“A democracia para as mulheres é fundamental”, diz Lúcia Rincón

E completa: “E precisamos entender que não cai do céu”

No Contee Conta desta segunda-feira (11), a convidada foi a professora Lúcia Rincón, historiadora, doutora em Educação e presidenta da Apuc (Associação de Professores da Pontifícia Universidade Católica) de Goiás por 3 mandatos. Lúcia é também uma das fundadoras da UBM (União Brasileira de Mulheres) — entidade que presidiu de 2014 a 2017 —, integrante do Fórum Nacional de Mulheres do PCdoB e membra do Comitê Central. Foi ainda a primeira diretora de gênero da Contee.

Com o tema “A importância da democracia para a conquista de espaços, direito e remuneração”, o programa foi conduzido pela coordenadora da Secretaria de Defesa das Diversidades, Direitos Humanos e Respeito às Etnias e Combate ao Racismo, Margot Andras, e pela jornalista Táscia Souza.

Durante a conversa, Lúcia Rincón relembrou o início de sua militância e luta, durante a ditadura civil-militar. “Quando entrei na universidade, em 1971, fui procurar centros acadêmicos e de pessoas que militavam de forma clandestina. Mas foi um ano de muita repressão aqui em Goiás, então chegava, ficava ali e tentava conversar com um e com outro, mas via que não tinha clima. Por ser véspera de uma grande ação que teve aqui, com prisões, eles acabavam falando nada e eu ia embora”, detalhou a historiadora.

“Quando tenho contato com o PCdoB, em 78, já estava na universidade e vou me integrando na luta sindical e ao partido ao mesmo tempo. Isso é um processo de enfrentamentos importantes que vão até 1985, com uma grande instabilidade, quando nós temos oficialmente a queda. Esses são momentos da vida pessoal bastante significativos para mim, que era de classe média religiosa, com dois tios padres, duas tias freiras e um pai conservador. Aí eu me integro ao Partido Comunista do Brasil e me caso, em 1981 com quem me recrutou”, contou a professora, compartilhando um pouco da sua história na luta sindical e seu movimento de enfrentamento no âmbito pessoal.

Luta pela democracia

A professora explicou que, quando se fala do Estado Democrático de Direito nas escolas, temos uma lembrança importante que foi conquistada [a própria democracia] e foi muito atacada. “Neste espaço aproveito para dizer que isso não acabou, particularmente para nós das rede privada. Vou aproveitar para explicar o quão atual é essa discussão. Nós acabamos de receber um processo da universidade [PUC-GO]. Logo em 2013, quando essa reitoria se instalou, tivemos uma interpelação judicial, porque falamos, em processo de mobilização, que a reitoria era intransigente — e de fato era — e já fomos logo interpelados”, relembrou a professora.

“Hoje a Associação de Professores da PUC Goiás recebeu uma  notificação do TRT de uma ação da PUC contra  a Apuc, porque resolvemos fazer uma denúncia e fomos para as primeiras atividades do semestre com uma faixa e com um boletim, e agora estamos com programação na porta da reitoria de toda quinta-feira de manhã, dizendo que queremos diálogo e reajuste”, relatou Lúcia, classificando o ato da PUC como censura e mostrando por que a luta pela democracia continua na ordem do dia.

Margot Andras também compartilhou sua experiência. “Quando entrei na PUC do Rio Grande do Sul, em 1979, eu participava da militância e ia me metendo nos centros acadêmicos, mas acha que minha intervenção era sempre periférica, não achava que eu fizesse parte de nenhuma força ou grupo”,  Em 1982, quando os caras começam a abrir as portas dos Dops, estou descendo a rua e está subindo um rapaz que só depois fui saber que era P2 dentro da faculdade. E ele me diz: ‘Margot, eu sei que tu é uma pessoa do bem, mas lá dentro eles não sabem’. Ele descreveu minha semana inteira, com quem tinha almoçado, a quais os médicos eu tinha ido, a quais aulas eu tinha assistido… E eu achava que eu era periférica.”

A diretora da Contee comentou que, quando  ditadura militar terminou, em 1985, as pessoas achavam que naquele mesmo ano já existia democracia, porque tinha eleições para prefeito, e isso não era verdade. “Nós vemos sempre esse emaranhado de uma censura velada, nós vamos fazendo conquistas e conquistando direitos, e logo depois somos cortados”, ressaltou Margot.

Movimento de mulheres

Ainda na conversa deste Contee Conta, a professora Lúcia Rincón narrou como foi seu ingresso na luta de mulheres. “Foi na militância. Tive um homem feminista ao meu lado durante 40 anos”, se emocionou. “E na recomposição do partido, teve a história do Doca Street [assassino da socialite Ângela Diniz] e daí o movimento de mulheres pela anistia”, destacou.

“Então, no começo dos anos 80, tinha uma jornalista muito aguerrida e feminista de primeira hora, Consuelo Nasser, que criou o Cevam [Centro de Valorização da Mulher], para tratar a violência contra a mulher. A gente ajudou, mas não nos integramos ao Cevam. Aí nós criamos o Centro Popular da Mulher de Goiás. E foi um movimento muito bonito, mobilizando os bairros e com muitas mulheres”, relatou a historiadora.

Para ela, a democracia para as mulheres é fundamental e precisamos entender que não cai do céu. “Ela está no nosso enfrentamento do cotidiano, do dia a dia. Se apresenta para nós nos diferentes momentos. Uma realidade que nós tivemos da luta pela democracia é que foi a duras penas. Quanta gente teve que fugir com o filho ou sofreu ameaça de ter os filhos torturados na frente dos pais, ou quantos pais foram torturados na frente dos filhos”, lastimou.

A jornalista Táscia Souza relembrou familiares que tiveram parentes torturados ou até mesmo assassinados na época da ditadura e ressalta que a luta pela democracia e o direito das mulheres andam lado a lado.

Lúcia Rincón explicou que a luta de causas é para uma busca de ser feliz.

Assista à íntegra do programa

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