Fepesp: Enem fala de racismo e traz críticos do governo

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2021 apresentou questões sem sinais aparentes de interferência política e ainda abriu espaço, no tema da redação, para discussão sobre importância do Registro Civil no país – que mensura nascimentos, óbitos, casamentos e divórcios. A avaliação partiu de cinco especialistas em educação ouvidos pelo Valor.

Os educadores foram unânimes ao destacar a importância do tema da redação, “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”, bem como os esforços dos servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela elaboração das provas, em montar uma prova “equilibrada”, nas palavras dos especialistas.

Segundo o Estadão apurou, os servidores do Inep envolvidos no processo conseguiram controlar a montagem da prova. Mesmo as questões que foram substituídas não tiveram conteúdo diferente ou manipulado. Por essa razão, professores de colégios e cursinhos têm dito que o Enem deste domingo seguiu uma linha parecida ao que vinha apresentando nos últimos anos, apesar da crise deflagrada. O professor de História João Daniel Lima de Almeida, do Descomplica, disse que ficou surpreso com a qualidade da prova, que tinha questões “muito progressistas”. “Censura passou longe”, afirmou.

Segundo relatos à reportagem, 24 questões teriam sido retiradas após uma “leitura crítica” dentro da sala segura do Enem. Algumas foram consideradas “sensíveis”. As comissões de montagem da prova sugeriram outras perguntas para substituí-las, mas o Enem acabou descalibrado – o exame tem uma quantidade de questões consideradas fáceis, médias e difíceis. Assim, 13 das questões suprimidas foram reinseridas.

O desejo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de deixar o Enem com “a cara do governo” incluiu um pedido, feito ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, para que houvesse questões que tratassem o golpe militar de 1964 como uma revolução.

O pedido de Bolsonaro teria ocorrido no primeiro semestre, segundo relatos de integrantes do governo.

Ribeiro chegou a comentar a fala com equipes do MEC (Ministério da Educação) e do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), mas não levou o pedido adiante de modo prático, uma vez que os itens passam por longo processo de elaboração.

Ex-ministros da Educação dos últimos governos afirmaram, em carta, que nunca foi vista uma “crise tão profunda” no Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) como a enfrentada no momento.

“Quando o Inep é ameaçado, perde-se o efeito de ‘Estado’, nas políticas educacionais, e fica-se apenas em questões superficiais, como as interferências ideológicas opostas ao caráter técnico”, afirmaram os ex-ministros. O texto diz ainda que a crise tornou “insustentável” com o pedido de exoneração dos mais de 30 servidores.

A carta assinada é pelos ex-ministros da Educação (em ordem cronológica): Tarso Genro – governo Lula (PT), Fernando Haddad – governo Lula (PT), Aloizio Mercadante – governo Dilma (PT), Renato Janine Ribeiro – governo Dilma (PT), Mendonça Filho – governo Temer (MDB), Rossieli Soares – governo Temer (MDB).

A reportagem analisou 24 questões que foram criticadas por políticos conservadores, como Bolsonaro, ou que abordam a ditadura militar (1964-1985). Desde 2019, início da atual gestão, nenhuma questão sobre o regime caiu na prova, e integrantes do governo chegaram a dizer que o tema seria polêmico.

Segundo especialistas, pode ser considerada uma boa pergunta aquela que consegue discriminar os participantes de acordo com o nível de conhecimento, ou seja, alunos que dominam o tema vão melhor que aqueles com pouco aprendizado na área.

Além da capacidade de discriminar participantes que dominam o conhecimento avaliado, foram levados em conta a relação entre o acerto no determinado item e nos demais, a chance de participantes de menor proficiência acertarem mais que alunos melhores e, por fim, se o item se comporta de acordo com o modelo TRI (Teoria da Resposta ao Item) de três parâmetros adotado pelo Enem para a correção das provas.

Da Fepesp

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