Sinpro/RS: Questões pedagógicas e psicológicas do retorno presencial nas escolas são tema de debate
O processo do ensino-aprendizagem, a retomada da presencialidade e os impactos emocionais em professores e estudantes foram discutidos nesta quinta-feira, 8
Por César Fraga
Ocorreu na noite desta quinta-feira, 8, o segundo painel do Sinpro/RS Debates* com a temática do retorno do ensino presencial na pandemia.
Divididos em dois painéis, nos dias 6 e 8 de outubro, especialistas das áreas da medicina, epidemiologia, educação e psicologia se alternaram na discussão sobre as implicações sanitárias, pedagógicas e psicossociais que envolvem o retorno das aulas presenciais nas escolas gaúchas durante a pandemia de covid-19.
Na terça-feira, 6, no primeiro painel, Os riscos e desafios da presencialidade, foram abordadas as implicações sanitárias na reabertura das escolas.
Neste segundo debate, intitulado Os desafios pedagógicos e psicossociais, foram avaliados os efeitos do distanciamento social no processo de ensino-aprendizagem, a retomada da presencialidade e os impactos emocionais nos professores e estudantes.
Coordenado pelo professor Cássio Bessa, diretor do Sinpro/RS, o evento contou com a participação da educadora Letícia Maria Passos Corrêa, professora no Governo do Estado do Rio Grande do Sul, mestre em Educação e doutora em Educação pela UFPel; da pedagoga Maria Cláudia Dal’Igna, professora do Programa de Pós Graduação em Educação da Unisinos; e da psicóloga Roséli Cabistani, professora da Ufrgs e psicanalista integrante da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (Appoa). A mediação com o público no chat foi feita pela professora Patrícia Dyonisio de Carvalho, diretora do Sinpro/RS.
O projeto
Na abertura, o professor Marcos Fuhr, diretor do Sinpro/RS falou sobre o projeto Sinpro/RS Debates. “Estamos dando continuidade ao projeto inaugurado em 2018, quando debatemos as perspectivas do Brasil e dos brasileiros a partir das eleições ocorridas naquele ano. Em 2019, foi a vez de discutirmos a Reforma da Previdência e o futuro da aposentadoria, ocasião em que o tema estava na pauta do Congresso Nacional. E agora, mais uma vez expressando o conceito de Sindicato Cidadão, adotado pelo Sindicato dos Professores há mais de 20 anos, no sentido de ampliar a ação sindical tradicional e contribuir para a construção da cidadania, trazemos a temática das to retorno presencial nas escolas, assunto que tanto interessa à comunidade escolar e à sociedade”, resume. Depois da sua apresentação deixou já três provocações direcionadas às painelistas. “O ensino-aprendizagem foi efetivo até aqui? A retomada da presencialidade é necessária? Como estão as condições psicossociais dos professores e estudantes?”.
Apresentação
Cássio Bessa, também diretor do Sinpro/RS, antes de apresentar as painelistas destacou que o debate pretende avaliar os efeitos do distanciamento social no processo ensino-aprendizagem, bem como os aspectos emocionais que envolvem tanto docentes quanto estudantes na retomada das aulas.
“Como todos nós sabemos, no Rio Grande do Sul, por meio dos decretos estaduais e municipais, as aulas presenciais estão sendo retomadas na medida em que as cidades preenchem as condições exigidas na norma. Dentro deste cenário é que queremos debater essas questões todas”, adianta.
Crítica ao retorno imediato
“Minha identidade está diretamente ligada à questão do ensino, do chão da escola, da sala de aula. E é nesta perspectiva que eu tracei alguns dos argumentos que integram meu posicionamento no que se refere a este debate sobre o retorno do ensino presencial na pandemia. Vivemos todos um ano atípico. Estamos todos em plena pandemia. Meu posicionamento enquanto professora, vai na linha do que já disse o reitor da UFPel, no painel da última terça-feira. Entendo que não é o momento ainda. Como ele defendeu aqui, sou favorável que o retorno ocorra após o achatamento e queda dos indices de disseminação da doença. Falo isso com a tranquilidade de quem atua há muito tempo em sala de aula, tem experiência de gestão e faz pesquisa na área educacional”, explica.
“De nada adianta adotarmos posturas negacionistas, menosprezando o potencial de letalidade do novo coronavírus”. Ela destacou os aproximadamente 150 mil mortos no país e 5 mil no Rio Grande do Sul. “Não temos como falar em segurança, por mais rígidos que sejam os protocolos”, argumenta.
Presença docente e trabalho remoto
Em sua fala, a pedagoga Maria Cláudia Dal’Igna sublilhou “é louvável que em tempos sombrios e bicudos o Sinpro/RS estabeleça como tema prioritário a docência e a formação de professores e professoras”. Segundo ela, ao profissional de educação torna-se necessário assumir uma responsabilidade ética e pedagógica em todos os processos do trabalho docente: no ensino, na pesquisa e na formação.
“Decidi abordar dois pontos que considero relevantes para refletirmos. E farei isso desde a minha condição de mulher, mãe, professora, pedagoga. O primeiro ponto é a presença docente no trabalho remoto. E o segundo é o tempo pedagógico no trabalho remoto”, delimitou.
Ela citou a jornalista Eliane Brum, em uma crônica intitulada Vida de Clichê que está no livro Menina Quebrada. “Não basta apenas pensar antes de escrever na tentativa de criar algo nosso. É preciso pensar para viver algo nosso antes de repetir a vida dos outros. Com Eliane, interrogo à docência e sou convidada a pensar os desafios pedagógicos em tempos de pandemia e diante da possibilidade de retomada do ensino presencial”, provoca.
O social, o físico e o emocional
No terceiro bloco, a psicanalista e professora Roséli Cabistani destacou a diferença entre distanciamento social e distanciamento físico. “Hoje, passados quase seis meses dessa experiência (da pandemia) em nossas vidas essas diferenças não podem ser vistas de forma tão separada assim. Algumas pessoas de fato se distanciaram socialmente. Outras, apenas fisicamente. Temos diferentes formas de distanciamento e também temos muitas aproximações”, destaca.
Ela criticou a falta de uma orientação clara por parte do Governo Federal, que fez com que as medidas de combate à Pandemia sejam vistas de forma confusa pela população. “Cada governo estadual e municipal encaminha de forma diferente suas regras de cuidados e de flexibilização dessas regras”, pontua.
Ela ressaltou também, que a vida em sociedade requer “pactos simbólicos que norteiem a civilidade”. Segundo a psicanalista, o que tem ocorrido é uma ruptura desses pactos e um aumento no sofrimento das pessoas. “Um mundo que confia na ciência e na pesquisa científica é colocado em dúvida no nosso país. Cada narrativa da realidade parece se contrapor a outra que é reproduzida sem referentes que possam nos dar segurança. O sentimento de desamparo e angústia tem corrido soltos nesses tempos”, pondera.
Assista a íntegra do debate:
*O evento foi promovido pelo Sindicato dos Professores do Ensino Privado (Sinpro/RS).