Vito Giannotti: operário da palavra, mestre da escuta, militante da comunicação popular

Contee homenageia Vito Giannotti no 10º aniversário de sua morte, celebrado com o Festival da Comunicação Popular do Rio, criado em sua memória.

Nesta quinta-feira, 24 de julho, o Rio de Janeiro celebra o Dia da Comunicação Popular com mais uma edição do Festival da Comunicação Sindical e Popular, realizado pelo Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC). A data marca os dez anos da morte de Vito Giannotti (1942–2015) — metalúrgico, educador, escritor e um dos maiores nomes da comunicação popular no Brasil.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) presta sua homenagem a Vito, cuja trajetória uniu chão de fábrica e trincheira da palavra, prática sindical e formação crítica, sempre a serviço da organização e fortalecimento da classe trabalhadora.

“Vito foi um dos principais articuladores da comunicação sindical no Brasil. Compreendia que a disputa de ideias é tão central quanto a luta por salários e direitos. Sua trajetória inspira, cotidianamente, o trabalho da Contee, dos movimentos sociais e de todos que acreditam na comunicação como ferramenta estratégica de mobilização, formação e resistência”, afirma a entidade.

Do operariado à comunicação militante

Nascido na Itália em 1942 e naturalizado brasileiro, Vito chegou ao país após passar por Israel e França. Viveu experiências marcantes como pescador no Espírito Santo e depois como metalúrgico em São Paulo, onde atuou na Oposição Sindical Metalúrgica em plena ditadura militar.

Preso político em 1974, Vito jamais se afastou da luta. Por meio de boletins, panfletos e jornais de bolso, apostava em uma comunicação simples, direta e pedagógica, ancorada na vivência cotidiana dos trabalhadores. Seus textos tornaram o marxismo acessível, sem abrir mão da profundidade teórica.

Comunicar é organizar”, dizia. Para Vito, falar com o povo exigia romper com o “politiquês acadêmico” e usar a linguagem do chão de fábrica. Defendia uma comunicação popular, direta e de olho no olho.

Foi autor de mais de 30 livros, usados em formações sindicais e populares por todo o país. Entre os títulos mais conhecidos estão O que é jornalismo sindical, História das lutas dos trabalhadores no Brasil e Muralhas da linguagem. Criou ainda o jornal Luta Sindical e ajudou a consolidar o Brasil de Fato, projeto do qual era entusiasta e distribuidor incansável.

Em 1992, ao lado de sua companheira de vida e luta, Claudia Santiago, fundou o Núcleo Piratininga de Comunicação, voltado à formação de comunicadores sindicais e comunitários. Do NPC nasceu também o Festival da Comunicação Sindical e Popular, que há mais de uma década ocupa a Cinelândia com arte, ideias e resistência.

“Vito foi mais que um comunicador. Foi um formador de consciências. Um militante da escuta, um operário da palavra. Seu legado vive em cada boletim popular, em cada sindicato que resiste, em cada favela que comunica sua própria história”, conclui a Contee.

Festival une memória, saúde e cultura popular

A edição de 2025 do Festival acontece das 10h às 17h, na Cinelândia, em frente à Câmara dos Vereadores, reunindo dirigentes sindicais, comunicadores populares, artistas, sanitaristas, parlamentares de esquerda e movimentos sociais de todo o país.

Entre os destaques deste ano, está a participação do grupo de comunicadores de Rio das Pedras, Zona Oeste do Rio, que integra o curso do NPC em parceria com a Fiocruz, dentro do projeto “Comunicação e promoção da saúde em Rio das Pedras e rede de favelas cariocas”. Trechos de podcasts produzidos pelos alunos serão apresentados ao público.

Programação

Local: Cinelândia (escadaria da Câmara dos Vereadores)

Horário: Das 10h às 17h

Data: 24 de julho (quarta-feira)

Exposições

Nossas vidas importam – Coletivo Amendoeira

-Povo Maravilha – MTST-RJ

Atividades

-Barraca de livros e distribuição de panfletos

-Apresentações culturais e intervenções artísticas

Rodas de conversa:

-Venha conhecer o SUS

-A Comunicação Popular no Rio de Janeiro

-Comunicação e Saúde

E muito mais!

Legado presente

A vida e a obra de Vito Giannotti são um testemunho do poder da palavra quando colocada a serviço da transformação social. Para ele, comunicar era um ato político e pedagógico, inseparável da luta por justiça, igualdade e liberdade. Vito Giannotti deixou mais do que livros e projetos: deixou um jeito de fazer comunicação com propósito, paixão e compromisso de classe.

O Dia da Comunicação Popular é, acima de tudo, a celebração de que comunicar é um direito, uma arma potente nas mãos dos trabalhadores, das trabalhadoras e do povo.

*Com informações do Portal Brasil de Fato e do Blog Conselho Popular do Rio de Janeiro

Por Romênia Mariani

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