Abertura do IX Encontro Nacional dos Trabalhadores Técnicos Administrativos e Auxiliares da Contee destaca luta de classes
Além de toda a mobilização nacional, com atos nos diversos estados, a greve geral deste 30 de junho foi marcada, na Contee, por um outro importante espaço de luta e resistência: o IX Encontro Nacional dos Trabalhadores Técnicos Administrativos e Auxiliares da Confederação, que tem como tema “Na luta de classes não há empate: nenhum direito a menos!”. Como não podia deixar de ser, depois de um dia de manifestações nas ruas de Belo Horizonte, cidade que sedia o encontro, o debate de conjuntura realizado à noite, na abertura dos trabalhos, refletiu a necessidade da continuidade do enfrentamento ao golpe e aos ataques aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.
“Nosso encontro se inicia num dia importante para a classe trabalhadora, de manifestações em todo o país”, declarou o coordenador-geral da Contee, Gilson Reis, que, apesar da instabilidade do momento, destacou a posição firme da entidade de manter a convocação para a greve desta sexta-feira e a realização do encontro. Diante dos três “brindes” de ontem e hoje – o retorno de Aécio Neves (PSDB-MG) para o Senado, a soltura do ex-deputado Rocha Loures (PMDB-PR) e o retorno de Demóstenes Torres (DEM-GO) para o cargo de procurador do Ministério Público do Trabalho de Goiás –, Gilson ressaltou que tanto a greve quanto o encontro mostram que a Contee está sintonizada com os trabalhadores brasileiros. “Não somos aqueles que vão abaixar a cabeça diante das primeiras dificuldades. Nossas entidades e a Contee estarão nas trincheiras para enfrentar as adversidades. Com muita dificuldade, mas com muita confiança na luta”, afirmou.
Dando boas-vindas aos participantes de outros estados, a presidenta do Sindicato dos Auxiliares de Administração Escolar de Minas Gerais (Saaemg), Rogerlan Augusta de Moraes, também frisou a importância da unidade neste momento de adversidade. A diretora afirmou que o encontro também reflete a luta nacional, na qual a participação de cada um, mas ainda o retorno deste debate à base é primordial.
Já o presidente da Federação Sindical dos Auxiliares de Administração Escolar do Estado de Minas Gerais (Fesaaemg) e coordenador da Secretaria de Assuntos Jurídicos da Contee, João Batista da Silveira, tratou da situação específica dos técnicos administrativos e auxiliares, categoria muitas vezes invisibilizada e que já sofre, há tempos, com prejuízos trabalhistas provocados, por exemplo, pela terceirização – e que se agravam diante dos ataques atuais.
“Nossa tarefa é tirar forças de onde parece não ter e caminhar. Espero que a gente saia fortalecido deste encontro”, considerou João. Em sua fala, o diretor ressaltou o debate que será realizado amanhã (1º) sobre plano de cargos e salários. “Nosso trabalho na escola é muitas vezes invisível. O aluno chega à sala arrumadinha, mas não sabe que alguém esteve limpando até 11h da noite para que esteja arrumadinha. É esta categoria que temos que lutar para ter um plano de cargos e salários. Este encontro é para tirar também um rumo para esta categoria.”
Conjuntura política
Para chegar a esse debate específico para uma categoria de extrema importância para a educação, o IX Encontro Nacional dos Trabalhadores Técnicos Administrativos e Auxiliares da Contee fez a opção, como tem sido adotado em todas as atividades da Confederação, de lançar um olhar sobre o cenário conjuntural como um todo, discussão imprescindível, sobretudo nesta sexta-feira de greve geral. Para isso, a mesa de abertura – conduzida pelo coordenador da Secretaria da Políticas Sindicais da Contee e responsável pela comissão organizadora do encontro, Manoel Henrique Filho – contou com a participação de Beatriz Cerqueira, presidenta do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE) e da Central Única dos Trabalhadores no estado (CUT-MG), e de Valéria Morato, presidenta do Sindicato dos Professores de Minas Gerais (Sinpro Minas) e diretora da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil estadual (CTB-MG).
“É essencial que não nos esqueçamos que vivemos um golpe de Estado no Brasil”, observou Beatriz, fazendo uma análise do contexto internacional e nacional que levou à destituição da presidenta Dilma Rousseff no ano passado e toda a destruição de políticas públicas e direitos sociais do último ano. “A caracterização do golpe não veio só pelo Parlamento, mas também pelo Judiciário, pelos meios de comunicação e pelo empresariado. E o objetivo do golpe não foi a Dilma, o Lula ou o PT. O objetivo somos nós. É implantar um outro Estado brasileiro. Um Estado que não nos cabe.” Daí, segundo ela, a tática de criminalizar as pautas progressistas e os movimentos sociais: “Nenhuma ruptura democrática perdura com gente gritando que é golpe, fora Temer, diretas já”.
Valéria também fez uma contextualização da atual conjuntura brasileira no cenário internacional, mostrando que “o impeachment faz parte de um processo de recolonização da América Latina”. Ela também traçou um retrospecto das mobilizações vitoriosas promovidas ao longo deste ano, da greve geral do 15 de março até a realizada hoje. “A repressão naquele #OcupeBrasília veio para a cima de nós porque éramos milhares e estávamos fortes”, declarou. “Quem pensar a sério a relação entre essas reformas e a situação atual do país não pode fugir da obviedade: Temer não tem nenhuma condição de conduzir nenhuma reforma. E os parlamentares pendurados na Lava-Jato também não têm condições de votar nada. As festejadas melhoras econômicas não têm a menor solidez.”
As conclusões das debatedoras e também dos participantes da plenária, que fizeram suas intervenções, apontam para um mesmo caminho: é essencial que a mobilização, a unidade, a resistência e o enfrentamento às reformas trabalhista e previdenciária continuem. “Sozinho a gente não vai dar conta. Por isso, a importância das frentes”, considerou Beatriz. “É importante fazer a luta de categorias, mas temos que retomar a luta de classes.” Valéria, por sua vez, salientou que “só com a pressão popular é possível fazer a reversão desse quadro de revezes aos trabalhadores”. “Nós, que estamos aqui nesta sala, não temos o direito de esmorecer.”
Por Táscia Souza
Fotos: Alan Francisco de Carvalho e Cristina Castro