Sinpro/RS: Quarentena impõe teletrabalho na educação básica
Professores do ensino privado se desafiam, desde a metade do mês de março, à prática diária de aulas e trabalhos virtuais com os estudantes durante o confinamento pela pandemia de coronavírus
Por Valéria Ochôa*
Foram duas semanas entre o anúncio das primeiras contaminações pelo novo coronavírus no Brasil, em final de fevereiro, e a opção dos agentes da saúde pelo isolamento social como forma de minimizar ao máximo a disseminação do vírus e preservar a saúde da população.
Já na metade da segunda semana de março, instituições de ensino privado atenderam ao apelo dos órgãos de saúde pela suspensão das aulas, orientando seus milhares de alunos a ficarem em casa. Foi o caso das grandes redes de ensino, como Marista, Lassalista e Dohms, e de colégios como o João XXIII e Israelita, em Porto Alegre, seguidas pelas demais instituições.
Em sintonia com as recomendações e orientações dos órgãos de saúde, o Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS) fez um apelo a todas as representações patronais (Sinepe/RS, Comung, governo do Estado, Sindepar, Sindiomas e Sindicreches) sobre a importância do confinamento também para os professores. “Ainda havia resistência de algumas instituições neste sentido”, destaca Cecília Farias, diretora do Sinpro/RS.
Se a orientação para o confinamento em março preocupou a comunidade escolar em relação ao cumprimento do ano letivo (200 dias e 800 horas), a instabilidade aumentou com o decreto do governador Eduardo Leite determinando a ampliação do isolamento social para até 30 de abril. Ou seja, 45 dias sem aulas presenciais e todas as implicações de uma pandemia, que já estava matando centenas de pessoas por dia na Itália, Espanha e, logo, nos Estados Unidos.
No dia 31 de março, o Sindicato dos Professores foi a público, em Apedido veiculado no jornal Zero Hora, destacando para a sociedade gaúcha o empenho dos professores. “A dedicação dos docentes é grande para adaptar conteúdo, gravar aulas, interagir com os alunos a distância e preservar os processos pedagógicos para manter a qualidade do ensino”, afirma o Sindicato.
A manifestação pública também criticou o início de alguns movimentos para a redução das mensalidades e o não pagamento dos salários aos professores. “São discursos falaciosos”, assegurou. E lembrou a determinação do Conselho Estadual em considerar o teletrabalho como atividades letivas.
Trabalho intenso e muitas dúvidas
“Assim que a estratégia do país com a chegada da pandemia começou a ser implementada para minimizar seu impacto na população, passamos a tratar com os sindicatos patronais, o governo do Estado e o Conselho Estadual de Educação também sobre as implicações trabalhistas e o cumprimento das atividades letivas dentro desta nova realidade”, conta Cecília.
A dirigente sindical diz que esta realidade excepcional está sendo muito desafiadora para os professores, que, ao mesmo tempo em que vivenciam com suas famílias todas as situações provocadas pela crise sanitária, medo da doença e insegurança financeira, fazem toda adaptação de conteúdos para a sistemática de teletrabalho.
“Mesmo para as grandes redes, que já têm seus sistemas implementados, porém utilizados para questões mais pontuais, as primeiras semanas foram muito tensas”, revela.
Segundo Cecília, os relatos mais frequentes dos professores expressam um volume de trabalho para além da carga horária contratada, o não fornecimento de equipamento por parte da instituição e o excesso de demandas.
A sindicalista ainda destaca o contexto dos colégios menores, que não contavam com sistemas implantados. “O Sinpro/RS está procurando acompanhar caso a caso”. E destaca: “Estamos todos vivendo uma situação inusitada no país e no mundo. É grave. Os professores também estão abalados e tendo que se adaptar à realidade, assim como os estudantes e suas famílias”.