Quem vamos eleger para o Congresso
As eleições de 2022 terão componente novo, pois o Congresso Nacional ganhou maior relevância do que tinha antes da profunda crise política que se abateu sobre o Brasil, com as jornadas de junho/julho de 2013, o impedimento da ex-presidente Dilma (PT) e a eleição, em 2018, de Jair Bolsonaro (PL)
Gilson Reis*
Diante destes elementos, o móvel (alavanca) político das eleições de 2022 vai ser também quem vamos enviar ao Poder Legislativo. Isto é, os representantes eleitos que conduzirão, com o novo presidente da República, as mudanças que precisão ser empreendidas pós-Bolsonaro, que vai deixar rastro de destruição social, sanitária, ético-moral, econômica e política para os novos atores políticos que saírem das urnas.
As instituições republicanas precisarão ser revistas, remodeladas e repactuadas, pois, a bem da verdade, se demonstraram frágeis ou enfraquecidas diante do desmantelo que foi a vitória da candidatura extremista de direita que logrou êxito em 2018.
O leitmotiv de 2022 — isto é, a ideia política, cujo valor simbólico para expressar a preocupação dominante em relação ao pleito de outubro —, serão as eleições parlamentares: deputados estaduais, federais e senadores.
Isto porque, parece não haver dúvida, tudo indica, que já está definido em quem votar para dar fim à atual gestão calamitosa. Isto, de um lado.
De outro, há profunda incógnita, do ponto de vista do progressismo, que Congresso vai surgir das eleições de 2 de outubro. Caso prevaleça a máxima atribuída ao falecido deputado Ulysses Guimarães, quando alguém criticava a qualidade do Legislativo de plantão.
Ele perguntava e respondia: “Está achando ruim essa composição do Congresso? Então espera a próxima: será pior.”
Obviamente, expresso assim, que as eleições ao Congresso e assembleias têm de estar no mesmo nível de prioridade de presidente e governadores.
Precisamos, então, alterar essa infeliz realidade. Desde a redemocratização do Brasil, em 1985, essa máxima tem prevalecido. Ano após ano, a qualidade dos chamados políticos eleitos ao Congresso tem caído à olhos vistos.
A vida ou a realidade, tem demonstrado que a assertiva é, infelizmente, verdadeira, e tem relação direta com a qualidade dos eleitores. Não existe mais o voto de opinião, segmentos isolados não elegem candidatos e as redes sociais têm peso inimaginável no processo eleitoral.
Isto para expressar que a qualidade ou falta de qualidade dos representantes políticos, na democracia representativa, tem relação direta com a qualidade ou falta de qualidade dos eleitores, que são corresponsáveis pelo perfil do Poder Legislativo. Ou seja, o Congresso perfila e representa a média da sociedade brasileira.
Que fazer
Todos os partidos, grandes, pequenos e nanicos, vão priorizar as eleições legislativas. Todos querem eleger bancadas relevantes. Os segmentos sociais e religiosos também.
O novo presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), que assumiu dia 9, a presidência da frente pela primeira vez, disse em entrevista ao portal Terra, em 10 de fevereiro, ao ser perguntado qual seria a prioridade da frente:
“Focar na eleição para ampliar a bancada com o máximo de colegas. Somos sub-representados. Somos 30% da população brasileira, e não somos 30% dos deputados, muito menos dos senadores. Precisamos melhorar a fidelização do voto de base das nossas igrejas aos nossos representantes, dar prioridade à reeleição.”
Atualmente, a bancada evangélica é composta de 115 deputados e 13 senadores.
A esquerda e centro-esquerda na Câmara não passa de 130 ou 140 deputados. No Senado, são 12 parlamentares.
Diante destes números, vai ser preciso arregaçar as mangas e ir à luta para ampliar, nas 2 casas legislativas, e assembleias estaduais, as bancadas progressistas, de centro-esquerda e esquerda. Para isso, o movimento sindical vai precisar entrar no jogo eleitoral como há muito não faz.
A pergunta é: que estamos fazendo, digo, nosso segmento, os trabalhadores em educação do setor privado, para contribuir para o aumento da representação dos assalariados no Congresso Nacional e nas assembleias legislativas?
Não se trata de retórica ou proselitismo político. Com atraso, precisamos tomar providências práticas para entrar nessa disputa, que promete ser a de nossas vidas neste terceiro decênio do século 21. Vamos voltar a este assunto novamente. Aguardem.
*Gilson Reis é professor e Coordenador-Geral da Contee