Dilma: ‘Ou se entende esse processo ou vamos continuar a fazer mal a nós mesmos’
São Paulo – A audiência em que a presidenta Dilma Rousseff fez sua própria defesa no Senado Federal terminou às 23h49 desta segunda-feira (29). “Peço que não aplaudam, estamos num julgamento”, rogou o presidente da sessão, Ricardo Lewandowski, enquanto dezenas de senadores se levantavam para oacionar a depoente, que começou sua participação às 9h53, com um discurso que durou 45 minutos. A sessão será retomada nesta terça, no mesmo horário.
A última exposição de Dilma foi sobre um assunto que conhece bem: economia. A advogada de acusação Janaína Paschoal quis saber por que os ajustes econômicos foram feitos em 2015, e não no ano anterior. A advogada tem repetido, duramente o julgamento, que Dilma maquiou as contas em 2014 por motivos eleitorais.
“Sinto informar a senhora, mas a crise não começou em 2014, ela se intensifica no final de 2014”, respondeu a presidenta. Com gráficos, ela mostrou à advogada que a queda nos preços da commodities começa a se tornar acentuada a partir de outubro de 2014 e que em janeiro de 2015 “há a maior queda em todos os países do mundo na área de commodities”, incluindo os preços do petróleo.
Em sua última fala, Dilma exortou os senadores a serem capazes de fazer dialogar e fazer acordos para recuperar a economia brasileira. “Acredito que o país precisa de todos vocês”, disse. Acrescentou que oposição e situação precisam ter “maturidade”. Falta de maturidade, segundo ela, é “tentar inventar crimes de responsabilidade onde não existem ou transformar a execução do gasto público num espaço de disputa que não tem consequências (positivas) para o país.”
A presidenta afirmou que, apesar de todas as dificuldades de gerir o país com o agravamento da crise, esta poderia ter sido vencida se não fosse a polarização política. “Nós teríamos conseguido superar esse processo se tivesse havido menos politização na tentativa de inviabilizar meu governo, o que começa logo após a minha eleição. Eduardo Cunha e a oposição apostaram no ‘quanto pior, melhor’. Ou se entende esse processo ou vamos continuar a fazer mal a nós mesmos”, afirmou. “Tentaram sistematicamente impedir que se aprovassem as medidas necessárias (ao governo, no Congresso).”
De acordo com Dilma, as expectativas negativas criadas e fomentadas ao longo de seu segundo mandato não podem voltar a ser alimentadas. “Não é possível que se tenha a partir de agora nenhuma posição fundamentalista.”
O advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo, afirmou que a presidenta deixou tudo “absolutamente claro” e não fez perguntas no encerramento da audiência.