22 anos de privatização da Vale: crimes ambientais, mortes e trabalho precário

No dia em que completa 22 anos da privatização da Vale do Rio Doce, empresa estratégica para o Brasil no ramo da mineração e infraestrutura, os representantes dos trabalhadores e trabalhadoras de empresas estatais se reuniram na sede da CUT, em São Paulo, nesta segunda-feira (6), para debater sobre as consequências da entrega da Vale à iniciativa privada e as estratégias de luta para impedir que o governo de Jair Bolsonaro (PSL) avance com o Programa Nacional de Desestatização.

São estatais importantes, como Petrobras, Eletrobras, Correios, o saneamento básico, as ferrovias, bancos públicos, entre outras empresas estratégicas, que correm risco de serem vendidas ao capital privado se o Posto Ipiranga de Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, seguir com o programa de privatizações, que promete dar início ainda este mês.

O preço amargo da privatização da Vale

No dia 6 de maio de 1997, o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) leiloava a Vale do Rio Doce por apenas R$ 3,3 bilhões, sendo que somente as suas reservas minerais eram calculadas em mais de R$ 100 bilhões à época.

Após mais de duas décadas, os resultados, segundo estudo da subseção do Dieese da CUT, foram: exploração mineral sem relação com as estratégias de desenvolvimento nacional e local; transferência do lucro para acionistas, sobretudo de fora do Brasil; crescimento da terceirização e do trabalho precário, inclusive com trabalho análogo à escravidão na cadeia produtiva; e ampliação da degradação ambiental e dos crimes ambientais, como os rompimentos das barragens da companhia em Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais.

“Estamos falando do maior acidente de trabalho já registrado no país. Foram 19 mortos em Mariana e 235 em Brumadinho, sendo que 35 trabalhadores ainda estão desaparecidos. São tragédias trabalhistas, ambientais, sociais, e econômicas que não têm como reverter. Esse é o preço da privatização”, lamentou o secretário de Comunicação da CUT, Roni Barbosa, que também coordena o Comitê em Defesa das Estatais.

“A Vale é uma empresa estratégica e importante que poderia, nesse momento de crise, atuar como alavanca do desenvolvimento nacional. Por isso, é fundamental a atuação conjunta dos diversos ramos para barrar outras privatizações que podem ter consequências terríveis para os trabalhadores e o Brasil”.

A técnica da subseção do Dieese da CUT, Adriana Marcolino, lembra que somente o setor mineral responde por 4% do PIB nacional e os argumentos apontados pelo governo de FHC à época não justificavam a privatização.

“Para se ter ideia, o lucro líquido apenas nos exercícios de 1998 a 2000, logo após a venda, totalizou R$ 4,2 bilhões (valores históricos), antes do período do ‘boom das commodities’, em que a companhia chegou a lucrar R$ 37,8 bilhões em um único ano. E isso não por causa da privatização, mas porque a cotação do ferro, cuja Vale é a maior produtora mundial, garantiu esse resultado”, explicou.

“Com a privatização da Vale, deixou-se de aproveitar a vasta reserva de minério de ferro de alta qualidade como ferramenta estratégica de desenvolvimento nacional e local”.

Barrar a privatização das estatais

O resultado da privatização da Vale não pode ser repetido com outras estatais tão importantes quanto o setor do minério é para o país, avaliam os representantes dos trabalhadores.

“A privatização no mundo mostrou uma piora no fornecimento do serviço público e no alto custo pago pela sociedade. A Vale é um exemplo do que significa a privatização: o que importa é o lucro dos investidores que atuam no mercado financeiro e o resto, como o meio ambiente e a vida dos trabalhadores, não tem importância”, afirmou Juvandia Moreira, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da CUT (Contraf-CUT).

“Temos de atuar cada vez mais de maneira conjunta e organizada, pois o processo de privatização proposto por Bolsonaro não quer entregar uma ou outra empresa para cobrir déficit. É um projeto político com o objetivo de entregar tudo para a iniciativa privada e promover o desmonte do Estado”.

O petroleiro e também dirigente executivo da CUT, Vitor Carvalho, denunciou as medidas do governo de Bolsonaro para tentar entregar a Petrobras – já foi anunciada a venda de oito refinarias – e relembrou que a tentativa de entrega da estatal não é de hoje.

“É desde a década de 1990. Lutamos muito para que a Petrobras não fosse privatizada no governo FHC. Agora precisamos retomar essa luta e esclarecer para a sociedade que em nenhum lugar do mundo que tem refinaria privada o combustível é barato, como o governo de Bolsonaro quer fazer o povo acreditar”, disse.

Privatização mata e não resolve

Já dirigente executivo da CUT, o eletricitário Marcelo Fiori, ao relembrar as tragédias ambientais da Vale em Mariana e Brumadinho, ressaltou que a privatização mata e destrói desde 1990, quando a onda neoliberal chegou à América Latina.

“Além das mortes trágicas, que são resultado do crime ambiental, em diversos setores perdemos muitos trabalhadores por causa da precarização do trabalho, isso sem falar nas demissões de milhares e milhares de trabalhadores”.

“E quais eram as justificativas das privatizações na época?”, questiona, respondendo logo em seguida: “A desculpa foi o pagamento de parte da dívida pública interna e externa. E sabemos que isso nunca ocorreu”.

22 anos da privatização da Vale

Relembre no vídeo abaixo a luta dos movimentos sociais para impedir a privatização da Vale do Rio Doce. Em 2007, o segundo Plebiscito Popular organizado pelos movimentos sociais movimentou 3,7 milhões de votos da população brasileira, pedindo a anulação do leilão da Vale.

CUT

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