa da Amazônia. Para ele, a maior floresta tropical do planeta está muito visada para este governo, se referindo a subordinação de Bolsonaro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e sua ligação com o agronegócio.

“Temos que defender nossa Amazônia para o bem do clima e também em defesa da soberania e das próximas gerações”, destacou Moisés, que é membro do Coletivo Nacional da Juventude.

Ele também alerta sobre a importância de se discutir sobre a criminalização da juventude, negra, periférica e do campo.

Ele denunciou o aumento de morte no campo e do uso do agrotóxico e afirmou que a juventude está desamparada, quando se fala em políticas públicas como esporte, lazer, saúde e educação.

“Nós jovens estamos com uma dificuldade muito grande nessa questão de educação, porque o governo cortou vários benefícios da educação e nós do campo somos mais prejudicados. O jovem do campo sem bolsa de ajuda de investimento não consegue permanecer na universidade”, destacou Moisés.

Sobre o Congresso, Moisés disse que este é o momento de fortalecimento da CUT, porque “a gente vai discutir nossos objetivos, colocar nossos desafios para fora e juntos descobrirmos o mecanismo um caminho para solucionar esses nossos desafios. Vamos deste momento ruim, dar a volta por cima até a governar este país, para que nossas políticas públicas voltem e toda juventude e toda classe trabalhadora possam ser feliz de novo”.

CUT

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