Carta do Sinproep-DF ao Sinepe
Os Licenciados em Pedagogia, professores representados pelo Sinproep-DF, vêm, por meio desta carta, manifestar o seu repúdio à declaração de um membro da Comissão de Negociação do Sinepe que se dirigiu ofensivamente aos pedagogos, quando afirmou que “Quem faz pedagogia é porque não conseguiu passar de jeito nenhum em outro curso específico”. A manifestação teve como fórum a 3ª rodada de negociações salariais entre o Sinepe e o Sinproep-DF que reivindica o piso igual entre os professores da Educação Básica para o biênio 2013/2014.
Entendemos que tal manifestação possui caráter preconceituoso e discriminador, além de ser movida por uma lógica funcionalista de educação que carrega em seu discurso o tom coercitivo de quem detém o poder econômico. Cabe, ainda, dizer que a origem da discussão sobre as questões educacionais não está situada no título acadêmico que a pessoa possui, mas na possibilidade de se tornar um professor.
Nesse sentido, percebemos que a declaração do membro da comissão do Sinepe afronta o texto constitucional e fulmina fundamentos básicos da educação, quais sejam, capacidade de compreender o contexto natural e social, conhecimento sobre o sistema político, empreendimento das Tecnologias de Informação e Comunicação e apreensão da gênese dos valores da sociedade e da família.
Nesse sentido, o título de Pedagogo (com ou sem diploma), torna-se condição sine-qua-non na qual os fundamentos da educação existirão, mas não é o seu fim. Numa sociedade em que há problemas em diversas áreas do conhecimento, amplamente divulgados pela mídia, qualquer referência à Pedagogia possui eco em outras áreas que oferecem serviços à população.
Portanto, afirmar que os profissionais de pedagogia não tinham outra escolha na vida requer maior conhecimento de causa e estudo. Requer pensamento abrangente e visão in totum da sociedade. A declaração do membro do Sinepe induz ao pensamento de que as instituições particulares de Educação Básica do DF são aparelhos reprodutores de um modelo de educação insuficiente para o modelo de cidadania, mas, suficiente para mostrar resultados educacionais vinculados a resultados de aprendizagem, fins econômicos e política reversa.
Se compreendermos a docência do pedagogo como uma ação educativa não intencional, iremos permitir que a construção das relações sociais e étnico-raciais são menos importantes que as relações produtivas. Seria o mesmo que afirmar que existe uma escola que discrimina e outra que nada produz. Uma escola formada por cátedra e outra formada por pedagogos.
Por outro lado, é importante frisar que sabemos ser a sociedade construída, somente, pelas relações de produção, as quais influenciam conceitos, princípios e objetivos da Pedagogia. A educação desenvolve-se na articulação entre conhecimentos científicos e culturais, valores éticos e estéticos inerentes a processos de aprendizagem, de socialização e de construção do conhecimento, no âmbito do diálogo entre diferentes visões de mundo. Este é o texto das Diretrizes Curriculares Nacionais de Pedagogia, aprovadas pelo pleno do Conselho Nacional de Educação.
Entendemos que o curso de Pedagogia obedece ao ordenamento jurídico e satisfaz as condições legais que o elegeram na seara da Educação e trabalha com a pré-escola e com as series iniciais do Ensino Fundamental. Nesse sentido, infere-se que a declaração do representante do Sinepe refere-se aos professores que o mesmo contratou para serem professores da Educação Básica que, certamente, não são pedagogos, mas são professores com o antigo normal ou magistério.
Sabemos que a declaração do representante do Sinepe não possui autoridade constituída para avaliar efetivamente a pedagogia e, ainda, que os profissionais da educação, acima citados, fazem parte de um grupo de professores que sempre realizou práticas pedagógicas efetivas em sala de aula, trabalhou os aspectos psicológicos advindos das relações em sala de aula, empreendeu metodologias de aprendizagem com êxito e promoveu a formação de milhões de brasileiros em todo o território nacional.
Gostaríamos, dessa forma, de lembrar que o forum de negociação salarial não deveria tratar a formação profissional do pedagogo e os rumos sociais que a categoria poderia tomar, principalmente, quando se dirige a uma categoria de profissionais de forma desabonadora, injuriosa e sem critérios. Entendemos que o Sinepe comprometeu-se a aceitar o debate de forma aberta, democrática e sem represálias.
Queremos, data vênia, reiterar o histórico democrático do curso, ainda que não reluzente, e insistimos que a Pedagogia é o ato de educar, mas não é o atitude de inteira doação sem a devida remuneração. Trabalha-se com adultos, crianças e adolescentes, em uma sociedade cada vez mais midiática e dependente de educação presencial ou a distância, substrato do processo de transformação e formação de pessoas de bem, cidadãos corretos, humildes e educados.
Acreditamos que cabe à Pedagogia o processo pedagógico de educar os futuros cidadãos, independentemente da classe social, porque os futuros adultos precisam entender o mundo em que vivem e não explicá-lo. Ser pedagogo não é simplesmente dar aula, é a partir dos encontros, oferecer a oportunidade de pensar o mundo e se estabelecer em parâmetros mínimos de conhecimento, honestidade e ética.
Percebemos que a declaração do representante da comissão de negociação reacende a fogueira das vaidades que existe nas profissões ditas “bem formadas” e faz com que os profissionais do curso do curso de Pedagogia sejam inferiorizados economicamente em relação a outras categorias profissionais.
Sabemos que esse tipo de declaração consolida o desprestígio do curso e promove um pensamento daltônico sobre a educação. Por isso, urge a necessidade de informar que a Pedagogia não é o único curso que é fácil de fazer, mas é o único curso que atende de maneira objetiva a lógica capitalista de educação. Por causa de declarações como a do senhor representante do Sinepe é que temos professores: desprestigiados, mal formados e, em conseqüência, desmotivados.
Estar capacitado para oferecer uma aula de qualidade, mas que não pense nas pessoas, é uma contradição sem precedentes na história da educação. Assim, conforme a declaração do senhor representante do Sinepe, deve haver professores que não pensam no futuro dos alunos e que podem realizar “tarefas fáceis” em sala de aula. Por tudo que foi declarado, não há necessidade de formar mais professores incapacitados, mas, bem remunerados e competentes que possam, de fato, numa sala de aula.
As palavras do senhor representante do Sinepe, permitem que possamos refletir sobre as categorias de médicos, engenheiros, psicólogos, dentistas e advogados, e, até mesmo o presidente da República, profissionais que passam pelas mãos de professores. Há 40 anos, professores do normal e magistério e, na recente quadra, pelas mãos dos pedagogos.
Repudiamos a manifestação do senhor representante do Sinepe e acreditamos que o mesmo nunca esteve em uma sala de aula e não teve o acompanhamento de um professor no período de sua Educação Básica, situação suficiente para que o mesmo possa realizar comentários levianos sobre os pedagogos.
Seus comentários fomentaram a discussão sobre políticas privadas de educação que envolvem custos e lucros, substantivos distantes de um planejamento educativo, mas, muito próximos de um planejamento econômico e imperioso para garantir os lucros atuais do mercado educacional com exploração da mão de obra. Velhas roupas com novas ideologias.
Por certo, esta carta apresenta-se como meio público de conhecimento dos fatos e possa se informar sobre a atual situação da educação privada no DF, porque esta interessa a todos os cidadãos por se tratar de quantias significativas de dinheiro que são gastas todos os anos nas escolas. Todos os cidadãos têm o direito de saber que quantidade e qualidade da educação, não depende da manifestação do senhor representante do Sinepe, mas das práticas a serem adotadas pelos gestores do capital que precisam ter lucros. Então, permitam que a população tenha educação e abram mão de seus lucros.
Brasília, 15 de abril de 2013.
Helio Fabeliano Lobato Cunha
Licenciado em Pedagogia
Orientador Educacional
Do Sinproep-DF