‘O Congresso Nacional está completamente apaixonado por atacar a educação’, diz professor
Para Daniel Cara, há esforço do governo para barrar cortes, que esbarra na resistência do Congresso
Para o professor Daniel Cara, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), o recente corte de R$ 4,8 bilhões no orçamento do Ministério da Educação tem impactos severos para o funcionamento de programas essenciais a partir de 2026. Segundo ele, a situação é ainda mais grave devido à forma como o programa Pé-de-Meia foi incorporado à principal rubrica de financiamento da educação básica.
“Esse recurso hoje é 12 bilhões menor, porque entrou mais um conjunto de despesas nesse recurso que já era insuficiente”, explica, em entrevista ao Conexão BdF , da Rádio Brasil de Fato . “Faz muita falta nas universidades, nas escolas, sem apoio a estados e municípios. É uma notícia bastante grave”, avalia.
Apesar de considerar o esforço do ministro Camilo Santana para liberar parte dos recursos contingenciados, Cara pondera que o valor, cerca de R$ 300 milhões, é insuficiente para a demanda dos institutos e universidades federais. Ele aponta que há um esforço dentro do governo para barrar os cortes, mas atrapalha a resistência do Congresso. “O Congresso Nacional está completamente apaixonado por atacar a educação, ele está obsessivo por atacar a educação”, critica.
O professor também se mostrou cauteloso quanto à expansão do programa Pé-de-Meia. Embora apoie políticas de distribuição de renda, ele defende que os recursos sejam mais bem distribuídos para enfrentar problemas estruturais do sistema educacional. “O Pé-de-Meia sozinho não vai fazer verão”, afirma. Cara argumenta que a prioridade deveria ser a melhoria da infraestrutura das escolas e o apoio aos estados e municípios para cumprir a lei do piso do magistério .
Sobre a proposta em tramitação na Câmara dos Deputados ( PL 2.979/23 ) que busca incluir a educação financeira como disciplina obrigatória, aprovada pela Comissão de Educação nesta segunda-feira (23), Daniel Cara a classifica como “inócua”. Para ele, o Congresso não deve legislar sobre o currículo escolar. “Se isso virar moda, daqui um pouco vai ter disciplinas completamente estapafúrdias”, alerta. Ele acredita que temas como educação financeira podem ser tratados de forma transversal dentro das disciplinas já existentes.
A educação em tempo integral também foi tema da entrevista. Para Cara, o modelo atual ainda carece de atratividade para os estudantes. “Fazer mais do mesmo com mais tempo não é bom”, opina. Ele defende uma pedagogia mais conectada com os interesses da juventude. Como exemplo, cita o programa de bombeiros Mais Educação, criado nos governos anteriores do PT, como uma boa referência por articular oficinas culturais e esportivas à formação acadêmica.
Editado por: Thalita Pires





