A crise do arroz e a cegueira generalizada do ultraliberalismo

As altas do arroz têm uma explicação óbvia. Mas tão óbvia que é inacreditável a maneira como a mídia cobriu o episódio, aceitando acriticamente os argumentos do Secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, e da Ministra da Agricultura Tereza Cristina. O mantra do livre mercado tornou-se uma praga que obscurece qualquer raciocínio.

Do lado de Sachsida a explicação simplista de que o governo colocou muito dinheiro nas mãos do pobre, que passou a comer mais. Do lado de Tereza Cristina, a explicação de que o produtor de arroz sofreu muito nos últimos anos e, agora, está tendo a oportunidade de se recuperar.

E os analistas se mostram solidários com os agricultores, enaltecem o livre mercado, dizendo que é assim mesmo. Não há o menor conhecimento sobre instrumentos clássicos de política de abastecimento.

O que ocorreu é simples.

  1. Com a pandemia, países que pensam em seus cidadãos seguraram as exportações, para garantir o abastecimento interno. Com isso, houve redução na oferta mundial, elevando os preços do arroz.
  2. Ao mesmo tempo, houve uma grande desvalorização do real, tornando os preços do arroz, em reais, muito mais atraentes, quando exportados.
  3. O resultado óbvio é a elevação do preço interno do produto, para se alinhar com os preços internacionais.
  4. Nesses momentos, o instrumento óbvio do governo são os estoques reguladores, mantidos pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Acontece que do impeachment para cá, o ultraliberalismo dos governos Temer e Bolsonaro levaram à redução drástica dos estoques. Confira.
  5. Ao mesmo tempo, permitiu-se a exportação indiscriminada de arroz. O resultado foi a redução da oferta e a explosão dos preços.
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Há uma lógica política nisso tudo. Ruralistas fazem parte da base política desse ultraliberalismo. Estoques reguladores atrapalham os preços, especialmente quando explodem.

É evidente que uma política pública responsável deveria ter enfrentado os problemas dos plantadores de arroz na crise, adquirido a produção para montar estoques, impedindo prejuízos maiores. Mesmo porque a produção é essencial na mesa do brasileiro. Nada foi feito, e nada se cobrou. Porque, para o discurso atual do ultraliberalismo brasileiro, cada um por si e o país que exploda.

Agora, que ocorrem os problemas, deixa-se de lado qualquer solidariedade com o consumidor e passa-se a entender com complacência os movimentos de alta.

Finalmente, para completar o ciclo, o inacreditável Ministro da Justiça, André Mendonça, manda intimar supermercados a explicar a especulação. Não tem a menor noção sobre o mercado. Os supermercados são moderadores de preços, porque interessa o volume. E preços altos de compra, significam margens menores de venda e quantidades menores.

Agora, cria-se esse círculo de prejuízos. Numa ponta, permite-se a continuidade das exportações de arroz, sem estoques reguladores. Na outra, garante a compra de arroz menos competitivo que o brasileiro.

Vamos entender melhor o IPCA e o peso do arroz no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado) divulgado nesta quarta.

No acumulado até agosto, o maior peso foi o do Grupo de Habitação, seguido por Alimentos e Bebidas e por Despesas Pessoais.

Calculou-se o peso pegando a variação acumulada no ano pelo peso do setor no último mês.

Focando nos subgrupos de alimentos, percebe-se que o aumento de Tubérculos, Raízes e Legumes foi o mais expressivo.

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Quando se concentra em Leguminosas, nota-se que as maiores altas não foram do arroz, mas do feijão fradinho e mulatinho. Embora o mais consumido, o carioca, tenha registrado queda..

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GGN

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