Vivas ao dia 8 de março: o dia internacional da luta pela liberdade
José Geraldo de Santana Oliveira*
Dentre as prodigiosas maravilhas criadas pelos seres humanos para expressar as suas imortais realizações, encontram-se os símbolos, que, muitas vezes, encerram em si as labutas, as peripécias e as conquistas de milhares de anos, produzidas, vividas e imortalizadas por quem faz a história, mas que, nem sempre, é reconhecida por ela.
Não obstante os símbolos, quase sempre, terem um marco histórico, é comum representarem, além do acontecimento que lhes deu à luz, o passado, o presente e o futuro, por seu perfeito e indissolúvel entrelaçamento com o maior de todos os valores que movem os seres humanos: a liberdade: de ser, vir a ser, ir, vir, e ficar e construir, coletivamente, é claro, que é o oxigênio da vida.
O dia 8 de março, mundialmente reverenciado com plena justiça como o Dia Internacional das Mulheres, com certeza encontra-se no pedestal dos símbolos humanos, por encerrar em si a multimilenar luta pela conquista da liberdade feminina, sem a qual a vida social esvazia-se e murcha-se como uma flor castigada pelo escaldante sol do deserto.
Apesar de o mote para a transformação do dia 8 de março no Dia Internacional da Mulher ser atribuído a um massacre de 129 tecelãs de Nova York, em 1857, queimadas vivas, marca indelével da desumanidade do já caduco e superado regime capitalista, esta data simboliza, igualmente, a bravura indômita e a colossal labuta de milhões de mulheres anônimas, de antes e de depois desta data, por todo o sempre.
Mulheres que, por falta de oportunidade, não alcançaram notoriedade, mas que foram, são e serão sempre fortes como o dia que com a sua inquebrantável força esparrama energia e vigor em todos os rincões da Terra, mesmo nos eclipses solares; serenas como a noite, que, apesar de toda a angústia que lhe causam os fantasmas que a povoam, jamais perde a calma; belas como a aurora, que, cotidiana e eternamente, derrama sobre o horizonte a sua imorredoura simpatia e incomparável graça; doces como a brisa da manhã, que, com a sua calma e incenso, contagia a todos que têm o privilégio de a receber; visionárias como a águia, pois veem para além do olhar comum; inquietas como as tempestades marinhas, que não suportam a calmaria; abnegadas como o leão, pois que ninguém nunca as ouve conjugar o verbo esmorecer; solidárias como o sabiá e o joão-de-barro, que criam, como se fossem seus, os filhotes daqueles pássaros que assaltam os seus ninhos; solícitas como a garça, que está sempre disposta e disponível para a senda diária; e valentes como o ganso, que não foge à luta, por nenhum motivo.
A estas anônimas, porém, não menos importantes e imortais, somam-se as que alcançaram notoriedade, como: Varínia, companheira de Spartacus, que liderou a revolta dos escravos, no século I, contra o Império Romano, e que foi considerada por Voltaire e Karl Marx como a única guerra justa de todos os tempos; Joana D’Arc; Chica da Silva; as mártires do massacre de Nova York; Anita Garibaldi, heroína do Brasil e da Itália; Chiquinha Gonzaga; Rosa Luxemburgo; Berta Lutz; Zuzu Angel; Florbela Espanca; Cecília Meireles; as mães da Praça de Maio, na Argentina; Mercedes Sosa; Violeta Parra; Madre Teresa de Calcutá; Irmã Dulce; e centenas de outras, cuja citação este espaço não comporta.
Aquelas e estas podem fazer suas as palavras do poeta latino Horácio: “Non omnis moriar” (Eu não morro de todo); não morrem pelos filhos – as que os tiveram – e pelas ações, seja com um fuzil, com a caneta, com a voz, com a poesia, com os punhos ou com as incansáveis marchas, em prol da construção de nova realidade social, que assegure a todos o direito à vida plena. Estas mulheres, cada uma com seus predicados, individuais e sociais, nunca faltaram à luta, portanto, à vida; pois coragem é o seu signo.
Ah! O significado e o simbolismo do dia 8 de março, como dizia o lendário Fausto, da obra com o mesmo nome, do poeta e romancista alemão Goethe: “Os vestígios dos meus dias, na terra passados, nem em milênios serão apagados”.
*José Geraldo de Santana Oliveira é consultor jurídico da Contee